Além de garantir uma conexão única com o bebê, amamentar estimula seu desenvolvimento, aumenta a imunidade, favorece sua capacidade cognitiva e previne diversas doenças e alergias. “Tanto que a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que crianças sejam amamentadas exclusivamente por pelo menos seis meses e que o aleitamento continue até dois anos ou mais”, afirma o médico Roberto Mario Issler, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
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Além disso, estudos mostram que a amamentação também contribui para a saúde da mulher, reduzindo taxas de câncer de mama e de ovário, evitando osteoporose e problemas cardiovasculares como a hipertensão. “Sem contar que é praticamente gratuito, então não há motivo para suspender a amamentação, mesmo depois que a introdução alimentar saudável tenha começado”, garante o pediatra, ao incentivar o desmame somente após o segundo ano de vida.
Nessa idade, de acordo com ele, a criança caminha adequadamente, entende o que está acontecendo, consegue se expressar melhor e se distrair com facilidade, reduzindo a procura pelo seio da mãe. “Então, é o período ideal para iniciar o processo de desmame natural”, orienta. No entanto, “como tudo será conduzido pela mulher, é ela quem decide o melhor momento, de acordo com sua realidade”, aponta.
Respeitar isso é fundamental, segundo Issler, pois o processo de amamentação exige muito da mulher, então ela precisa se sentir bem fisicamente e emocionalmente para continuar nutrindo seu bebê. “O pediatra deve, então, escutar essa mãe, perguntar como ela está se sentindo e até quando deseja amamentar”, diz. “Aí, com base nas respostas, podem trabalhar juntos para preservar seu bem-estar físico e mental”.
“Foi o que aconteceu comigo”, afirma a arquiteta Camila Linhares Freire, de 32 anos. Mãe do pequeno Bruno, ela decidiu amamentar em livre demanda pensando nos benefícios para a saúde dele. “Só que não dormir a noite toda começou a me fazer mal”, relata, ao citar que seu rendimento durante o dia era prejudicado, a memória falhava e o mau humor a incomodava. “Então, quando o Bruno completou 1 ano e 7 meses, decidi iniciar o desmame”.
Para isso, ela reduziu primeiramente as mamadas da madrugada, já que o menino se alimentava bem durante o dia e não sentiria fome. “Era mais uma questão de hábito”, conta, afirmando que o marido foi fundamental no processo ao acalmar o garoto durante três noites de choro. “Depois, o Bruno começou a dormir a noite inteira e restou apenas tirar as mamadas antes da soneca e na hora de ir para a cama”.
A estratégia escolhida foi a de contar histórias nesses momentos e esperar que o próprio filho pedisse para mamar. “Ele começou a pedir dia sim, dia não, até parar sozinho com um ano e 10 meses”, comemora Camila, feliz por ter finalizado a amamentação de forma gradual. “Como fomos diminuindo a quantidade de mamadas aos poucos, meu leite já estava mais escasso e não empedrou nenhuma vez”.
Mercúrio, babosa e café
De acordo com o Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP, a maneira como Camila conduziu o desmame é a ideal, pois prepara o corpo da mulher e também o bebê. “E como a criança já consegue falar, a mãe pode conversar tranquilamente com o filho sobre o que está acontecendo”, garante Issler, ao condenar métodos em que a família mente para a criança durante o processo.
“Não se deve inventar desculpas ou colocar tintura de mercúrio-cromo, babosa ou borra de café para falar que a mama está machucada”, pontua. “A situação deve ser tratada com clareza e honestidade para que aconteça de forma tranquila, gradual e deixando boas lembranças”, finaliza.