Entre quem acompanha as notícias da Covid-19, ouvir falar em arritmia cardíaca não é novidade. Listada como um dos principais efeitos adversos entre quem usa, sem orientação médica, os medicamentos hidroxicloroquina/cloroquina, a arritmia é uma doença que favorece o surgimento de outras condições, como infartos e até mesmo o Acidente Vascular Cerebral, o chamado AVC.
A arritmia cardíaca se caracteriza quando o coração foge do controle do sistema elétrico que o comanda, e acaba batendo fora da frequência em que deveria. Quando há uma aceleração, é chamada de taquicardia. Caso fique mais lento, chama-se bradicardia.
Ainda assim, vale lembrar que os batimentos cardíacos funcionam de maneira fisiológica, e variam de acordo com a necessidade do corpo. Por exemplo, ao dormir, o coração bate mais devagar. Ao praticar um exercício físico, como a corrida, a frequência aumenta.
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca (SOBRAC), o país registra, anualmente, 20 milhões de casos, que geram em torno de 320 mil mortes por ano. "As doenças cardíacas são as principais causas de morte da sociedade. Aproximadamente metade delas é de morte súbita, e destas, a maior causa é de arritmia”, explica Ricardo Alkmim Teixeira, médico cardiologista e presidente da entidade médica.
A SOBRAC estima, porém, que embora os números acima sejam de novembro de 2018, há o risco de uma subnotificação. "Depende da maneira como os dados são lançados, mesmo quando consultamos a plataforma do SUS. Por mais que tenhamos informações fidedignas, úteis e entendimento do contexto nacional, depende de como ele é registrado [no sistema]. Do motivo da internação, do óbito, etc. Se ele não é feito de maneira correta, isso altera os dados", avalia Teixeira.
Outra dificuldade para o levantamento das informações sobre a arritmia no país está também no tamanho do Brasil e nas informações de lugares mais afastados, bem como no acesso às emergências e hospitais.
Sintomas e grupo de risco
Dos sintomas mais comuns da arritmia cardíaca, estão:
- Palpitações;
- Cansaço;
- Desmaios;
- Tontura;
- Confusão mental;
- Fraqueza;
- Pressão arterial baixa;
- Falta de ar;
- Dor no peito.
A palpitação se caracteriza pela pessoa "sentir" o coração batendo, diferente de uma situação comum que, mesmo em sua atividade normal, não se sente bater. Isso pode ser percebido não só na região do peitoral, mas em outros locais também, como o pescoço, por exemplo.
A arritmia pode atrapalhar a circulação de sangue no corpo. Tonturas e desmaios acontecem pela baixa circulação no cérebro, enquanto que o mesmo problema no resto do corpo causa a fraqueza, pressão baixa e falta de ar. A dor no peito pode se assemelhar à mesma de um infarto.
Os sintomas podem ocorrer de maneira súbita, ou serem gradativos. Existem também os fatores de risco, que agravam os quadros. Geralmente estão entre eles as condições cardíacas adquiridas ao longo da vida, como hipertensão, além de diabetes, níveis elevados de colesterol, tabagismo, bebidas alcoólicas, sobrepeso, sedentarismo, um nível de estresse elevado no dia a dia ou que grupos com histórico na família de doença cardíaca.
Embora possa acontecer em todas as idades, a arritmia tem uma prevalência maior entre adultos na faixa dos 35 aos 40 anos. Para quem está abaixo dessa idade, a probabilidade de apresentar os problemas graves é pequena e, caso aconteça, a maior chance é de que seja um problema do sistema elétrico que controla o coração. "Mesmo com fator de risco, a pessoa abaixo dos 35 aos 40 anos ainda não machucou o sistema cardiovascular o suficiente", explica o presidente.
Homens são ainda mais propensos que mulheres. No entanto, após a menopausa, as chances aumentam. "As pessoas devem ficar atentas a duas coisas: controlar os fatores de riscos e prestar atenção nos sintomas", avisa o especialista.
Medicamentos com efeitos colaterais
Alguns medicamentos também podem apresentar, como efeitos colaterais, o desenvolvimento de arritmias. É o caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, mas também de antipsicóticos, alguns antibióticos, antialérgicos, antidepressivos, além dos próprios antiarrítmicos.
Mesmo medicamentos que são usados em tratamento de infartos podem ter esse efeito colateral – por isso a importância em fazer uso apenas de medicações indicadas por um especialista. "Tudo vai depender de uma indicação correta e uma dosagem correta. Temos que saber dosar para que o efeito colateral não seja maior que o efeito de medicamento", orienta Teixeira.
Com relação à hidroxicloroquina/cloroquina para o combate à Covid-19, a SOBRAC considera "a necessidade de evidências científicas definitivas acerca do emprego de tratamentos médicos", conforme divulgado em nota oficial em seu site. As substâncias são seguras dentro dos parâmetros que foram pesquisados, principalmente no combate à malária e doenças reumatológicas, mas o mesmo ainda não pode se afirmar no combate ao novo coronavírus.
"Todo remédio precisa ser estudado. O fato de ela [a cloroquina] poder causar arritmia é um alerta, existe um efeito colateral que é conhecido. Não se pode pegar as informações de outras doenças e extrapolar para a Covid-19. Precisamos pesquisar e fazer um estudo clínico robusto para ter uma posição precisa", salienta o presidente da entidade.