Do início da quarentena pela pandemia da Covid-19 até o começo de 2021, foram 10 meses de adaptação. Trabalho, escola, brincadeiras e a convivência com outras pessoas mudaram e, agora, nada mais é novidade. E isso pode ser perigoso para as crianças, de acordo com a psicanalista Elizandra Souza, em entrevista à Agência Brasil.
Siga o Sempre Família no Instagram!
"Ficar em casa e não ir à escola parecia algo bom. [Mas] o novo virou tédio! As crianças acabam ficando entediadas pela falta do que fazer e é aí que podem começar a surgir os problemas", destaca a especialista. Uma das principais indicações aos pais é que mantenham (ou retomem) uma rotina com as crianças, para vencer o tédio do isolamento. "A rotina gera segurança e sensação de proteção", diz a psicanalista.
Criar um quadro com as rotinas pode ser algo muito positivo, assim como incluir atividades que sejam prazerosas para os filhos. A psicopedagoga Thaisa Rocha Moura lista algumas sugestões:
- Brincadeiras com os animais de estimação;
- Pesquisa de receitas para cozinharem juntos;
- Brincadeiras da infância dos pais;
- Sessão de cinema com um filme escolhido pela família;
- Brincadeiras escolhidas pelas crianças.
Crianças também precisam sentir que há uma "normalidade" no mundo, e os pais não podem se apegar a uma futura vacinação contra a Covid-19 para que essa sensação volte. "Mais do que a questão da vacina, que é muito racional e cognitiva, o que melhora o humor dos pequenos é se integrar com outras crianças, ainda que com contato reduzido, bem como participar de atividades onde o corpo possa se expressar", explica a psicanalista Elizandra Souza.
Mexer-se é fundamental, visto que as crianças têm menos elementos linguísticos para expressar dor ou conflitos. "Se a criança está há muito tempo em isolamento, dar uma volta no quarteirão já ajuda. O medo e insegurança dos pais são os piores vilões, pois mostram que aqueles que deveriam ser fortes e proteger, também estão sem chão", afirma Elizandra.
Sinais de alerta
Os primeiros sintomas que podem indicar uma depressão entre as crianças são físicos – que podem ser confundidos pelos pais como "manha" dos filhos. Confira alguns sinais, de acordo com a psicanalista:
- Irritação e agressividade;
- Perder o interesse por atividades que normalmente gosta;
- Crianças mais retraídas;
- Alterações no apetite, seja por excesso ou ao recusar alimentos;
- Dificuldade de concentração ou de aprendizagem;
- Problemas com sono, seja por aumento, seja por diminuição.
Ainda, as crianças podem passar mais tempo quietas, com medo de se separarem dos pais ou dos cuidadores e evitar contato com outras pessoas próximas. O que diferencia a depressão infantil de episódios de mau humor são a intensidade e a persistência dos sintomas, por mais de um mês, por exemplo, de acordo com a psicanalista.
"Ou quando a relação com a criança fica muito difícil – nada que se faça a demove desse lugar de apatia", completa Elizandra, orientando a busca por ajuda médica.
Psicoterapia e medicamentos
Crianças com depressão podem ter o desenvolvimento comprometido, interferindo no processo de maturidade psicológica e social. Os tratamentos disponíveis envolvem psicoterapia e medicamentos, que são adaptados conforme a gravidade dos sintomas.
De acordo com a psicanalista, a participação dos pais é muito importante nesse momento para a reabilitação da criança. "São eles que vão lidar com a criança dentro de casa e ajudá-la a sair desta condição o mais rapidamente possível".
Tratamento via SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para a depressão infantil. Segundo o Ministério da Saúde, a assistência às crianças e adolescentes com transtornos mentais é ofertada de forma integral e gratuita em diversas unidades do SUS em todo o Brasil.
Entre os serviços de referência para acompanhamento, estão as cerca de 41 mil Unidades Básica de Saúde e os 266 Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI), que ofertam acolhimento e tratamento às crianças e adolescentes em sofrimento ou com transtorno mental e seus familiares. Nesses serviços eles são atendidos e, caso necessário, encaminhados para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).