A farmacêutica britânica AstraZeneca disse nesta sexta-feira (11) que irá colaborar com o Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia, para combinar sua própria vacina experimental para a Covid-19 com a Sputnik V, do instituto russo. De acordo com a companhia, a administração repetida de um imunizante provavelmente aumentará a eficácia da imunização, tanto no caso de múltiplas injeções da mesma vacina quanto de uma combinação de diferentes vacinas.
A AstraZeneca disse que está explorando maneiras de entender se duas vacinas baseadas em um vírus do tipo adenovírus podem ser combinadas com sucesso. Segundo a farmacêutica, avaliar diferentes tipos de vacinas para a Covid-19 em combinação pode ajudar a desbloquear sinergias na proteção e melhorar o acesso ao imunizante.
"Hoje nós anunciamos um programa de estudo clínico para avaliar a segurança e a imunogenicidade da combinação da AZD1222, desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford com a Sputnik V, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia", destaca a farmacêutica no site, em uma publicação em inglês e em russo. O estudo clínico começará pela busca de pacientes com 18 anos ou mais.
Erro na dosagem
No fim de novembro, quando divulgou os resultados preliminares dos testes clínicos de fase 3, a farmacêutica AstraZeneca admitiu um erro na dosagem da vacina. No grupo de pessoas que receberiam o imunizante, uma parte recebeu, na primeira injeção, metade da dose estimada, e a dose completa na segunda injeção. Enquanto isso, a outra parte recebeu, nas duas vias, as doses completas.
A diferença gerou três diferentes valores de eficácia, sendo que o grupo que recebeu uma dose e meia apresentou um número maior: 90% de eficácia. O grupo que recebeu as duas doses completas apresentou 62% de eficácia. No cálculo dos pesquisadores, a eficácia média ficou em 70%. Os resultados preliminares foram publicados na revista científica Lancet.
Depois do anúncio, a farmacêutica revelou que planejava um novo estudo clínico, feito nos Estados Unidos, com 30 mil participantes, para confirmar os achados com o regime de meia dose.
Mesma estratégia
Tanto a vacina em desenvolvimento pela AstraZeneca/Oxford quanto a Sputnik V, do Instituto Gamaleya, usam da mesma estratégia para treinar o sistema imunológico contra o novo coronavírus: vetor viral.
Esse tipo de vacina usa um vírus diferente daquele que se pretende combater, como o adenovírus [usado tanto pela farmacêutica britânica quanto pelo instituto russo], causador do resfriado, retira o material genético e o transforma em uma espécie de "fantasia". A ideia é enganar o sistema imunológico a achar que se trata de um adenovírus, e uma vez que ele entre nas células, esse vetor entrega as informações genéticas do coronavírus, que o sistema imunológico precisa aprender a se defender.
A estratégia não é tão comum, mas tem tido bons resultados nos testes clínicos contra a Covid-19. "O sistema imunológico não quer saber se aquele vírus é um adenovírus ou se é um vetor viral de outro vírus, e responde contra tudo, inclusive contra a proteína do coronavírus que foi inserida", explica Flavio da Fonseca, virologista e pesquisador do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A diferença entre as estratégias da AstraZeneca e do Instituto Gamaleya é que, embora ambas prevejam a aplicação de duas doses do imunizante, no caso da primeira, as duas doses seriam com o mesmo tipo de adenovírus. Enquanto que na Sputnik V, são adenovírus diferentes. Isso, segundo os pesquisadores russos, conferiria uma maior eficácia.
Recentemente, o instituto divulgou os resultados preliminares da fase 3 da Sputnik V, que apresentou uma eficácia de até 95%, após a segunda dose. O anúncio de um hospital próximo a Moscou destaca, ainda, que o país começou a vacinar a população no fim de novembro.