Faz parte do esforço dos pesquisadores e pediatras, desde o início da pandemia da Covid-19, entender por que algumas crianças desenvolvem sintomas leves e outras têm uma infecção pelo coronavírus mais grave, até mesmo precisando de atendimento hospitalar. Duas pesquisas divulgadas no início de junho colaboram com estas respostas.
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A primeira, publicada na revista científica Journal of American Medical Association (JAMA), analisou as informações de saúde de 43.465 pacientes atendidos em 872 hospitais nos Estados Unidos, com idades até os 18 anos, entre março de 2020 e janeiro de 2021. Nos resultados, os pesquisadores perceberam que pouco mais de 1/4 (28,7%) das crianças e adolescentes com Covid-19 tinham pelo menos uma condição crônica.
A mais comum foi a asma, identificada em 10,2% dos pacientes. Na sequência:
- Distúrbios do neurodesenvolvimento, como epilepsias (3,9%).
- Ansiedade e condições associadas ao medo (3,2%);
- Depressão (2,8%);
- Obesidade (2,5%), que também é uma característica observada entre os adultos com maior gravidade para a Covid-19.
As condições acima foram verificadas ao olharem os dados de saúde de todos os pacientes que buscaram atendimento diagnosticados com Covid-19 – fosse a doença grave, moderada ou com sintomas mais brandos.
Crianças internadas com Covid-19 grave
Ao olharem para os pacientes que foram internados por complicações da infecção, os pesquisadores viram outras condições de destaque, como diabete tipo 1; distúrbios circulatórios e cardíacos, e obesidade.
Os dois primeiros foram vistos como os fatores com maior risco para a doença mais grave. "Esta análise de prevalência [corte transversal] mostrou que crianças com diabete tipo 1, anomalias congênitas cardíacas ou circulatórias, obesidade, hipertensão primária, epilepsia, distúrbios neuropsiquiátricos e asma, assim como crianças com doenças crônicas, tinham um risco aumentado de hospitalização ou Covid-19 severa", destacam os pesquisadores no artigo publicado.
Ainda, crianças com 1 ano de idade ou menos, como prematuridade, tinham também um risco aumentado para a doença mais grave. "Medidas de prevenção públicas e de prioridade na vacinação devem considerar o potencial para a Covid-19 severa entre as crianças com essas comorbidades e doenças crônicas", completam.
Ansiedade e depressão
O fato de a asma ocupar o primeiro lugar nas condições mais vistas entre as crianças com Covid-19 que buscaram atendimento médico não causa espanto entre os especialistas da área. Mas a presença da ansiedade e depressão intriga os especialistas, segundo Sandra Lange Zaponi Melek, médica pediatra e intensivista, presidente do departamento de Terapia Intensiva da Sociedade Paranaense de Pediatria e do comitê científico da Sociedade Brasileira de Pediatria.
"Sabemos que a ansiedade e a depressão diminuem a imunidade, mas foi uma surpresa, para mim, esses dados do emocional. A gravidade maior que nós temos visto está associada a comorbidades, como por exemplo as doenças neurológicas, tais como epilepsia grave, paralisia cerebral, crianças que precisam de cuidado de home care", explica a especialista.
No caso da asma, Melek lembra que não se trata da doença leve, mas a grave – assim como é visto entre os adultos. Pessoas com asma grave, inclusive, se encaixam no grupo prioritário do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19 e devem buscar se vacinar, de acordo com o planejamento de cada município.
Quando a criança precisa da ventilação mecânica contra a Covid-19?
O segundo estudo, conduzido por pesquisadoras brasileiras da Escola de Medicina da Universidade Federal da Bahia, procurou por diferenças entre dois grupos de crianças com infecção do trato respiratório inferior [que inclui a parte inferior da traqueia, os brônquios, bronquíolos, alvéolos e os pulmões]:
- As que tinham sido diagnosticadas com Covid-19;
- As que tinham uma infecção por outro agente causador.
As pesquisadoras olharam para os dados de 210 crianças e adolescentes, menores de 17 anos, internados na Unidade de Terapia Intensiva pediátrica na capital Salvador entre abril de 2020 e abril de 2021. Nos resultados, os pacientes com a infecção do trato respiratório inferior com o Sars-CoV-2 tinham o dobro do risco de precisar de ventilação mecânica invasiva (VMI), em comparação com os pacientes sem a infecção pelo coronavírus.
"Nossos resultados mostram que pacientes pediátricos admitidos nas UTIs com infecção do trato respiratório inferior com Sars-CoV-2 mais frequentemente precisavam de ventilação mecânica invasiva (25,8% versus 11,5%) e morriam (8,1% versus 2,0%). Cerca de um quarto dos casos positivos para o Sars-CoV-2 precisou de VMI", destacam as pesquisadoras na carta publicada.