Dietas restritivas podem desencadear transtornos alimentares, como compulsão alimentar, anorexia nervosa e bulimia nervosa.| Foto: Bigstock
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Este é o primeiro texto de uma série que abordará alguns dos transtornos alimentares. O Sempre Família publica um novo material sobre o assunto toda sexta-feira e, na próxima semana, apresentaremos o transtorno de compulsão alimentar.

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Sentir-se pertencente a um grupo, usar um vestido especial no casamento ou na formatura, ir à uma viagem com os amigos ou até mesmo a chegada do verão. Muitos são os motivos que levam as pessoas, principalmente mulheres e adolescentes, em busca de um corpo “perfeito”, a se submeterem a dietas restritivas, com baixo aporte calórico.

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Mas, cuidado! Nem toda dieta gera transtorno alimentar, porém quase todo transtorno alimentar iniciou-se em uma dieta. O alerta é da psicóloga Priscilla Leitner, especialista em comportamento e transtornos alimentares. Dietas restritivas mal orientadas, sem indicações clínicas e acompanhamento profissional podem desencadear transtornos alimentares, como compulsão alimentar, anorexia nervosa e bulimia nervosa.

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“Nosso organismo não sabe se estamos querendo perder peso ou se realmente há uma falta de comida. Então ele reage a essa condição, tentando recuperar o que perdeu e voltar ao que estava acostumado, e aí se inicia uma compulsão alimentar como forma de sobrevivência. Por se decepcionar com o episódio compulsivo, retorna a fazer outras dietas restritivas, transformando num ciclo vicioso”, explica o psiquiatra Glauber Higa Kaio, mestre em transtornos alimentares pela Unifesp.

Transtornos alimentares que podem ser causados pelas dietas exageradas

Anorexia e bulimia nervosa, e o transtorno de compulsão alimentar sempre têm início com uma dieta restritiva.

A pessoa com anorexia nervosa tem uma preocupação intensa com a imagem corporal, podendo ter uma distorção de seu próprio corpo, acreditando estar com peso excessivo, mesmo com baixo peso e muito magro, critério físico exigido para o diagnóstico. “A ingestão insuficiente de alimentos leva o paciente a disfunções eletrolíticas, cardiovasculares e hormonais, podendo acarretar outras doenças físicas, mentais e até mesmo ao óbito”, destaca Priscilla.

Na bulimia nervosa a pessoa apresenta compulsão alimentar, perdendo o controle e ingerindo uma grande quantidade de comida, muito além do normal, se comparado a outra, durante o mesmo período e numa mesma situação, explica Higa Kaio. Após a compulsão, ela tem sempre um comportamento compensatório, adotando algo inadequado para a saúde, como vômito e outros comportamentos.

“Contudo, ainda que apresente uma preocupação intensa com a imagem corporal, diferentemente da anorexia, o peso da pessoa com bulimia nervosa nunca é abaixo do normal, estando no valor esperado ou acima do indicado”, diferencia o médico.

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E, no transtorno de compulsão alimentar, que será abordado em nossa próxima matéria, existe a compulsão alimentar, mas sem comportamento compensatório, ainda que exista uma angústia muito intensa pela ingestão dos alimentos.

Priscilla alerta que a restrição de alimentos, mesmo que não implique em transtorno alimentar, pode gerar comportamentos disfuncionais com a alimentação, como um comportamento ortoréxico, emocional ou transtornado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Por que isso acontece?

Isso acontece, segundo Priscilla, por uma série de fatores de risco, que tornam alguém mais vulnerável ao transtorno alimentar, que dentre inúmeros, se destacam os traços de personalidade.

A própria história de vida, vivência corporal, questões familiares, relação com a comida dentro da família e crenças que a pessoa vai adquirindo, podem construir uma mentalidade distorcida a respeito da alimentação, contribuindo para o desencadeamento de algum transtorno, exemplifica ela.

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Além dos fatores predisponentes, para que o transtorno alimentar seja instalado, agem em conjunto os fatores que contribuem diretamente para o desenvolvimento da doença (precipitantes) e os que perpetuam o quadro (mantenedores), conta Glauber Higa Kaio, que foi por sete anos psiquiatra pesquisador e colaborador do PROATA - Núcleo de Atenção aos Transtornos Alimentares da Unifesp.

O principal fator precipitante, gatilho direto para o início de um transtorno alimentar, é uma dieta restritiva, para aqueles que tem uma predisposição. Como não há evidências que comprovem quem tem a predisposição, aconselha-se que as pessoas não adotem esse tipo de dieta, ainda mais sem acompanhamento profissional.

Sinal de alerta de que a dieta restritiva está caminhando para um transtorno alimentar

De modo geral, Priscilla conta que um dos sinais de que a dieta restritiva pode estar implicando num possível transtorno alimentar é o hiperfoco na comida e no corpo. “É como se a pessoa não conseguisse parar de pensar nesse assunto, a vida dela gira em torno da comida e há bastante sofrimento quando ela não consegue se ‘controlar’”, diz.

Além deste, Kaio elenca outros sinais, como quando:

  • come muito menos do que foi proposto pelo médico/nutricionista;
  • quer continuar fazendo a dieta mesmo sem ter mais a indicação;
  • começa a fazer dieta restritiva com muita frequência e acaba não participando de festas, almoços, jantares, eventos sociais, por medo de comer além daquilo que gostaria;
  • irritabilidade, decepção ou angústia quando a dieta restritiva é “quebrada”, ou seja, deixada de lado,
  • o indivíduo começa a apresentar compulsão alimentar.
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Quando é indicado fazer uma dieta restritiva?

Infelizmente, a grande maioria das pessoas que recorre a dietas restritivas, o faz sem qualquer orientação, após uma simples busca na internet. E, embora até consiga perder peso muito rápido, não o mantém, podendo liberar citocinas pró-inflamatórias que danificam os vasos sanguíneos, com o retorno célere do peso anterior, como contribuir para transtornos alimentares.

Priscilla, que além de atender pessoas com transtornos alimentares, também acompanha pacientes com "comer emocional", acredita que ninguém precisa fazer dieta. Segundo ela, as pessoas que restringem sua alimentação, buscando, na grande maioria das vezes a perda de peso, fazem apenas pela via dos alimentos e não tentam melhorar sua relação com a comida, inclusive a própria mentalidade, podendo causar maior confusão no comportamento alimentar.

Portanto, dietas restritivas, para a psicóloga, deveriam ser adotadas somente por pessoas com doenças sistêmicas, como diabetes tipo um, problemas renais ou durante um tratamento específico, como inflamações gastrointestinais, sempre com acompanhamento profissional.

Acompanhe nossa série e conheça mais sobre outros transtornos alimentares e também formas de tratamento.