Dor persiste por mais de três meses é considerada crônica, trazendo impactos psicológicos e sociais.
Dor persiste por mais de três meses é considerada crônica, trazendo impactos psicológicos e sociais.| Foto: Bigstock

Dor lombar, cervical ou na cabeça são queixas comuns de serem encontradas nas pessoas ao nosso redor, isso se nós mesmos não as tivermos. Infelizmente, a grande maioria não procura descobrir sua causa, nem mesmo um tratamento adequado, fazendo com que os incômodos se perpetuem por muito tempo.

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O que muitos não sabem é que, se uma dor persiste por mais de três meses, é considerada crônica, com a sensibilização do sistema nervoso, trazendo impactos não só na disposição, mas também psicológicos e sociais. E nem toda dor crônica é igual. Há variações em relação ao tempo e ao mecanismo neurofisiológico.

A dor crônica, segundo Thais Brito Vilela, psicóloga especialista em dor pelo Hospital Albert Einstein, pode não ter fator desencadeante, e assim considerada primária, como também pode ser consequência de outra doença, como uma lesão causada por um tumor, ou seja, secundária.

Além disso, Thais relata que algumas pessoas se queixam de dor contínua e sempre presente, outras afirmam que ela é recorrente com fases agudas e intervalos sem dor, enquanto outras experimentam dores contínuas com pioras agudas. “A identificação de dor aumentada a partir de estímulos que causam dor, que não são dolorosos, persistente de três a seis meses, que impactam sobre a qualidade de vida do paciente, sugerem uma dor como crônica”, explica a psicóloga.

Fatores de predisposição

Traumas, estresse, medo, catastrofização e ausência de suporte social são considerados fatores de risco para o aumento do sofrimento e desenvolvimento de dor crônica, conta a especialista. Assim como uma dor aguda mal tratada também pode levar ao desenvolvimento de uma crônica.

A profissional alerta que doenças psicológicas como a depressão, ansiedade e angústia são consideradas predisposições da transição de dor aguda para crônica. Inclusive, o sedentarismo, sobrepeso, assim como má qualidade de sono e fatores familiares também podem contribuir para o acometimento da enfermidade, segundo o médico Herberth Duarte Cavalcante, especialista em dor.

O diagnóstico é clínico e, em muitos casos, não é necessária a realização de exames de imagem. Contudo, sempre deve ser realizado sob avaliação médica, já que devem ser excluídas outras enfermidades que também podem causar sofrimento.

Prevenção

Thais conta que não existe forma, atualmente, de identificar o que determina a cronificação da dor em uma pessoa e não em outra. “Temos estudos demonstrando fatores genéticos como possíveis determinantes, como no caso da enxaqueca e da fibromialgia, mas ainda precisamos realizar mais estudos para ir nessa direção”, diz.

Contudo, a manutenção de exercício físico, dietas ricas em verduras, legumes, frutas, grãos e cereais integrais, manutenção de exames laboratoriais, sono de qualidade, entre outros hábitos podem diminuir o risco do desenvolvimento de uma dor crônica, segundo a especialista.

Também, o tratamento de uma dor aguda, sem ser negligenciada, em casos de dor pós-operatória ou após lesões, são imprescindíveis para evitar o desenvolvimento de sua cronicidade.

Tratamento

Segundo Cavalcante, o tratamento é multidisciplinar e deve ser realizado por uma equipe profissional, composta de médico, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista e educador físico, se possível. Além dos medicamentos, que evoluem a cada dia, há procedimentos de intervenção que contribuem de forma significativa com uma melhoria no quadro do paciente, como acupuntura, conta o médico.

A psicoterapia, por exemplo, é considerada um dos tratamentos mais importantes da dor crônica. “Por gerar impactos em diferentes âmbitos da vida, as pessoas acabam perdendo o contato com uma rotina organizada, podendo desenvolver um medo intenso do movimento, se isolando socialmente, com dificuldades de se reconhecer como pessoa depois da cronificação da dor, além de precisarem lidar com novas limitações”, explica a psicóloga.

Além disso, o exercício físico é muito mais do que uma ferramenta para lidar com a dor, ele é uma forma essencial de tratamento, já que libera substâncias endógenas capazes de melhorar a supressão da dor. Pacientes com dor crônica podem, por uma reação natural do organismo, manter-se inativos. Muitos evitam iniciar alguma atividade física considerando a dor que sentem, enquanto outros podem até mesmo desenvolver medo de se movimentar, por receio de agravar o seu quadro doloroso.

“O ideal é fazer o paciente entender a importância do processo e do desenvolvimento do micro hábito de se exercitar. A ideia é enfraquecer o ciclo de nenhuma atividade, seguido de excesso de atividade e voltando para a inatividade. Esse ciclo sim é maléfico. O exercício físico não”, pondera Thais.

Assim, o início das atividades pode ser de maneira gradativa, com a ajuda de profissionais que entendam a condição do paciente e exercícios que proporcionem um desenvolvimento e melhora, sem depender da motivação.

Impactos na qualidade de vida

Dor crônica e transtornos psiquiátricos estão fortemente associados, alerta Thais. Além de um poder levar, manter e intensificar o outro, ambas as condições possuem mecanismos neurofisiológicos parecidos.

Sentir dor diariamente pode acarretar impactos físicos e sociais, dificuldades de relacionamento, problemas econômicos, que envolvem gastos diretos e indiretos com a dor, diminuição da sensação de capacidade, isolamento social, além de associar-se à depressão, ansiedade e abuso de analgésicos.

Contudo, após um tempo convivendo com a dor crônica, pode haver modificações no modo de perceber a vida e as próprias necessidades. Lidar com a dor crônica, orienta a psicóloga, envolve conviver com ela, viver apesar da sua presença e seguir com os planos de vida, mesmo que seja necessário recalcular a rota com frequência. É possível, portanto, criar estratégias de enfrentamento eficazes e autogerenciamento da dor.

O contato com crenças limitantes, com comportamentos disfuncionais e com a sua história antes e depois da dor, pode ser um caminho para o desenvolvimento de maior flexibilidade psicológica e logo, mais vida. “Muitas pessoas desenvolvem, por inúmeros motivos, a capacidade de conviver com os dias difíceis que a dor crônica gera. Dor sempre foi e sempre será uma experiência desagradável, mas se ela não toma conta de tudo o que é importante para você, é possível ter uma vida com significado”, conclui Thais.

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