Sim e não! O número de passos é um indicador importante que incentiva a deixar de ser sedentário, mas sem que o exercício ganhe em intensidade, aquele número no visor dos cada vez mais populares smartwatches (ou mesmo no celular) não faz diferença no seu status de saúde, podem causar confusão e passar a falsa impressão de que você realiza a quantidade ideal de atividade diária.
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A recomendação semanal de atividades físicas da Organização Mundial de Saúde, para adultos, é de 300 minutos - ou 150 minutos de exercício mais intenso, caso não haja contraindicação, diz o gerente técnico da Smart Fit, Lucas Farias. “Isso reduz o risco de morte por doenças cardiovasculares, hipertensão, diabete tipo 2, e beneficia a saúde mental e cognitiva, o sono e a memória”, diz. “Porém, os passos dados não podem ser considerados isoladamente, pois os ganhos relevantes surgem quando associados a exercícios de intensidade moderada a alta”, diz.
Está mesmo 'pago'?
Mais do que mostrar que determinado número de passos foi o suficiente e que sua necessidade diária de exercício ‘está paga’, como se diz no jargão das academias, o número de passos diários pode ser mais um identificador do seu nível de sedentarismo e de quanto é fundamental começar exercícios de imediato. “Essa identificação dos passos durante o dia mostra se você teve um dia mais ou menos ativo, dependendo do ritmo de vida, condição física e do seu propósito”, diz Zair Candido de Oliveira Netto, doutor em Ciências da Saúde e coordenador do curso de Educação Física da Universidade Positivo (UP). “O ideal é ir além disso e desenvolver uma atividade muscular que resulte em gasto energético e bom trabalho cardiovascular”, diz.
Números “mágicos”
Vários números ideais de passos diários já foram levantados ao longo do tempo, como 7 mil, 10 mil, mas será que ele existe e justifica a tranquilidade de porventura atingi-lo?
Para Farias, não existe esse número “mágico”. O certo é que, quanto menor o número de passos diários, mais sedentários ou pouco ativos somos, como mostrou uma pesquisa em 2004.
Oliveira Netto cita que 10 mil passos diários — um dos números "mágicos" mais popularizados entre as pessoas — representam 8 mil metros percorridos, o que faz com que uma pessoa deixe de ter um perfil sedentário, caso sejam distribuídos ao longo do dia, resultando em benefícios para o sistema cardiovascular e muscular. “Entretanto, é importante saber também como esses passos estão sendo dados durante o dia, se aleatoriamente ou se tiro um tempo destinado a fazer uma caminhada matinal ou no fim da tarde, que indicaria um ganho maior ao manter o organismo mais ativo, com uma frequência cardiorrespiratória um pouquinho mais elevada e ritmo muscular, agregando mais valor fisiológico à minha atividade física”, diz ele.
Ajuda profissional
Farias cita que a forma mais inteligente de encarar esses números pensando-se em, a partir daí, tomar alguma decisão relacionada à atividade física, seria procurar um profissional que avalie os dados extraídos e defina a melhor estratégia.
“Isso porque um dos erros ou formas inócuas de usar esse tipo de dado é acreditar que ele reflete a quantidade necessária de atividade física ou o gasto calórico ideal para manter-se saudável e ativo. Os dados gerados têm muitas possibilidades de interpretação”, diz ele.
Para quem está engajado nos exercícios, os dados servem como referenciais para que a pessoa saia da zona de conforto, cita Oliveira Netto, fazendo com que se aumentr o ritmo das caminhadas, melhorando sua capacidade cardiorrespiratória, gerando ganho ao organismo.
“Com esses dados e um profissional nutricionista ou educador físico orientando suas atividades, você vai ter muito mais ganho, então os apps são como um trampolim para que você possa almejar mais ganhos de saúde com os exercícios físicos”, diz ele.
Quando bem utilizados, os apps podem ajudar também a controlar a intensidade de exercícios em casos de pessoas com problemas prévios de saúde que merecem atenção. “Pessoas de grupo de risco, sedentárias e acima do peso podem sofrer com a sobrecarga do sistema cardiovascular e aumento da pressão arterial, então esses apps ajudam a monitorar e manter os índices em 60% a 70% da frequência cardíaca, ajudando nesse controle”, diz Oliveira Netto.
Outros dados levantados por smartwatches, como o de gasto de calorias, batimentos cardíacos e distância percorrida ajudam, mas precisam ser interpretados caso a caso. “O gasto calórico, por exemplo, segundo a OMS é fundamental no controle de peso. O controle dos batimentos cardíacos durante a atividade física nos dá a informação de como nosso corpo está reagindo àquele estímulo e como podemos controlar a intensidade das atividades físicas. Mas é fundamental um trabalho integrado e multidisciplinar entre profissionais de educação física, nutricionistas, cardiologistas e outros profissionais da saúde”, diz Farias.