Depois de serem internados com Covid-19 em fevereiro deste ano e terem quase 80% dos pulmões comprometidos, Giovani Cristóvão de Souza e Rosangela Bonfim receberam alta do Pilar Hospital, em Curitiba, enfrentaram uma longa recuperação em casa e retornaram ao centro médico no último dia 9 de maio.
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Só que, dessa vez, o encontro com os plantonistas não foi para aliviar a extrema falta de ar, a baixa saturação de oxigênio ou o pânico diante de tantos sintomas. “Nós voltamos para agradecer”, relatam os paranaenses, que compraram chocolates e prepararam quase 200 cartas para entregar aos funcionários da instituição. “Nossa vontade é abraçá-los, pois não há palavras para expressar nossa gratidão”, escreveram no bilhete. “Porém, como o abraço não é possível, saibam que seremos eternamente gratos a vocês, nossos heróis”, continuava a mensagem.
De acordo com o casal, o primeiro a ser infectado foi o marido, de 53 anos, que permaneceu 32 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), precisou ser intubado três vezes e realizou uma traqueostomia – incisão na traqueia na tentativa de possibilitar a passagem de ar. “Era angustiante saber que eu estava prestes a perder minha vida, mas meus familiares não podiam estar comigo”, relata Giovani.
No entanto, ele garante que a dedicação da equipe do hospital o ajudou a enfrentar as dificuldades. “Eu achava que não conseguiria fazer nada, mas vinha alguém e me incentivava a levantar, me dava banho, fazia minha barba e dizia que eu ia melhorar”, conta o gestor de recursos humanos. “Vocês são anjos de Deus aqui na Terra ajudando a operar milagres", disse ele aos funcionários do hospital.
E um dos momentos mais marcantes, segundo ele, foi quando recebeu a notícia de que sua mulher também estava internada. “A assistente social me contou aquilo e eu senti muita angústia, principalmente porque queria gravar algo para a minha esposa, mas não conseguia falar por causa da traqueostomia”, afirma. “Era muito difícil saber que nós dois estávamos lutando para sobreviver”.
Segundo Rosangela, seus primeiros sintomas de Covid-19 apareceram quando o marido foi hospitalizado. No entanto, pioraram 11 dias depois, quando ela não conseguiu mais levantar da cama, apresentou muita falta de ar e precisou de atendimento médico urgente.
“Cheguei ao pronto atendimento, fiz uma tomografia e logo perdi a consciência”, afirma a mulher de 53 anos, que foi intubada duas vezes, apresentou insuficiência renal aguda e delirava bastante devido aos medicamentos. “Em uma dessas alucinações, eu até me despedi do meu único filho, o Lucas, e aquilo foi terrível”.
Ao todo, ela passou 20 dias no hospital, emagreceu 25 quilos e só percebeu sua real condição quando estava prestes a deixar a UTI. “Eu estava usando fraldas, não tinha força para fazer nada, minha voz saía baixa e eu não conseguia movimentar o braço esquerdo”, relata a curitibana, ao citar ainda a sensação desesperadora de sede. “Eu implorava por um gole de água”.
No entanto, ela garante que, da mesma forma que aconteceu com Giovani, foi o carinho da equipe médica, aliado às orações de muitos amigos e familiares, que lhe deram força para enfrentar a fase inicial de recuperação. “Eles me ajudaram muito, e eu vivi o milagre de ver meu filho novamente, ir para casa e reencontrar meu marido”.
Rosangela deixou o hospital dia 17 de março, enquanto seu marido recebeu alta cinco dias depois. “O Lucas foi buscar o pai e eles se abraçaram por uns 15 minutos, chorando muito”, lembra a mulher, que continuou se recuperando com ajuda do filho de 28 anos, da nora e de uma fisioterapeuta voluntária. “Eles nos incentivavam com exercícios, cuidavam da nossa alimentação, dos remédios, tudo”.
Recuperados e gratos
Agora, o casal já voltou à rotina, recuperou a massa muscular perdida, e Giovani consegue caminhar até seis quilômetros. “Mas logo poderei correr e jogar futebol como fazia antes”, anseia o curitibano, que também voltou a trabalhar e evita se estressar no dia a dia. “Depois de passar por algo assim, a gente aprende a viver melhor, valorizar as pessoas e ter mais paciência”.
E, para nunca esquecer essas lições, ele decidiu ficar com a marca da traqueostomia no pescoço. “O cirurgião perguntou se eu queria tirar, mas falei que esse sinal vai nos lembrar diariamente que devemos ser pessoas melhores”, diz. “Afinal, aprendemos a acordar pela manhã e agradecer por tudo que Deus e os anjos usados por Ele fizeram por nós. Nunca esqueceremos isso”, completa Rosangela.
Emoção no hospital
A ação realizada no Pilar Hospital dia 9 de maio, por exemplo, foi uma das iniciativas que o casal pretende realizar para contar sua história e demonstrar gratidão. Lá, eles se emocionaram durante a entrega dos bombons e das cartas – escritas no mês anterior – e viram diversas pessoas da equipe médica também se comoverem com a lembrança.
"Da mesma forma que nós cuidamos deles num momento em que estavam fragilizados e vulneráveis, esse casal também nos envolveu com um abraço carinhoso por meio de palavras para nos lembrar que tudo ficará bem", afirmou a psicóloga da instituição, Manuela Pimentel Leite.
Sem dúvida, “isso nos motiva a seguir em frente com o trabalho extenuante na pandemia, lembrando do esforço do time e de como esse esforço vale a pena", finaliza a médica intensivista Elisa Bana, coordenadora das UTIs do Pilar Hospital.