Neste domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu a aprovação do uso emergencial de duas vacinas no Brasil. A Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac; e a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e farmacêutica AstraZeneca, produzida pela Fiocruz.
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Embora as vacinas adotem estratégias diferentes, um ponto em comum nas duas é a facilidade de logística: nenhuma exige mais do que refrigeração comum para ser armazenada.
Confira mais detalhes sobre cada um dos imunizantes:
Coronavac
Desenvolvida pela farmacêutica Sinovac, na China, a vacina chamada de Coronavac está sendo produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. A aprovação do uso emergencial, pela Anvisa, se refere a seis milhões de doses importadas. Boa parte será distribuída pelo Ministério da Saúde aos estados.
O Instituto Butantan solicitou, ainda nesta segunda-feira (18), a liberação do uso emergencial das doses produzidas no Brasil. São, até o momento, 4,8 milhões de doses feitas no país.
A Coronavac usa a estratégia de "vírus inativado" para ensinar o sistema imunológico a se defender da Covid-19. Nessa abordagem, os pesquisadores cultivam o novo coronavírus em laboratórios de alta segurança e, na sequência, inativam cada um dos vírus por meio de processos químicos ou físicos, como o calor.
Uma vez que o vírus está inativado, ele é purificado e transformado em vacina. Dentro do organismo, o sistema de defesa aprende a reconhecer características do coronavírus inativado, e a se defender caso encontre a versão real dali para frente.
Essa estratégia é considerada clássica na produção das vacinas, chamadas de vacinas de primeira geração. Embora tenha um alto custo e o processo de produção seja mais demorado, os poucos efeitos adversos são conhecidos. A vacina da gripe, a influenza, por exemplo, usa da mesma abordagem, além da hepatite A, raiva e poliomielite injetável (VIP).
Além do Brasil, a Coronavac foi testada na Indonésia e Turquia, e apresenta uma eficácia média de 50,4%. Contra casos leves, a vacina mostrou uma eficácia de 78% e de 100% para casos graves e moderados — embora o próprio Instituto Butantan destaque ainda não haver dados suficientes para confirmar esse valor expressivo.
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A vacina será aplicada em um regime de duas doses. Nos estudos clínicos, o intervalo de aplicação foi de 14 dias, mas talvez esse período aumente, de acordo com decisões das autoridades, visando aumentar o número de vacinados no país. No Reino Unido, o Comitê de Vacinação e Imunização do país autorizou um intervalo máximo de 12 semanas para as vacinas da Pfizer/BioNTech, que nos estudos clínicos aplicou a vacina em um intervalo de 21 dias; e da Universidade de Oxford/AstraZeneca, que nos estudos foi aplicada em um intervalo de 28 dias.
Sobre os efeitos adversos mais identificados nos voluntários dos estudos clínicos, o Butantan lista:
- Dor no local da aplicação;
- Dor de cabeça após a primeira dose;
- Não foram identificados efeitos adversos considerados graves.
Oxford/AstraZeneca
O nome oficial é AZD1222 ou Covishield, na Índia, mas o imunizante ficou mais conhecido como a vacina da Universidade de Oxford e da farmacêutica AstraZeneca, as desenvolvedoras. No Brasil, é também chamada de a vacina da Fiocruz, instituição responsável pela produção no país.
Ao todo, dois milhões de doses da vacina já podem ser aplicadas no Brasil, após a aprovação do uso emergencial pela Anvisa. No entanto, essas doses — importadas do Instituto Sérum, na Índia — ainda não foram enviadas ao país.
Para que a Fiocruz inicie a produção do imunizante em solo brasileiro, também falta um detalhe: os insumos ainda não chegaram do fornecedor da China. Para que essas doses sejam aplicadas nos brasileiros, também será necessária uma nova aprovação pela Anvisa.
A vacina de Oxford/AstraZeneca/Fiocruz usa de uma estratégia diferente da Coronavac para enganar o sistema imunológico, e ensiná-lo a combater a Covid-19. Trata-se de um vetor viral não replicante.
Nessa abordagem, os pesquisadores usam outro vírus — no caso um adenovírus, responsável pelo resfriado comum em chimpanzés — e retiram dele toda a carga genética. Na sequência, inserem informações genéticas sobre o coronavírus, e o adenovírus se transforma em uma espécie de "fantasia" ou um "cavalo de Tróia" do bem.
Além da vacina da Fiocruz, a vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, na Rússia, também faz uso da mesma abordagem, com uma diferença: em vez de usar o mesmo adenovírus nas duas doses, a vacina Sputnik V usa dois adenovírus diferentes, um em cada aplicação.
Nos estudos clínicos de fase 3, a vacina apresentou uma eficácia média de 70%. No entanto, os pesquisadores identificaram outros dois valores de eficácia, depois de um erro na aplicação das doses entre os voluntários.
Parte das pessoas que recebeu a vacina, e não o placebo, foi aplicada com meia dose, na primeira injeção, e a dose completa na segunda. Desta forma, parte das pessoas recebeu uma dose e meia. No restante do grupo, as duas doses foram aplicadas de forma completa.
O que chamou atenção dos pesquisadores foi que as pessoas que receberam uma dose e meia apresentaram valores de eficácia de 90%, enquanto que quem recebeu as duas doses inteiras tiveram 62% de eficácia. A diferença fez com que a AstraZeneca iniciasse um novo estudo clínico e, depois da sugestão do Instituto Gamaleya para que as vacinas fossem combinadas, a ideia vai sair do papel.
Os valores de eficácia da vacina de Oxford foram publicados na revista científica Lancet em dezembro. O regime de aplicação é de duas doses, com intervalo de 28 dias. Assim como a vacina Coronavac, esse intervalo pode sofrer alterações, de acordo com as orientações dos governantes.
A vacina foi testada, além do Brasil, no Reino Unido e na África do Sul. Os primeiros países a aprovarem o uso foram Argentina, El Salvador, Índia, Marrocos, Reino Unido e República Dominicana.