É muito comum pensar que a bronquite é uma doença única, mas essa inflamação das vias respiratórias, mais especificamente dos brônquios, responsáveis por levar o ar que entra pelo nariz aos pulmões, pode ter causas e manifestações distintas.
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A doença pode ser causada por vírus, bactéria ou por fatores ambientais e se manifestar como um episódio alérgico, como uma inflamação aguda ou crônica. “A aguda geralmente está relacionada a um quadro infeccioso ou inflamatório, seja viral, seja bacteriano e se manifesta como gripe, faringite ou amigdalite, durando de 1 a 2 semanas”, diz a pneumologista Janaína Krupp, do Pilar Hospital.
Já a crônica ocorre por três meses, tem sempre piora pela manhã, com períodos de melhora e costuma ser relacionada à asma, por este motivo sendo chamada de bronquite asmática ou asma brônquica. “Ela é relacionada a algumas doenças respiratórias, como a pneumonia e bronqueolite, que duram por períodos mais longos”, diz ela.
No caso da bronquite alérgica, ela acontece quando o paciente entra em contato com alguma substância que lhe causa alergia: pó, poeira, fumaça de cigarro e mudança do clima, ou ao inalar substâncias/partículas pequenas como a quem trabalha com gesso, em olarias, madeireiras, carvoarias, o que piora o quadro de bronquite ou pode causá-lo no futuro.
Do vírus à bactéria
A bronquite também pode evoluir de uma inflamação por vírus para uma inflamação por bactérias. “O processo ocorre com as próprias bactérias que vivem ali, mas que não estão em grande número e que, ao encontrarem ambiente propício para se multiplicarem, transformam aquilo em uma bronquite, uma traqueobronquite bacteriana”, diz o pediatra Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe. “Se os riscos à saúde da maioria das bronquites de causa viral são limitados e acabam melhorando sozinhas, ficando a secreção por mais tempo, uma bronquite ou traqueobronquite bacteriana pode exigir tratamento com antibióticos”, diz ele.
Sintomas comuns
Os pacientes com bronquite normalmente relatam sintomas relacionados à tosse seca, às vezes com secreção, chiado no peito, ou pressão no peito, a sensação do peito carregado. “Cansaço ao esforço e ao falar, falta de ar, irritação e sensação de coceira na garganta também são sintomas, além da possibilidade de surgirem a coriza, congestão nasal e espirros, quando relacionada à parte alérgica – e isso muito pela rinite alérgica, pois que muitos pacientes que têm a bronquite também apresentam rinite alérgica”, diz Janaína.
Aliás, em crianças, a bronquite mais frequente decorre de causas alérgicas, leva o nome de bronquite asmática, a qual muitos pais, popularmente, chamam de asma, como explica Gubert. “O que mais vemos no hospital, hoje, são crianças com bronquite asmática e alergias respiratórias filhos de pais que também foram muito alérgicos na infância”, diz ele, afirmando que na infância a principal causa de bronquite crônica é a bronquite asmática.
Quadros respiratórios de via aérea superior, em geral, que geram secreção respiratória, também são entendidos como bronquite. “Então esses quadros com secreção nasal, tosse seca e, na sequência, uma tosse mais carregada com produção de muco e catarro pelos pulmões, e até isso ser eliminado, podem ser encarados como uma bronquite aguda”, diz Gubert.
No Brasil, assim como ocorre em outros países, como nos Estados Unidos, é uma grande causa de hospitalização infantil o descontrole do tratamento crônico: o primeiro episódio mais grave de broncoespasmo que leva à bronquite asmática faz a criança precisar de oxigênio e outros recursos que só existem no hospital. “O período do ano que as crianças são mais suscetíveis a isso é o inverno e quando há mudanças climáticas”, diz ele, apontando que a descompensação ou agudização da doença pode se dar também pelo contato com alérgenos, como pó, poeira ou ainda ao se exercitar, visto que existe a bronquite asmática induzida pelo exercício.
