Nunca mais poderei engravidar? Terei que passar por cirurgia? Apresento maior chance de desenvolver câncer no ovário? Essas são algumas das perguntas que preocupam pacientes diagnosticadas com endometriose, um distúrbio em que o tecido que reveste o útero acaba crescendo fora dele.
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Por isso, o Sempre Família preparou uma lista com as principais dúvidas a respeito dessa doença, e quem responde os questionamentos é a ginecologista e obstetra Juliana Olavo Pereira, médica credenciada na Paraná Clínicas e especialista no tratamento da endometriose pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Confira:
Essa é uma doença silenciosa, sem sintomas?
Depende. A endometriose é uma doença heterogênea, ou seja, existem mulheres que não apresentam sintomas, outras com sinais inespecíficos e aquelas com sintomas exuberantes. E essa diferença nem sempre está associada com a gravidade da doença. Por isso, ainda que a prevalência da endometriose seja de aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva, estudos estimam que a taxa seja maior, com muitos diagnósticos ainda não realizados.
Como a endometriose é diagnosticada?
O diagnóstico definitivo costuma ser estabelecido após a visualização de lesões durante a cirurgia laparoscópica e biópsia. Porém, com a evolução da tecnologia dos equipamentos de imagem e a especialização dos médicos atualmente, a confirmação já pode ser realizada em muitos casos sem a necessidade de um procedimento cirúrgico.
A endometriose está ligada ao desenvolvimento de câncer no ovário?
Alguns estudos encontram aparente relação entre a endometriose ovariana e o câncer epitelial de ovário. No entanto, a endometriose não é considerada uma lesão pré-maligna e não se recomenda o rastreamento, já que não existem dados mostrando que a remoção da lesão reduza o risco do câncer se desenvolver. O que auxilia nessa prevenção é o uso de contraceptivo via oral.
Quais os principais sintomas da endometriose?
Entre os sinais mais comuns estão cólicas menstruais, dor na relação sexual, dor crônica diária e infertilidade. Sintomas menos comuns incluem sangramento uterino anormal, dor lombar, fadiga crônica e disfunção intestinal e urinária, como, por exemplo, dor para evacuar e urinar, constipação, diarreia e vômitos.
Mulheres com endometriose podem engravidar?
Estudos estimam que 30% a 50% das mulheres com endometriose apresentem infertilidade, ou seja, essa doença diminui a chance de gravidez, mas não torna a gestação impossível. Muitas mulheres engravidam espontaneamente, outras necessitam de cirurgia e algumas realizam tratamentos específicos e individualizados com especialistas em fertilidade. O que deve ser destacado é que toda infertilidade precisa ser investigada, pois, às vezes, existe outra causa para a dificuldade de engravidar.
A gravidez cura endometriose?
Não. Durante a gestação, os sintomas são amenizados ou somem por conta do bloqueio hormonal que ocorre na gravidez. Porém, as lesões continuam ativas.
A doença acaba depois da menopausa?
A maioria das mulheres percebe redução nos sintomas durante essa fase da vida, mas não são todas. Além disso, não se sabe se a endometriose pós-menopausa é decorrente de lesões prévias ou se há o aparecimento de novas lesões. Inclusive, os sintomas podem aparecer tanto em mulheres que realizam terapia de reposição hormonal como nas que não fazem.
Mulheres com endometriose devem evitar atividade física?
Pelo contrário. A prática de exercícios físicos faz parte do tratamento e do controle da doença, pois é essencial para o bem-estar físico e emocional da paciente. A redução do estresse, por exemplo, diminui os sintomas da endometriose e atua na regulação hormonal que poderia impactar negativamente na doença. Além disso, a endorfina liberada durante as atividades físicas também tem efeito vasodilatador e analgésico.
Toda paciente com endometriose precisa de cirurgia?
Antigamente era comum a mulher com endometriose passar por tratamento cirúrgico, e existem até relatos de pacientes que se submeteram a cirurgias repetidas, algo inaceitável atualmente. Hoje, a recomendação é uma única intervenção cirúrgica, e apenas para casos em que a dor for persistente e não melhorar com medicamentos, se os sintomas limitarem alguma função ou ainda nos casos de anormalidades anatômicas, como endometriose no trato urinário. Já para infertilidade, a cirurgia pode melhorar a taxa de gestação e reduzir as dores, mas, se a paciente não apresentar dor, o recomendado é a fertilização assistida.
A endometriose tem cura?
Depende. Após o tratamento cirúrgico, todas as lesões são retiradas, mas elas podem voltar. Já existem casos de mulheres que apresentaram regressão espontânea das lesões, mas o motivo não é conhecido. Então, cabe a nós controlar os sintomas com medicamentos para dor e para o bloqueio hormonal.
A falta de tratamento da endometriose pode fazer com que a doença atinja outros órgãos?
A maioria das pacientes terá a doença estável ou até regressiva com o passar dos anos. No entanto, estima-se que 30% a 45% das mulheres sem tratamento apresentem lesões mais severas que podem atingir outros órgãos, como bexiga e intestino.
E dá para prevenir a endometriose?
Ainda não sabemos nem o que causa a endometriose, nem o que faz a doença progredir, regredir ou permanecer estável. Mas temos conhecimento de fatores de risco, como nunca ter engravidado, ter a primeira menstruação precoce, apresentar menopausa tardia, ciclos menstruais curtos, fluxo menstrual intenso, obstrução do fluxo menstrual (em mulheres com malformações uterinas) e alto consumo de gordura insaturada. Sabemos também que o risco é menor em mulheres que passaram por gestações múltiplas, com período reprodutivo mais curto, mais tempo de lactação de seus filhos ou que consomem ácidos graxos Ômega 3 de cadeia longa, obtidos pelo consumo de peixes, algas ou por meio de suplementação.