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Para cerca de 80 mil pessoas em todo o mundo (mais de 600 apenas no Brasil), a Covid-19 venceu a batalha contra as células de defesa e transformou doentes em vítimas fatais. Antes de entender por que alguns pacientes estão em maior risco, e como aprimorar a defesa, é preciso conhecer as "táticas" do vírus na hora de atacar o corpo humano.

Embora seja uma doença nova, descoberta em dezembro de 2019 na China, a família do vírus causador da Covid-19, os coronavírus, são velhos conhecidos dos médicos. A diferença é que o novo coronavírus, ou o SARS-Cov-2, como foi nomeado, tem uma capacidade de transmissibilidade muito significativa, sendo capaz de infectar mais facilmente e um número maior de pessoas.

Cada pessoa infectada pelo vírus da gripe A, o H1N1, é capaz de contaminar outras 1,5. No caso da Covid-19, cada pessoa repassa o vírus a outras 2,75. A título de comparação, o vírus do sarampo é repassado a outras 15 pessoas, em média, de acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Infectologia.

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Sequestro das células

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Apesar dessa diferença de transmissão, quando o coronavírus entra pelas vias do nariz, boca e olhos da pessoa, o ataque é basicamente igual a de qualquer outro vírus: "sequestrando" as células do hospedeiro. A descoberta de como o vírus se infiltrava no corpo humano foi feita no início de março, por pesquisadores chineses.

Para entrar nas células do corpo humano, o vírus se liga a um receptor enzimático, o ACE 2 (ou enzima conversora de angiotensina 2, ECA-2, em português), presente na membrana celular e, ao fundir a própria membrana com a da célula, "joga" para dentro a sua carga genética. Ali estão todas as informações necessárias para que possa se reproduzir.

Durante esse período, chamado de incubação, a pessoa pode não perceber nada grave, visto que os sintomas tendem a aparecer entre cinco a seis dias depois do contato com o vírus, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Tempestade de citocinas

Uma vez que o vírus começa a se multiplicar, o sistema imunológico, das células de defesa, se atenta à presença desse corpo estranho e passa a agir também. Uma das reações do organismo humano tem sido a chamada "tempestade de citocinas".

Citocinas são substâncias produzidas pelo sistema imunológico que têm por característica instigar uma reação inflamatória. Embora aconteça em qualquer pessoa, entre aqueles com fatores de risco para a Covid-19, a reação do corpo pode ser mais severa. Isso explica a pneumonia, ou a inflamação dos pulmões comum entre os pacientes desta doença, entre outros órgãos que também podem ser afetados, como o coração, fígado, rins e intestino.

"A tempestade de citocinas vai fazer com que a pessoa tenha uma produção imensa de substâncias inflamatórias, que podem atingir o pulmão, fígado, rins e intestino. O médico pode se confundir, achar que a pessoa está com uma apendicite (inflamação do apêndice) ou colecistite (inflamação da vesícula biliar) aguda, mas é causada pela tempestade de citocinas", explica Marcelo Bossois, médico imunologista, pesquisador assistente do serviço de Terapia Gênica do laboratório do prof. Jacques P. Tremblay, da Universidade Laval, no Canadá.

Na tentativa de controlar essa tempestade, pesquisadores estudam o uso dos tratamento com anticorpos monoclonais, que acabam por bloquear a ação dessas substâncias, visto que os corticoides não deram o resultado esperado.

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Danos ao pulmão

Embora para 80% das pessoas que se contaminarem pelo novo coronavírus, os sintomas tendem a ser brandos e mais leves, uma em cada cinco terá de lutar uma guerra mais difícil contra a Covid-19. E isso perpassa cuidar dos pulmões.

"Sabemos que alguns pacientes, principalmente aqueles em grupos de risco (idosos, com problemas cardíacos e diabéticos), e os que fogem da curva de confiança (fogem da regra), desenvolvem uma doença mais severa, com características da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)", explica Reginaldo Oliveira Filho, médico hospitalista do Hospital São Vicente, de Curitiba.

Entre as pessoas com sintomas que caracterizam a SRAG (como dificuldade para respirar, oxigenação sanguínea reduzida e alterações no pulmão), a resposta à doença é, em geral, pior. "O pulmão dele faz uma pneumonite viral muito grave. As células do pulmão não conseguem mais fazer a troca do oxigênio pelo gás carbônico, e a gente perde essa interface pulmonar. A partir desse momento, as células sofrem pela falta de oxigênio no sangue e, quando o paciente desenvolve a síndrome, ele precisa de um suporte ventilatório, pois não consegue colocar o oxigênio para dentro sozinho", explica Oliveira.

O equipamento age, então, forçando a entrada de oxigênio nos pulmões e também forçando a saída. "Não podemos fazer uma ventilação não invasiva, porque devido a alta infectividade do coronavírus, temos que evitar que as gotículas do paciente se espalhem. Por isso é preciso que o suporte ventilatório seja invasivo", argumenta o médico sobre a necessidade do uso de respiradores que demandam uma sedação e entubação do paciente.

Esse aparelho, segundo Oliveira, visa garantir que a pessoa tenha a ventilação adequada, apesar de o pulmão estar sofrendo, para que o sistema de defesa tenha mais tempo para eliminar o vírus. "Sabemos que o paciente com uma insuficiência respiratória pode evoluir para uma parada cardiorrespiratória. A ventilação é para dar tempo ao corpo se recuperar", reforça o médico.

Até o momento, não há nem medicamentos que, comprovadamente, atuem contra o novo coronavírus, e nem vacinas aprovadas para a prevenção.

Tempo de recuperação

De acordo com dados da OMS baseados em um levantamento dos casos da doença China, o tempo médio de recuperação da Covid-19 varia conforme a gravidade dos sintomas. Entre aqueles com sintomas leves ou brandos, a doença tende a se dissipar em torno de duas semanas, ou 14 dias.

Pessoas com sintomas mais severos, os sintomas perduram entre três a seis semanas. Entre o momento da infecção ao desenvolvimento de quadros mais graves, com a redução da taxa de oxigênio no sangue, a doença leva uma semana. Das vítimas da Covid-19, o tempo entre os primeiros sintomas e o desfecho variou de duas a oito semanas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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