Chamar pelos filhos um pouco mais alto era algo que Auriete Teixeira Rosa não conseguia mais fazer. Faltava fôlego e sobrava cansaço. Subir as escadas ou os morros do Rio de Janeiro, cidade onde mora, era algo praticamente impossível. Diagnosticada com asma e DPOC, a dona de casa de 45 anos precisou reaprender a respirar e, surpreendentemente, conseguiu melhorar cantando.
Auriete faz parte do coral Canto que Cura, idealizado pelo projeto Brasil Sem Alergia, que reúne cerca de 40 pessoas com problemas respiratórios como asma, doença obstrutiva crônica pulmonar (DPOC) e enfisema pulmonar. Além de cantarem, eles recebem a medicação que precisam gratuitamente e convivem com quem passa por situações parecidas.
Os benefícios de cantar
Cantar ajuda os pacientes com doenças respiratórias por dois motivos principais, conforme lista Marcello Bossois, médico alergista e imunologista, e coordenador do projeto. “Você socializa aquele paciente e o traz para uma atividade lúdica que mexe com a musculatura respiratória, que melhora a adesão do paciente ao tratamento”, diz.
Conforme Bossois, ao perceberem uma melhora, os pacientes tendem a suspender o tratamento. O processo inflamatório do pulmão, no entanto, continua e leva a um fenômeno chamado de remodelamento dos brônquios.
Da inflamação existente no órgão, surge uma cicatriz, que atrapalha a elasticidade do pulmão, tornando-o pouco expansivo. Com isso, a respiração fica ainda mais comprometida e as atividades cotidianas, como lavar louça ou passar a roupa, tornam-se difíceis.
“Não é um coral normal, porque tem o trabalho de fortalecer a musculatura, aderir ao tratamento e socializar. E o problema da falta de ar é em grande parte físico, mas também psicossomático”, diz o coordenador.