“Quem é essa mulher aí?”, pergunta a idosa Amalia Theresa da Silva ao ver sua própria imagem refletida no espelho. “Como você se chama? Quer ser minha amiga?”, continua questionando seu reflexo, sem reconhecer sua face envelhecida pela idade.
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Diagnosticada com Alzheimer em 2014, a moradora de Campinas, em São Paulo, se tornou conhecida nas redes sociais depois que um de seus netos postou alguns vídeos com ela. “Os seguidores que me acompanhavam amaram suas aparições e pediram mais”, conta o jovem de 30 anos, que decidiu gravar as brincadeiras e passeios que realizava com a avó para mostrar que é possível ser alegre, mesmo com a difícil realidade do esquecimento.
“Ainda não existe cura para o Alzheimer, então os cuidados são carinho, amor, paciência e bom humor”, afirma o rapaz, que divide com seus 2,8 milhões de seguidores no Facebook diversos vídeos da avó conversando, rindo, dando chineladas em quem “sai da linha” e agradecendo pelas boas coisas da vida. “Afinal, ver a doença de uma forma mais leve ajuda a aliviar a rotina do idoso e de quem está cuidando dele”, garante.
E esse é o segredo para que pacientes e familiares enfrentem as diferentes fases do Alzheimer. “Isso porque os episódios de esquecimento se tornam frequentes e podem comprometer a independência desse idoso”, explica a neurologista Amanda Batista Machado, ao citar casos em que, desde o início, a pessoa já tem dificuldade para preparar receitas culinárias simples, não sabe como pagar contas e esquece o caminho de volta para casa.
Além disso, o paciente em estágio leve ou moderado pode apresentar mudanças de comportamento como agressividade, agitação noturna, ansiedade e até depressão. “Por isso, é importante estimular a mente dele com jogos, leitura, música, e nunca tratá-lo como alguém incapaz”, orienta a especialista do Instituto de Neurologia de Curitiba (Inc), ao afirmar que cobranças excessivas estressam a memória do indivíduo.
A dica, então, é adaptar a rotina dele, incentivar a realização de uma atividade por vez e usar recursos simples como bilhetes, ligações e despertadores para ajuda-lo a lembrar de tarefas diárias. “Também é mais seguro instalar um fogão com sensor para cortar o gás ou garantir que o idoso esteja acompanhado na cozinha”, aponta a neurologista.
Adaptações da rotina
Só que é importante ressaltar que o diagnóstico de Alzheimer não significa o fim das atividades que a pessoa está acostumada. Inclusive, de acordo com a médica, muitos pacientes na fase inicial da doença continuam aptos para passear sem acompanhamento e até dirigir.
“Mas sempre os oriento a realizarem trajetos conhecidos e de curta distância”, afirma Amanda, ao sugerir ainda o uso de uma pulseira de identificação durante essas saídas. “Assim, prevenimos que a pessoa se perca devido a um episódio de esquecimento e que fique nervosa ao tentar voltar para casa”.
Claro que, à medida em que a doença avança, aumentará também a dependência que o paciente terá de outras pessoas, assim como acontece atualmente com a vovó Amália. De acordo com seu neto, a memória da idosa dura apenas 10 segundos, aproximadamente, então não é possível deixá-la sozinha ou esperar que realize atividades rotineiras com perfeição.
Mesmo assim, “faço o possível para o dia dela ser o mais ativo possível com caminhadas, passeios e brincadeiras”, afirma o jovem, que estimula a saúde física e mental da avó, sem esperar que ela agradeça ou que apresente melhoras. “Ela esquece até mesmo quem sou eu, mas sempre estarei aqui para lembrá-la”, promete o paulista, que incentiva outras famílias a agirem com o mesmo carinho e paciência.
“Diga o que eles querem ouvir e você conseguirá o que deseja”, aconselha, ao garantir que o Alzheimer é a única doença que oferece uma nova oportunidade aos familiares e amigos. “Se você agir de forma que não foi legal, terá outra chance de fazer o certo. Então, aproveite enquanto há tempo para isso”, finaliza.