Pesquisadores avaliaram 38 placentas de gestantes com e sem Covid-19, para avaliar o órgão e buscar explicações.| Foto: Bigstock
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A Covid-19 afeta gestantes e bebês, e um novo estudo brasileiro ajuda a esclarecer como isso acontece. Pesquisadoras da PUCPR, UFPR e do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe avaliaram 38 placentas de mulheres com ou sem Covid-19 para verificar diferenças e possíveis alterações nestes órgãos.

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Localizada entre o bebê e a gestante, a placenta é responsável por levar oxigênio e nutrientes ao feto. Justamente por essa função, é um órgão bastante vascularizado, e desse modo se torna um alvo fácil da Covid-19, especialmente em formas mais graves da doença.

"Já sabíamos que pacientes com Covid-19, mesmo não grávidos, podem ter uma doença vascular. E nas gestantes isso também é visto. Mas a placenta é um órgão vascular, porque o sangue da mãe precisa passar por dentro dela, e a Covid-19 faz eventos trombóticos lá", detalha Lúcia de Noronha, médica patologista, professora da Escola de Medicina da PUCPR e uma das autoras do estudo.

Como consequência desses trombos (ou coágulos sanguíneos), há um bloqueio na passagem do sangue da gestante para o bebê, interrompendo a chegada do oxigênio ou do alimento. "Isso altera o bem-estar fetal, e em alguns casos foi tomada a decisão de retirar o bebê, ainda que prematuramente. Em outros casos, eles morreram", detalha a pesquisadora.

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Explicações

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Segundo Noronha, o ineditismo do estudo foi mostrar como a Covid-19 afeta a placenta, e por que alguns bebês morreram ou tiveram de nascer antes do prazo. "O que o estudo mostrou foi que, nas formas graves da Covid-19, as gestantes, além de terem uma doença pulmonar, têm também uma doença vascular", destaca.

Para chegar aos resultados, as pesquisadoras avaliaram 19 placentas de pacientes que tiveram a Covid-19 e outras 19 de pacientes que não tiveram a doença, a fim de servir como grupo controle. Em seguida, as amostras foram separadas conforme algumas características, como idade gestacional, idade materna e comorbidades. Assim, a placenta de uma gestante sem Covid-19, mas com diabete, por exemplo, foi avaliada em comparação com a placenta de outra gestante com diabete também, mas com o diagnóstico da infecção pelo Sars-CoV-2.

Os achados foram publicados na revista científica Frontiers of Immunology, no fim de maio.

Covid-19 grave e placentas

Dos resultados encontrados no estudo, Noronha reforça que não são todas as formas da Covid-19 que estão em maior risco de prejuízo da saúde da gestante ou do bebê, mas principalmente as formas moderadas e graves.

"Conseguimos identificar alterações somente nos casos das gestantes que tiveram Covid-19 moderada a grave. Toda mãe que teve Covid-19 assintomática ou com sintomas leves, e que não precisou de internamento por causa da doença, que não precisou de suporte de oxigênio ou de UTI, essas não tiveram nenhuma intercorrência", explica.

Diante dos achados, a médica patologista alerta: "Se você está grávida e tem sintoma respiratório e teste positivo para a Covid-19, tem que procurar o obstetra. Quem determina o bem-estar fetal é o obstetra."

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Inflamação ou ação do vírus?

À dúvida sobre se o prejuízo na placenta decorre ou de uma ação direta do coronavírus, ou da reação inflamatória desencadeada pela doença, a pesquisadora Lúcia de Noronha responde: a condição resulta de uma mistura dos dois casos.

"A reação inflamatória causa a reação vascular e lesa os vasos da placenta. Mas em alguns casos, ainda que poucos, vimos a presença do vírus na inflamação dos vasos. Tivemos poucos casos que conseguimos provar a presença do vírus, mas ele passa [via placenta] e está ali. Tivemos, inclusive, um bebê que nasceu com Covid. Ele ficou bem, mas nasceu com o vírus", explica.