Com duração, intensidade e sintomas diferentes dos apresentados pelos adultos, a enxaqueca é a causa de dor de cabeça recorrente mais comum em crianças. Com prevalência que vai de 2% em pré-escolares a até 30% em adolescentes, uma em cada cinco pessoas com enxaqueca tem o primeiro episódio antes dos 5 anos de idade.
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Em adultos, se uma crise típica pode ou não envolver aura, ser uma dor intensa, afetar um lado da cabeça, ser latejante, associada a vômitos e fotofobia, na criança podem surgir também outros sinais. “Cólicas abdominais recorrentes (enxaqueca abdominal), vômitos cíclicos, vertigem, torcicolo, associados ou não a dores em ambos os lados da cabeça, mas com duração e intensidade mais brandas do que em adultos”, diz o neuropediatra Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe.
Reportar sintomas
No esforço pelo diagnóstico, o médico deve ficar atento ao relato da criança, pois ela não tem recurso suficiente para descrever, em detalhes, os sintomas.
“Ela não vai saber se lateja, não vai saber dizer que sente incômodo com a luz e náusea, mas entendemos pelo seu comportamento. A luz incomoda, por exemplo, quando ela relata querer ficar no quarto, no escuro e no silêncio quando em dor de cabeça. Se ela diz que não come como antes, provavelmente pode ter náusea pela enxaqueca”, diz o neurologista Paulo Faro, do Instituto de Neurologia de Curitiba.
Segundo Farias, o ideal é colher relatos acurados de familiares sobre a dor e possíveis gatilhos das crises. “E aí se destacam hábitos alimentares, sono, comportamento nos períodos entre e durante as crises, períodos de maior ocorrência (provas) e de preocupações excessivas”, diz.
Entre adolescentes
Entre os mais velhos, são os indivíduos na faixa etária dos 12 anos os que mais frequentam o consultório do neurologista Paulo Faro. Segundo ele, as dores de cabeça não têm relação com o processo de crescimento, mas têm incidência aumentada na puberdade. Em idade pré-escolar é mais comum a ocorrência em meninos. Na adolescência, é mais comum em meninas.
“A frequência da enxaqueca em crianças meninos e meninas é semelhante, mas na puberdade triplica entre meninas, pela produção de progesterona e estrógeno, que têm relação direta com a enxaqueca”, diz ele, assinalando que em mulheres as dores são mais intensas.
Obesidade piora
Criança e adolescente obeso podem desenvolver enxaquecas crônicas e ter crises episódicas mais intensas e frequentes, por ser fator de risco para cronificação. “A obesidade é uma doença metabólica e inflamatória, que causa liberação de substâncias pró-inflamatórias que agridem o cérebro, já mais sensível entre enxaquecosos, causando mais dores”, diz Faro.