Medicamento passa para segunda etapa de testes, em pacientes com diagnóstico da Covid-19, sem necessariamente ter sintomas graves| Foto: Pexels
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Em meio ao debate sobre o uso da hidroxicloroquina contra a Covid-19, outro medicamento ganhou destaque nessa semana: a nitazoxanida. Conhecida pela ação como um vermífugo, com o nome comercial de Annita, a substância tem sido testada em 10 diferentes estudos clínicos pelo mundo, inclusive no Brasil, contra o novo coronavírus.

Na terça-feira (19), o ministro de Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, anunciou que depois de testar a medicação em pacientes com sintomas mais graves, o estudo brasileiro entra em uma segunda fase. Agora, o diagnóstico da Covid-19 é suficiente como critério de inclusão na pesquisa, que vem sendo desenvolvida em 17 hospitais do país, somando 500 pacientes ao todo.

Para a segunda etapa, outros 500 pacientes serão avaliados. A ideia é verificar a ação da substância antes que o corpo entre em uma "tempestade inflamatória", agravando a condição. Embora o ministro não tenha oferecido dados sobre o impacto do medicamento contra a doença nessa primeira etapa, entende-se que o avanço da pesquisa indica resultados positivos.

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Vermífugo contra vírus

Pode parecer estranho um medicamento conhecido pela ação anti-helmíntica, ou contra parasitas e vermes, ser usado contra o novo coronavírus. Mas, de acordo com a farmacêutica e microbiologista Jordana Coelho dos Reis, a nitazoxanida possui um amplo espectro de atuação, e estudos comprovam que ela consegue atingir desde vírus a verminoses.

"É uma droga antiga, já usada como anti-helmíntico e antiviral. Tem uma performance como anti-helmíntico muito superior aos que estão no mercado e tem uma formulação tanto para adultos quanto para crianças, em forma de xarope", explica Reis, que também é professora do Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Instituto de Ciências Biológivas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Como age contra Sars-Cov-2?

Há dois mecanismos de ação da substância que podem favorecer o sucesso contra o Sars-Cov-2, segundo Reis. Primeiro, a nitazoxanida inibe a produção de uma proteína importante, chamada de hemaglutinina, que permitem a entrada e saída do vírus nas células. Ao impedir esse trânsito, o vírus não consegue se reproduzir e acaba não se multiplicando no corpo humano.

Essa ação foi descrita principalmente contra os vírus da gripe, o influenza. Embora não sejam estruturalmente semelhantes ao novo coronavírus, a via de transmissão e os sintomas são muito parecidos. Com relação ao segundo mecanismo, o medicamento também é capaz de induzir um estado antiviral nas células, estimulando a produção das moléculas interferon. "É comum pensarmos que nosso sistema imunológico não conhece os vírus, mas na verdade temos mecanismos inatos, naturais, que evoluíram ao longo do tempo para combatê-los. O interferon é esse sistema, capaz de gerar um estado antiviral na célula, que atrapalha a propagação do vírus", explica.

Essas ações, reforça Reis, foram vistas contra vírus como influenza, rotavírus e outros que atuam no trato gastrointestinal, mas não contra o Sars-Cov-2. Por enquanto, há 10 pesquisas sendo desenvolvidas no Egito, Estados Unidos, México e Brasil, que avaliam a eficácia e segurança da substância associada a outros medicamentos, mas nenhum finalizado até o momento.

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Terapia combinada

Embora seja uma candidata importante, a microbiologista lembra que a nitazoxanida, muito provavelmente, terá benefícios quando aplicada em conjunto com outras medicações.

"Os melhores estudos são aqueles com as terapias combinadas. Você não dá ao paciente uma única droga, mas cerca mais o vírus. Claro, terapias combinadas precisam ser avaliadas para uma maior segurança, mas é um caminho melhor do que pela terapia única", explica.

Nas pesquisas em desenvolvimento, 40% dos estudos avaliam a medicação em combinação com hidroxicloroquina, ivermectina, ribavirina, entre outras.

Efeitos colaterais

Para evitar uma corrida às farmácias, como foi no caso da hidroxicloroquina, tão logo a medicação foi anunciada pelo governo (que ainda manteve segredo do nome da substância por um tempo), a Anvisa mudou a orientação para a compra. Desde o dia 16 de abril, o medicamento só pode ser adquirido com a apresentação de uma receita especial, em duas vias.

Apesar de ser uma substância segura, indicada inclusive para uso pediátrico, há alguns efeitos colaterais relatados, e que chamam atenção. "Sabemos que algumas pessoas podem desenvolver alergias ao medicamento. Há reações adversas associadas a alterações no trato gastrointestinal, com diarreias, cólicas, dores, vômitos e até dores de cabeça. Pode ter alteração de algumas enzimas hepáticas. Por isso é importante que as pessoas não façam a automedicação", explica a microbiologista.

Quem fizer uso sem controle médico também pode ter um aumento na creatinina, nos sintomas de hiperidrose, sudorese e tontura, e mesmo alterações hepáticas, que favorecem quadros de febre, aumento na pressão arterial e taquicardia.

Além disso, apesar de a medicação ter um potencial profilático, de prevenção, isso ainda não está comprovado em estudos clínicos. "O custo dos efeitos adversos de uma droga é sempre muito maior que o custo de lavar as mãos, de fazer o isolamento social, de fazer uso das máscaras. Essas medidas profiláticas têm, sempre, um custo bem menor", completa.

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