Envelhecer com segurança exige planejamento. Porém, doenças e contratempos com a saúde podem ser evitados por aqueles que alcançam a terceira idade, se realizadas consultas e exames médicos de prevenção e controle, de forma habitual.
Indicada a partir dos 60 anos, a geriatria é a especialidade médica que acompanha o processo natural de envelhecimento e de doenças comuns dessa fase da vida, buscando evitar novas sequelas e reabilitar as existentes.
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E são muitos os que procuram um geriatra antes de chegarem à terceira idade, como forma preventiva, para serem orientados em como envelhecer de forma saudável. “Apesar desta especialidade médica ser mais indicada para tratar e prevenir doenças em idosos, também é comum que o geriatra faça o atendimento de adultos saudáveis”, explica Clovis Cechinel, médico geriatra e diretor técnico do Hospital Municipal do Idoso Zilda Arns.
Além do geriatra, profissional habilitado para gerenciar a saúde dos idosos, prevenindo complicações e tratando o paciente em sua integralidade, é importante que seja realizado um acompanhamento de saúde em conjunto com profissionais da gerontologia (nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros) e outros profissionais médicos, de acordo com a complexidade e necessidade observada, explica Cechinel.
O conceito de “doença única”, no qual um único problema pode explicar todos os sinais e sintomas, não se aplica às pessoas idosas, de acordo com ele. Isso porque, os idosos costumam apresentar uma somatória de sinais e sintomas, que é resultado de várias doenças concomitantes. Devido a isso, avalia-se quais os efeitos destas nas Atividades de Vida Diária (AVDs) e Atividades Instrumentais de vida Diária (AIVDs).
Cechinel conta que, habitualmente, a visita ao geriatra ocorre quando surgem doenças específicas do envelhecimento e com complicações comportamentais destas doenças como: demência (Alzheimer), Parkinson, degeneração macular relacionada à idade (AMD), osteoartrite, doença cerebrovascular (AVC), hipertensão arterial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doença renal crônica (DRC), incontinência urinária.
Contudo, é importante que cada paciente, em diálogo com seu médico, estabeleça a periodicidade das consultas. Seja para acompanhar o tratamento para os sintomas que apresenta ou para buscar a prevenção de patologias comuns à terceira idade.
Entenda alguns exames
Com o início do acompanhamento médico, é comum que muitos exames sejam solicitados, a fim de afastar ou confirmar determinado diagnóstico, possibilitando um tratamento rápido e eficaz. Porém, vários deles, infelizmente, são ignorados e não realizados pelos pacientes, prejudicando um prognóstico.
“Cada paciente tem um perfil e um histórico diferente, que são obtidos por meio de uma anamnese detalhada, sendo a frequência e a indicação individualizadas de acordo com a patologia de base, funcionalidade e cognição”, o médico geriatra.