Exames a partir de certa idade
Os exames que levam ao diagnóstico da bronquite comumente são o Raio-X de tórax, os exames laboratoriais e de alergia e, principalmente, segundo Janaína, a espirometria, que faz a prova de função pulmonar. “Alguns podem ainda ter de passar pela nasofaringolaringoscopia para ver se há relação com rinite, adenoide, desvio de septo e doença do refluxo”, diz ela.
Os exames para certificar a presença de bronquite asmática, como a espirometria, segundo Gubert, costumam ser feitos principalmente em crianças acima de 8 anos, e os exames de alérgenos, em maiores do que 5 anos de idade. “Então, até chegar nessas idades, os médicos supõem, pela história familiar dos pais em relação a alergias respiratórias, se a criança tem uma doença desencadeada por alguma alérgeno, pela mudança de tempo ou por algum quadro viral, sendo o diagnóstico clínico o que ajuda na decisão do melhor tratamento”, diz.
Bronquite em tratamento
Quando há o diagnóstico de bronquite, o ideal é que o tratamento seja conduzido por um pneumologista. Para as crianças, acompanhar com o pneumopediatra é importante, posto ser comum na infância a bronqueolite, doença mais séria e que, por vezes, exige internamento.
Segundo Gubert, é bem frequente crianças irem ao pronto-socorro com descompensação de quadros de bronquite asmática que acaba sendo encarada como quadro infeccioso bacteriano, recebendo antibiótico desnecessariamente. “Esse excesso de antibiótico é ruim para a criança, que não trata corretamente, e para a população em geral, por eliminar bactérias saudáveis do nosso corpo, predispondo a mais alergias e até mesmo a doenças auto-imunes”, explica.
Janaína afirma que após o diagnóstico, o tratamento costuma ser feito com medicação, às vezes antibióticos quando se tem uma infecção bacteriana; com o broncodilatador, para que dilate o brônquio e o paciente consiga respirar melhor e/ou o inalador; além do anti-histamínico, caso haja coriza e congestão nasal. “É preciso saber a causa da bronquite para tratá-la corretamente e melhorar os sintomas. Adultos podem precisar de internamento quando idoso e com comorbidades, como hipertensão e diabete, podendo a infecção bacteriana piorar esses quadros”, diz ela.
Além das medicações, do acompanhamento com o pneumopediatra ou pneumologista adulto, o ideal para o paciente é ter um ambiente arejado, sem pó, poeira e mofo, responsável por muitas crises. “O paciente deve tomar vacinas, seja para a pneumonia, como a pneumo23 e a prevenar13, seja para a gripe (a influenza) e, agora, para a Covid-19”, diz ela.
Aqueles pacientes que têm uma doença alérgica, diz ela, quando fazem os exames de sangue que mostram IgE total aumentada, muitas vezes vão ter uma asma ou uma bronquite de difícil controle, assim como uma rinite de difícil controle. O ideal, de acordo com Janaína, seria que essa pessoa também tivesse um acompanhamento com um alergologista.
Mitos comuns sobre bronquite
Um dos mitos mais populares sobre a bronquite, segundo Janaína, diz respeito à cura da bronquite. “Tem quem diga que se curou ou que não tem mais sintomas, ou que com remédio não vai mais ter sintomas, mas não é assim. O remédio é uma manutenção para não ter crise, porém, algum evento externo pode volta a causar crises, como um paciente com bronquite alérgica, que pode estar superbem, entrar no elevador e ter uma pessoa com perfume mais forte, e dali gerar uma crise”, diz ela.
Outra informação falsa que costuma ser muito divulgado diz respeito ao papel do pelo dos animais nas bronquites. “Hoje se sabe que os pelos de gato e cachorro não são maléficos para desenvolver bronquite, mas podem ser até mesmo fator protetor de alergia a esses dois alérgenos, ao sensibilizar contra alergias graves, como a anafilaxia”, diz Gubert.