Giovani e Rosangela foram internados em fevereiro e prepararam quase 200 cartas para homenagear a equipe médica que os atendeu. Segundo eles, a mensagem foi escrita em abril, mas entregue aos médicos no último dia 9 de maio.| Foto: Arquivo pessoal
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Depois de serem internados com Covid-19 em fevereiro deste ano e terem quase 80% dos pulmões comprometidos, Giovani Cristóvão de Souza e Rosangela Bonfim receberam alta do Pilar Hospital, em Curitiba, enfrentaram uma longa recuperação em casa e retornaram ao centro médico no último dia 9 de maio.

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Só que, dessa vez, o encontro com os plantonistas não foi para aliviar a extrema falta de ar, a baixa saturação de oxigênio ou o pânico diante de tantos sintomas. “Nós voltamos para agradecer”, relatam os paranaenses, que compraram chocolates e prepararam quase 200 cartas para entregar aos funcionários da instituição. “Nossa vontade é abraçá-los, pois não há palavras para expressar nossa gratidão”, escreveram no bilhete. “Porém, como o abraço não é possível, saibam que seremos eternamente gratos a vocês, nossos heróis”, continuava a mensagem.

De acordo com o casal, o primeiro a ser infectado foi o marido, de 53 anos, que permaneceu 32 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), precisou ser intubado três vezes e realizou uma traqueostomia – incisão na traqueia na tentativa de possibilitar a passagem de ar. “Era angustiante saber que eu estava prestes a perder minha vida, mas meus familiares não podiam estar comigo”, relata Giovani.

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No entanto, ele garante que a dedicação da equipe do hospital o ajudou a enfrentar as dificuldades. “Eu achava que não conseguiria fazer nada, mas vinha alguém e me incentivava a levantar, me dava banho, fazia minha barba e dizia que eu ia melhorar”, conta o gestor de recursos humanos. “Vocês são anjos de Deus aqui na Terra ajudando a operar milagres", disse ele aos funcionários do hospital.

E um dos momentos mais marcantes, segundo ele, foi quando recebeu a notícia de que sua mulher também estava internada. “A assistente social me contou aquilo e eu senti muita angústia, principalmente porque queria gravar algo para a minha esposa, mas não conseguia falar por causa da traqueostomia”, afirma. “Era muito difícil saber que nós dois estávamos lutando para sobreviver”.

Giovani passou 32 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), enquanto Rosangela permaneceu 20 dias internada. Fotos: Arquivo pessoal
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Segundo Rosangela, seus primeiros sintomas de Covid-19 apareceram quando o marido foi hospitalizado. No entanto, pioraram 11 dias depois, quando ela não conseguiu mais levantar da cama, apresentou muita falta de ar e precisou de atendimento médico urgente.

“Cheguei ao pronto atendimento, fiz uma tomografia e logo perdi a consciência”, afirma a mulher de 53 anos, que foi intubada duas vezes, apresentou insuficiência renal aguda e delirava bastante devido aos medicamentos. “Em uma dessas alucinações, eu até me despedi do meu único filho, o Lucas, e aquilo foi terrível”.

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Ao todo, ela passou 20 dias no hospital, emagreceu 25 quilos e só percebeu sua real condição quando estava prestes a deixar a UTI. “Eu estava usando fraldas, não tinha força para fazer nada, minha voz saía baixa e eu não conseguia movimentar o braço esquerdo”, relata a curitibana, ao citar ainda a sensação desesperadora de sede. “Eu implorava por um gole de água”.

No entanto, ela garante que, da mesma forma que aconteceu com Giovani, foi o carinho da equipe médica, aliado às orações de muitos amigos e familiares, que lhe deram força para enfrentar a fase inicial de recuperação. “Eles me ajudaram muito, e eu vivi o milagre de ver meu filho novamente, ir para casa e reencontrar meu marido”.

Rosangela deixou o hospital dia 17 de março, enquanto seu marido recebeu alta cinco dias depois. “O Lucas foi buscar o pai e eles se abraçaram por uns 15 minutos, chorando muito”, lembra a mulher, que continuou se recuperando com ajuda do filho de 28 anos, da nora e de uma fisioterapeuta voluntária. “Eles nos incentivavam com exercícios, cuidavam da nossa alimentação, dos remédios, tudo”.

Exercícios físicos, fisioterapia e uma alimentação adequada foram essenciais para a recuperação de Giovani e Rosangela em casa. Fotos: Arquivo pessoal

Recuperados e gratos

Agora, o casal já voltou à rotina, recuperou a massa muscular perdida, e Giovani consegue caminhar até seis quilômetros. “Mas logo poderei correr e jogar futebol como fazia antes”, anseia o curitibano, que também voltou a trabalhar e evita se estressar no dia a dia. “Depois de passar por algo assim, a gente aprende a viver melhor, valorizar as pessoas e ter mais paciência”.

E, para nunca esquecer essas lições, ele decidiu ficar com a marca da traqueostomia no pescoço. “O cirurgião perguntou se eu queria tirar, mas falei que esse sinal vai nos lembrar diariamente que devemos ser pessoas melhores”, diz. “Afinal, aprendemos a acordar pela manhã e agradecer por tudo que Deus e os anjos usados por Ele fizeram por nós. Nunca esqueceremos isso”, completa Rosangela.

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Giovani decidiu ficar com a marca da traqueostomia no pescoço para lembrar que precisa ser uma pessoa melhor a cada dia. Fotos: Arquivo pessoal

Emoção no hospital

A ação realizada no Pilar Hospital dia 9 de maio, por exemplo, foi uma das iniciativas que o casal pretende realizar para contar sua história e demonstrar gratidão. Lá, eles se emocionaram durante a entrega dos bombons e das cartas – escritas no mês anterior – e viram diversas pessoas da equipe médica também se comoverem com a lembrança.

"Da mesma forma que nós cuidamos deles num momento em que estavam fragilizados e vulneráveis, esse casal também nos envolveu com um abraço carinhoso por meio de palavras para nos lembrar que tudo ficará bem", afirmou a psicóloga da instituição, Manuela Pimentel Leite.

Sem dúvida, “isso nos motiva a seguir em frente com o trabalho extenuante na pandemia, lembrando do esforço do time e de como esse esforço vale a pena", finaliza a médica intensivista Elisa Bana, coordenadora das UTIs do Pilar Hospital.