Pesquisadores norte-americanos estimam que, para conseguir manter o controle do novo coronavírus, talvez seja necessário que a população continue as medidas de distanciamento social, ainda que de forma intermitente, até 2022. Isso se não houver nenhuma forma de prevenção, como uma vacina, disponível nos próximos meses.
Os dados da pesquisa, divulgada nesta terça-feira (14) pela revista científica Science, levaram em consideração o cenário dos Estados Unidos e visam prevenir que o número de doentes ultrapasse a capacidade do sistema de saúde do país.
Os pesquisadores deixam claro que entendem o impacto do distanciamento social nas questões econômicas, mas reforçam o "dano catastrófico no sistema de saúde que está previsto caso o distanciamento não tenha efeito e/ou não seja realizado por tempo suficiente".
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard avaliaram uma série de cenários de como o vírus poderia se espalhar pelos próximos cinco anos. Essas estimativas levaram em consideração algumas variáveis. Por exemplo: se a pessoa recuperada da doença desenvolve, ou não, uma imunidade de curto ou de longo prazo – dúvida que ainda persiste entre os especialistas.
Ainda sem muitos dados sobre o novo coronavírus, os especialistas se basearam em informações de como outros vírus da mesma categoria do Sars-Cov-2 se manifestam entre a população. "Nós usamos estimativas de sazonalidade, imunidade e imunidade cruzada para betacoronavírus OC43 e HKU1, a partir de dados de séries temporais dos Estados Unidos, para formar um modelo de transmissão do SARS-CoV-2", afirmam os pesquisadores no artigo.
Sars-Cov-2: até quando?
Segundo os pesquisadores, surtos recorrentes da doença provavelmente vão continuar a ocorrer depois desse surto inicial, que deve ser uma onda mais severa da pandemia. E é improvável, conforme eles, que o Sars-Cov-2 seja eliminado completamente.
Os modelos calculados sugerem que a doença se apresente de forma cíclica, seja todos os anos, a cada dois anos ou ainda esporádica. Caso não se tenha nenhuma forma de intervenção, especialmente uma proteção por meio de vacinas, uma métrica-chave para identificar o sucesso do distanciamento social será observar se a capacidade do sistema de saúde foi, ou não, excedida, segundo os pesquisadores.
"Para evitar esse cenário, o distanciamento social prolongado, ou intermitente, pode ser necessário até 2022. Intervenções adicionais, como aumentar a capacidade de atendimento crítico e de terapias efetivas, poderiam aumentar o sucesso do distanciamento intermitente e acelerar a imunidade herdada", explicam os pesquisadores no estudo.
Eles ainda argumentam que estudos longitudinais (por um longo período de tempo) e sorológicos (capazes de identificar se a pessoa desenvolveu anticorpos contra o novo vírus) são urgentemente necessários para determinar a extensão e duração da imunidade do Sars-Cov-2. "Mesmo em um cenário de aparente eliminação, a vigilância do SARS-CoV-2 deve ser mantida visto que um retorno no contágio pode ser possível até mesmo em 2024", alegam os pesquisadores.