Antibióticos, xaropes e outros remédios voltados à saúde infantil têm um ingrediente secreto que nem todos os pais conhecem. Trata-se do açúcar, do tipo sacarose, que é facilmente visto ao se cristalizar na tampa ou escorrer pelo vidro. A presença do açúcar não é danosa em si, mas se torna um risco para a saúde bucal das crianças quando não é feita a limpeza correta da boca após o uso. E esse cenário é bastante comum, conforme lembram os odontopediatras.
“Esses remédios são muito doces e quase sempre são dados duas, três e até quatro vezes ao dia. Invariavelmente acabam sendo dados à noite: a criança, dormindo, e a mãe ou pai precisa dar o remédio de madrugada, ou antes de dormir e, na maioria das vezes, ela não faz a higienização bucal depois”, explica Eduardo Saltori, odontopediatra e professor da PUCPR.
À noite, as glândulas salivares também entram em repouso, assim como a língua. Dessa forma, o remédio (com açúcar) acaba acumulado entre os dentes e a boca. “Quando acontece vez ou outra, o risco é pequeno. Mas tem muitas crianças com problemas respiratórios e que precisam fazer uso do remédio com mais frequência”, alerta o especialista.
“Higienizar a boca da criança é um desafio aos pais. Ela vai relutar, chorar, espernear. Por isso a importância de incorporar o hábito desde bebê. Vale lembrar que a criança não sabe escovar os dentes. Quem tem que fazer isso são os pais, em uma segunda escovação”.
Dos riscos, a odontopediatra Carolina Dea Bruzamolin, professora da Universidade Positivo, lembra que, além de uma perda mineral do dente, há o risco de desenvolvimento da cárie. “Mas, se há uma higiene bucal associada [ao uso dos remédios], é mais difícil que a criança tenha a doença. O importante é higienizar de alguma forma, mesmo que a criança esteja dormindo. Os pais podem tentar levantar o lábio, remover o excesso nos dentes”, explica.
Tomou remédio? Escove os dentes
Embora o açúcar não esteja presente em todos os medicamentos, é possível encontrá-lo na maioria deles, principalmente naqueles que trazem o alerta no rótulo a partir dos “sabores”: tutti-frutti, uva e morango, por exemplo. Assim, o cenário ideal para os odontopediatras é que as crianças sempre façam a escovação completa depois de tomarem qualquer medicamento.
“Se a criança estiver dormindo, o pai pode usar uma fralda ou pano molhado em água fervida com um pouco de pasta de dente e fazer uma limpeza. Será superficial, mas pelo menos não terá um acúmulo tão grande do medicamento”, sugere Carolina Bruzamolin, odontopediatra. Um bochecho com água também ajuda, pois favorece a desorganização da sujeira acumulada. Mas, sempre que possível, vale a escovação adequada, com o uso do fio-dental.
Mude o horário
Diante dos riscos da medicação à saúde bucal, os especialistas Eduardo Saltori e Carolina Bruzamolin sugerem outras medidas que os pais podem tomar:
- Mude o remédio, se possível. Verifique com o médico as alternativas sem açúcar ou de aplicação diferente da oral, para redução do risco à saúde bucal. Com o odontopediatra, busque orientações sobre a limpeza mais adequada da boca da criança.
- Mude o horário da medicação. Tente manter as doses ao longo do dia, deixando a noite livre do remédio e do risco de não haver uma escovação adequada;
- Diabete. A criança tem diabete? Medicamentos com açúcar podem afetar a glicemia.
- Escovação. Fique atento à escovação da criança. Se ainda estiver na primeira infância, os pais devem refazer a escovação dos filhos