Buscando a informação, cabe entender alguns indicativos que podem ser concluídos com a realização dos exames de análises clínicas solicitados com frequência pelos médicos, como:
- Glicemia: contribui para o diagnóstico de diabetes;
- Hemograma: avalia possíveis anemias e células de defesa, além do número de plaquetas;
- TSH, T4 Livre, T3 total: permite a detecção de disfunções na produção dos hormônios da tireoide;
- Micoralbuminuria: indica a perda de proteínas na urina, utilizada na estratificação de Doença Renal Crônica;
- Ureia e creatina: mostram o funcionamento dos rins, revelando problemas como a insuficiência renal;
- 25(OH)Vitamina D, cálcio e PTH: avaliam o metabolismo ósseo;
- Sangue oculto nas fezes: rastreamento para avaliar presença de sangramentos no trato gastrointestinal;
- Lipidograma: avalia o colesterol e suas frações;
- Eletrólitos: indicam níveis de cálcio, potássio, magnésio e sódio;
- PSA: trata-se do antígeno prostático específico, que revela possíveis problemas na próstata, devendo ser realizado anualmente em conjunto com o toque, a partir dos 50 anos, salvo se houver diagnóstico de câncer de próstata na família, sendo adiantado para os 45 anos, conforme a Sociedade Brasileira de Urologia orienta;
- Transaminases: enzimas que podem indicar a presença de problemas no fígado);
- Albumina: indica a condição nutricional do paciente;
Além destes exames clínicos, é comum que sejam solicitados:
- Densitometria óssea: exame de imagem que verifica a densidade da massa óssea, através de um aparelho especial de raio-X, possibilitando o controle da evolução da osteoporose, avaliando o grau da doença e a probabilidade de fraturas;
- Mamografia: recomenda-se para detecção precoce de câncer mama, sendo orientado o rastreio precoce, quando tiver histórico familiar;
- Exames ginecológicos: independentemente de terem vida sexual ativa ou não, recomenda-se que as mulheres façam o exame preventivo de colo de útero e o exame de toque ginecológico anualmente até os 70 anos, sendo utilizados para o diagnóstico de infecções e a detecção do câncer de colo de útero;
- Colonoscopia: exame de imagem do intestino grosso que permite o diagnóstico de lesões iniciais ou mesmo de um câncer colorretal, indicado para homens e mulheres a partir dos 50 anos;
- Eletrocardiograma ECG: mensura a frequência cardíaca da pessoa em repouso e em atividade, possibilitando identificar situações como arritmias, insuficiência cardíaca, pericardite, doença arterial coronariana. É interessante que o idoso o realize frequentemente, já que após os 40 anos o organismo começa a passar por mudanças que levam à diminuição do desempenho do coração.
É importante destacar que o diagnóstico e a interpretação dos exames cabem ao médico que acompanha o paciente de forma individualizada, avaliando-se a funcionalidade, gravidade da doença de base e sua progressão, de modo que o leigo não busque interpretação própria.
Apoio da família
Muitas vezes acontece de a própria pessoa não perceber a chegada do envelhecimento, sendo importante que sua família se atente às primeiras limitações que indicam que a saúde do idoso está em risco. Falhas na memória, audição, visão ou cognição são pontos de atenção, pois um sintoma pode alertar para mais de um tipo de enfermidade, fazendo-se necessária uma consulta médica que busque a avaliação global com ênfase na cognição e funcionalidade.
Se o idoso tiver autonomia e lucidez para tomar suas decisões, é bom ter conhecimento das limitações que tem apresentado e devem ser respeitadas suas vontades. Afinal, a pessoa idosa tem o direito de decidir, cabendo aos profissionais de saúde darem todos os subsídios para a melhor tomada de decisão. “Os idosos não devem ser tratados como crianças e tampouco infantilizados. Uma tática que poderia ser utilizada, seria mostrar as consequências de não ir ao médico ou fazer os exames preventivos”, sugere Cechinel.
O geriatra ensina um conceito que ainda é pouco discutido atualmente: o ageísmo, que corresponde a um tipo de etarismo, e se refere à hostilidade e à discriminação sofridas por indivíduos com base na idade cronológica, com base em estereótipos associados a pessoas mais velhas. “É um preconceito, que em última instância afeta a todos que envelhecem e pode ser encontrado nas atitudes, práticas e pensamentos discriminatórios, bem como nas políticas institucionais que excluem ou limitam a participação dos idosos”, ensina ele.
Portanto, a melhor solução é ter uma conversa tranquila e sincera, sempre explicando qual o médico a ser consultado e qual o motivo da consulta, de modo que se houver a recusa deve ser analisada de forma muito cautelosa a origem da resistência. “A recusa de certos idosos em receber cuidados médicos tem relação com suas experiências de vida e situações ocorridas no passado. O receio pode ser pela inclusão de um novo medicamento, de ficar internado, de reviver situações prévias”, explica o médico geriatra, que orienta os filhos terem muita sensibilidade no processo de convencimento, não devendo impor este processo.