Logo após o início das campanhas de vacinação contra a Covid-19 no mundo, diversos países viram os casos, internações e mortes pela doença diminuírem. Isso se manteve até a chegada da variante Delta, que novamente elevou a taxa de infecções pelo novo coronavírus.
Mesmo em países como Israel e Reino Unido, que pareciam terem controlado a doença pela vacinação de grande parte da população, as pessoas passaram a questionar se as duas doses das vacinas (ou a dose única do imunizante da Janssen) seriam suficientes para protegê-las.
Israel, inclusive, se adiantou e ofereceu a terceira dose para grupos mais vulneráveis, como os idosos, no início de agosto. Os Estados Unidos adotaram a mesma estratégia, anunciando o reforço para pessoas com o sistema imune comprometido e, na sequência, ampliando a oferta para toda a população. As doses extras serão aplicadas nos americanos a partir do dia 20 de setembro.
No Brasil, na quarta-feira (25), o Ministério da Saúde anunciou a mesma medida. Serão vacinados com a terceira dose, a princípio, idosos acima de 70 anos e pessoas imunocomprometidas (confira quais grupos se encaixam na lista dos imunocomprometidos).
Efetividade reduzida?
Ainda há dúvida sobre a efetividade real das vacinas contra a variante Delta, mas alguns estudos recentes têm tentado trazer essas respostas.
Publicado na revista científica The New England Journal of Medicine no início de agosto, o artigo conduzido por pesquisadores do Reino Unido destaca que a ação das vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca/Oxford é menor contra a variante Delta do que em comparação com a variante Alpha – identificada primeiramente no Reino Unido, e que se manteve prevalente por lá em 2020.
De acordo com o artigo, a efetividade das duas vacinas, com a primeira dose, em pessoas infectadas com a variante Delta foi de 30,7%. Já entre as pessoas com a variante Alpha, a efetividade das vacinas foi de 48,7%.
Com as duas doses, a efetividade do imunizante da Pfizer foi de 93,7% no grupo infectado com a variante Alpha e de 88% no grupo da variante Delta. Nos dados da AstraZeneca, 74,5% no grupo da variante Alpha e 67% no grupo da variante Delta, com as duas doses.
Vale destacar que os pesquisadores avaliaram a proteção das vacinas contra o desenvolvimento de sintomas da Covid-19 – ou formas leves da doença –, mas não contra casos graves ou internamentos. Neste caso, as vacinas têm se mostrado, sim, protetoras, segundo Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
"Para quase todas as vacinas, os dados que temos mostram que, no cenário de circulação da Delta, há uma perda de proteção global, especialmente para formas leves da doença. Mas, para formas graves, a proteção não cai. Sem dúvida, o que vai garantir a proteção, não só para as variantes, mas com a Delta isso ganha mais importância, são as duas doses. Para formas graves da Covid-19, as duas doses são fundamentais", explica.
Mais recentemente, o Centro para Controle de Doenças, nos Estados Unidos, conhecido pela sigla CDC, divulgou outro estudo, que avaliou a efetividade das vacinas na prevenção dos profissionais essenciais – que atuam na linha de frente – antes e durante a prevalência da variante Delta. Cerca de 4 mil profissionais foram acompanhados em seis estados norte-americanos, entre dezembro de 2020 e agosto de 2021. Novamente, os autores perceberam uma redução na proteção.
Antes da chegada da Delta, até abril, a ação das vacinas era de 91% contra casos sintomáticos e assintomáticos da doença. Depois que a variante chegou, a efetividade registrada foi de 66%. Entre não-vacinados, 95% das infecções identificadas após a chegada da Delta eram sintomáticas. Já no grupo vacinado, 75%.
Os autores alertam que os dados não explicam se essa redução está relacionada à Delta, ou ao tempo decorrido desde a vacinação. Eles destacam, ainda, que os resultados devem ser interpretados com cautela porque o período do estudo foi curto e o número geral de infecções, pequeno.
"Embora esses resultados interinos sugiram uma moderada redução na efetividade das vacinas da Covid-19 na prevenção de infecções, a redução sustentada de dois terços no risco de infecção ressalta a importância e benefícios contínuos da vacinação contra a Covid-19", destacam os pesquisadores.
Cuidados
Enquanto não chegar o momento da segunda dose – e mesmo após o esquema vacinal completo –, os cuidados gerais devem ser mantidos, como:
- Uso de máscaras, especialmente as mais reforçadas;
- Preferência por ambientes abertos e bem ventilados;
- Distanciamento social, especialmente em caso de sintomas;
- Higienização das mãos.
Proteção contra casos graves
Seja qual for a vacina, a proteção contra casos graves da variante Delta parece se manter, de acordo com Alessandro de Farias, imunologista, chefe do departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador da Frente de Diagnósticos da Força Tarefa contra Covid-19.
"Ainda sabemos pouco, mas independentemente de qual vacina, apesar de terem eficácias diferentes, não há nada que diga que a vacina X tem casos graves com a Delta, e a Y não tem. Parece que a proteção se mantém contra casos graves, que é o mais problemático", destaca.
Farias também explica que, embora não seja fácil identificar como será a relação da Covid-19 com os seres humanos no futuro, muito provavelmente vamos ter que conviver com os reforços das vacinas. "Os virologistas acreditam que não é algo que vá sumir. De tempos em tempos, vamos dar mais uma dose, e isso parte de um monitoramento das novas variantes."