Está bem documentado, agora, que a pandemia contribuiu para uma série de problemas mentais, como estresse, ansiedade e depressão.| Foto: Bigstock
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Desde que a cidade de Wuhan, na China, decretou o primeiro lockdown para conter a disseminação do novo coronavírus, todo o mundo teve de viver sob alguma forma de restrição relacionada à pandemia.

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Alguns países optaram por severos lockdowns nacionais, como o Reino Unido atualmente. Enquanto outros países, como Taiwan, optaram pelo fechamento das fronteiras e quarentena obrigatória para quem chegava de outros países. Essas diferentes abordagens para restringir o movimento têm diferentes efeitos no nosso bem-estar.

Está bem documentado, agora, que a pandemia contribuiu para uma série de problemas mentais, como estresse, ansiedade e depressão. Mas qual é o papel das restrições de movimento? E como elas se diferenciam?

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Restrições diferentes na pandemia

Pesquisadores de diferentes partes do mundo dedicam-se a estudar quais impactos específicos o lockdown, a quarentena e o isolamento podem ter tido sob a saúde mental da população.

  • Lockdown, no contexto da Covid-19, se refere a implementação de restrições rigorosas dentro de uma comunidade, como negar acesso a espaços públicos, restringir viagens e interações sociais.
  • Quarentena, por outro lado, é o termo que se refere a uma restrição de movimento de pessoas que foram expostas a uma doença contagiosa, para que se observe se há presença de sintomas ou não. Na Austrália, por exemplo, todos os passageiros que chegam de outros países devem passar 14 dias em um hotel, em quarentena.
  • Isolamento social autoimposto é a separação daqueles que ficaram doentes com uma doença contagiosa, para que fiquem distantes das pessoas que não estão doentes.

Quarentena

Olhar para pandemias passadas pode ajudar a entender a atual. Uma revisão acadêmica recente examinou estudos de pessoas que ficaram em quarentena, como resposta a outros surtos, como o Ebola, SARS e a gripe A, do H1N1. A revisão concluiu que a quarentena pode levar a uma série de efeitos psicológicos danosos.

Dois dos efeitos são o medo e a ansiedade que podem aumentar devido às preocupações em pegar ou transmitir o vírus, além do receio nos efeitos da pandemia na saúde, no social e na economia. Indivíduos podem também sentir raiva com as mudanças nos protocolos que são impostos e afetam o cotidiano e o sentimento de controle.

Os efeitos de longo prazo da quarentena podem levar algumas pessoas a desenvolverem reações de estresse pós-traumático, o que pode se manifestar em sentimentos de exaustão, irritabilidade e tristeza.

Lockdown versus isolamento autoimposto

Para as medidas de lockdown e isolamento autoimposto, já há dados da pandemia de Covid-19. Uma pesquisa feita na Itália, país que foi afetado no início da pandemia e que passou por um extenso lockdown, mostra que mais de um terço da população em geral vivenciou estresse psicológico significativo durante o segundo mês de restrições devido ao coronavírus.

Em um estudo que ainda será publicado, meus colegas e eu olhamos para qual impacto o lockdown teve no bem-estar psicológico e na sensação de felicidade, em comparação ao isolamento autoimposto. De março a julho de 2020, nós avaliamos uma série de adultos britânicos que estiveram sob uma das três formas de restrição: autoisolamento, lockdown completo ou lockdown parcial. Enquanto o primeiro se refere a ficar em casa, sem sair para trabalhar, o parcial permite que a pessoa saia para ir ao trabalho.

Controladas as variáveis de idade e gênero, encontramos que aquelas pessoas em isolamento autoimposto relataram níveis de bem-estar psicológico e de felicidade menores em comparação às pessoas em lockdown completo ou parcial, sem diferenças entre os dois últimos grupos.

Os achados sugerem que o isolamento autoimposto afeta o bem-estar psicológico e a felicidade em um nível maior do que o lockdown.

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Animal social na jaula

As restrições devido à pandemia da Covid-19 elevaram os medos das pessoas sobre saúde e segurança, bem como as consequências sociais e financeiras. O isolamento autoimposto pode contribuir para essa sensação por conta da separação prolongada dos amigos e familiares – pessoas que formam a rede de apoio.

Isso acontece porque, durante o isolamento, as pessoas evitam contatos com todos, inclusive com pessoas que moram na mesma casa (levando em consideração que o isolamento autoimposto é feito por quem suspeita da doença).

Igualmente interessante é o achado de que não há diferenças entre aqueles que estão em um lockdown completo e os que estão em lockdown parcial. Isso sugere que as pessoas podem manter um senso de satisfação, otimismo, compromisso e um estado de humor positivo, apesar das restrições impostas sobre eles, o que uma prova da resiliência humana em condições difíceis.

Humanos são essencialmente animais sociais. Nossos grandes cérebros se desenvolveram para abraçar o contato social e desenvolver habilidade que nos ajudaram a sobreviver e prosperar. Essas habilidades incluem a linguagem, a resolução de problemas e planejamento, além da empatia e cuidado com o próximo. Nós estamos preparados para o contato social e para a comunicação.

Isolamento social quebra muitas dessas formas de comunicação e interação, que são chaves para formar laços sociais fortes. Não deveria ser surpresa nenhuma saber que períodos prolongados de isolamento podem levar a uma série de problemas psicológicos, assim como é visto no comportamento e na comunicação anormais de animais enjaulados.

Depois de um ano de pandemia, nós ainda precisamos entender a totalidade das consequências psicológicas da Covid-19. Mas, entendendo como as diferentes restrições afetam nossos animais sociais internos é um importante primeiro passo, enquanto navegamos por essa pandemia e nos preparamos para a próxima.

*Tom Hefernan é líder do Programa em Psicologia e Criminologia da Universidade de Northumbria, em Newcastle, na Inglaterra.

©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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