A inflamação do apêndice, um pequeno órgão que fica na primeira porção do intestino grosso, costuma ter início com uma dor leve ou um desconforto próximo do umbigo e que lentamente fica mais forte enquanto se move à região direita e inferior do abdome, próxima à bacia.
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A perda de apetite é outro sintoma muito comum associado à dor, e ainda podem ocorrer náuseas, vômitos, febre, calafrios, rigidez e “inchaço” abdominal, constipação e até diarreia, explica o cirurgião geral e do aparelho digestivo Flavio Panegalli Filho, do Hospital Vita. Apesar de ser mais comum em adultos jovens (20-30 anos), todas as faixas etárias podem ser acometidas.
Alguns pacientes, diz o cirurgião oncológico Vinícius Preti, podem ainda ter dor na região lombar direita, confundindo ou com dores renais, ou com infecção urinária. “Toda dor na parte de baixo e à direita do abdome deve ter a apendicite como hipótese e toda dor abdominal que piora de intensidade ou não melhora precisa de avaliação médica de urgência”, diz ele, que é professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Como o quadro clínico pode variar, com casos em que há desde poucos sintomas a outros em que a dor se inicia já no andar inferior do abdome com rápida evolução e, ainda, casos em que a dor pode até mesmo ser alta devido a alterações na localização do apêndice cecal no interior do abdome, a avaliação médica em um setor de emergência é necessária, diz Panegalli Filho.
Apertar a região e constatar a dor na área ao retorno da pressão é um sinal clínico não especifico para apendicite, embora possa significar além de apendicite alguma outra alteração que também pode ser cirúrgica, diz Panegalli Filho.
Segundo ambos os especialistas, nenhum autoexame caseiro é recomendado ou pode concluir de forma assertiva sobre o diagnóstico. “Os testes caseiros podem levar a uma falsa impressão de que não há apendicite”, diz Preti.
Cirurgia é inevitável?
Ter o diagnóstico de apendicite, e até mesmo apenas a suspeita da condição, é ter de encarar inevitavelmente uma cirurgia para a retirada do órgão inflamado, segundo os especialistas. “O tratamento da apendicite é sempre cirúrgico e, quanto antes se diagnosticar, menos complicações cirúrgicas podem ocorrer e mais simples a cirurgia será”, diz Preti.
A apendicite aguda, como o nome diz, segundo Panegalli Filho, é um quadro clínico agudo, não-crônico e de instalação rápida no organismo, ao acaso, sem aviso prévio e comumente por algumas causas (obstrução pelo apendicolito, hiperplasia linfoide e até tumores).
“No passado, com acesso à saúde escasso e poucos recursos, havia quem morresse de apendicite aguda, isso porque este quadro é evolutivo e, se não tratado, pode levar a complicações como infecções gravíssimas e generalizadas, que podem levar a óbito”, diz ele, citando que hoje a condição imprescindível para a cirurgia é apenas ter o diagnóstico de apendicite aguda.
“Não é razoável tratar de maneira clínica com antibióticos um quadro que invariavelmente irá evoluir para complicações ou piora, pois este tratamento clínico não retira a causa do problema”, alerta Panegalli Filho.
Entre as complicações prováveis que podem decorrer da não realização da cirurgia em casos agudos estão processos inflamatórios avançados com aderências em outros órgãos, abscessos intra-abdominais, perfuração do apêndice cecal com contaminação fecal livre de toda a cavidade, infecção generalizada e mesmo óbito por todas estas causas.
Critérios de gravidade
Dois critérios importantes na triagem do caso de apendicite e sua gravidade são a febre e o tamanho do apêndice. A febre nem sempre está presente em quadros iniciais, mas quando ela é detectada, pode estar relacionada a quadros mais avançados com abscessos ou contaminação de cavidade.
“Porém isto não é regra: assim como pode haver casos iniciais que cursam com febre, há quadros mais avançados ou complicados sem febre”, diz Panegalli Filho.
O tamanho do apêndice em geral é verificado através de exames de imagem, principalmente ecografia, mas pode-se recorrer ainda ou à ultrassonografia ou à tomografia de abdome. Porém, segundo Panegalli Filho, a informação mais importante é a espessura do apêndice, que aumenta quando há processo inflamatório.
“Há ainda sinais indiretos que são observados e caracterizam a inflamação, como densificação das gorduras adjacentes, nos casos mais iniciais e abscessos, líquido livre e até o pneumoperitôneo (sinal de gás fora do intestino, que significa perfuração) nos casos mais avançados ou complicados”, diz ele.
Os casos de complicações de apendicites em geral ocorrem por diagnóstico tardio (procurar o atendimento muito tempo após o início dos sintomas) ou inadequado. “Além disso, os sintomas de suspeita de apendicite podem estar relacionados a outros e mais graves diagnósticos que podem requerer cirurgia ainda mais emergencial, como gravidez ectópica rota ou cistos ovarianos hemorrágicos rotos nas mulheres, além de perfurações intestinais de outra natureza”, finaliza o cirurgião do aparelho digestivo.
Causas da apendicite
Confira o que pode estar por trás da inflamação:
- A causa mais comum é a obliteração/obstrução do apêndice por fezes endurecidas, chamada de fecalito, que passa para o seu interior, estimulando resposta do sistema imune com inflamação/edema local, com diminuição do suprimento sanguíneo e proliferação bacteriana.
- Outra causa é a hiperplasia folicular linfoide, que é a hipertrofia do tecido linfático na base do apêndice, outro tipo de quadro inflamatório que pode levar à obstrução do apêndice cecal.
- Doenças como tumores de apêndice e de ceco (intestino) podem simular quadro clínico de apendicite cecal.
- Seja qual for a causa, que nem sempre pode ser identificada, o mais importante é identificar os sintomas e encaminhar para um serviço médico para atendimento rápido.