O resultado de um estudo realizado na Austrália, divulgado nesta terça-feira (17), mapeou as respostas do sistema imunológico de um dos primeiros casos do país com o novo coronavírus. As descobertas devem auxiliar o desenvolvimento de uma vacina e tratamentos adequados. A publicação foi feita na revista científica Nature Medicine, e reportado pela Reuters.
De acordo com os pesquisadores do Instituto Peter Doherty para Infecção e Imunidade, em Melbourne, as defesas do corpo reagem ao coronavírus da mesma forma que combatem a gripe. O Instituto tem estudado o novo vírus há um tempo. Em janeiro, por exemplo, eles conseguiram recriar a nova forma do vírus, outro passo importante para a criação de uma vacina.
O acompanhamento foi realizado com uma mulher (que não foi identificada) em torno dos 40 anos, uma das primeiras vítimas da Covid-19 em solo australiano. Ela foi uma das cidadãs evacuadas de Wuhan, na China, epicentro da nova doença.
Com a amostra do sangue, perceberam que as células imunológicas presentes eram as mesmas que agem no combate à gripe. Ainda, ao monitorarem seu sistema imunológico, os pesquisadores conseguiram prever quando ela seria curada.
A professora de microbiologia e imunologia da Universidade de Melbourne, Katherine Kedzierska, que fez parte do estudo, explicou que, através das respostas levantadas, o estudo deve ajudar a identificar "o que faltou" para os casos fatais.
Mesma reação à gripe
Os dois vírus, tanto da influenza (gripe) quanto do Sars-Cov-2 , têm uma preferência pelas vias aéreas. De acordo com Rafael Deucher, médico intensivista e coordenador da UTI do Hospital VITA, eles têm "gosto maior por certas regiões, no caso deles, são as vias aéreas superior (nariz, boca, garganta), ou inferior (traqueia, pulmão, alvéolos)".
No caso da gripe, o vírus acaba se concentrando mais nas vias superiores, enquanto o coronavírus, nas inferiores. Mas ambos podem "ir da garganta até o pulmão".
Como a contaminação pela gripe, a do coronavírus acontece principalmente pelas partículas no ar, liberadas em tosses e espirros. Outro meio é pelo contato com superfícies contaminadas, que depois são levadas aos olhos, nariz e boca por mãos que não foram limpas.
O vírus precisa se instalar em alguma célula para se reproduzir e, no caso da gripe, escolhe aquelas do sistema respiratório. A partir do momento que o vírus quebra a defesa celular e consegue se instalar, ele passa a utilizar as células para a reprodução.
O corpo se defende, em um primeiro momento, com o sistema imunológico inato (que são defesas que possuímos no corpo). Caso essa defesa não seja suficiente, o corpo passa a responder com o sistema imunológico adaptativo - este que produz os anticorpos específicos para a doença tratada.
"A febre é um mecanismo de defesa. A inflamação, em si, é um mecanismo de proteção. Depois, o corpo produz anticorpos, o que pode levar de 10 a 14 dias", esclarece Deucher, que também é presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná.
A partir de então, o corpo passa a ficar protegido para aquela ameaça específica, pois caso haja um novo contato, a produção desse exato anticorpo é realizada.