Uma classe de medicamentos mostrou nesta semana os primeiros resultados promissores para o combate da Covid-19. Os anticorpos monoclonais, versões de laboratório dos anticorpos produzidos pelo corpo humano para combater o vírus, são tidos como uma aposta de tratamento enquanto uma vacina contra o novo coronavírus não está disponível.
A empresa farmacêutica Eli Lilly anunciou na quarta-feira (16) os resultados preliminares de seu medicamento desenvolvido com anticorpos monoclonais que, segundo a empresa, ajudou os pacientes a eliminar o vírus mais rápido e pode ter evitado que eles fossem hospitalizados. O trabalho é feito em parceria com a canadense ABCellera.
Os testes foram feitos em 452 pacientes com diagnóstico positivo para Covid-19 com sintomas leves a moderados, que receberam uma de três doses do anticorpo sintético (chamado LY-CoV555) ou placebo. Os resultados ainda não foram publicados em um periódico científico.
A dose intermediária, de 2.800 mg, cumpriu o objetivo do experimento, que era de reduzir de forma significativa a carga viral no sangue dos pacientes após 11 dias. As outras doses, de 700 mg e 7.000 mg, não atingiram esse critério. No entanto, a maioria dos pacientes, incluindo os que receberam placebo, tiveram redução quase completa da carga viral depois de 11 dias. A empresa informou que as análises mostram que os pacientes que receberam o anticorpo tinham uma carga menor de Sars-CoV-2 após três dias.
Entre os 302 pacientes que receberam o medicamento, cinco foram hospitalizados (1,7%); enquanto nove entre os que receberam placebo foram ao hospital (6%).
Especialistas veem os resultados como animadores, mas mantêm um otimismo com cautela. Espera-se que o efeito de um medicamento aumente com uma dose maior, então o fato de a dose maior desse anticorpo não ter o mesmo efeito que a dose intermediária aumenta a possibilidade de que os resultados desse estudo tenham sido pelo acaso. "É um pouco curioso que a carga viral não tenha caído com a dose mais alta. Pela lógica, a dose mais alta deveria funcionar", diz o infectologista João Prats, da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O infectologista aponta que o estudo foi feito com um grupo pequeno de pacientes com sintomas leves, que em geral não têm altas taxas de hospitalização. Portanto, estudos clínicos maiores precisam ser feitos para determinar o efeito da droga.
Como funciona a técnica
Anticorpos monoclonais são amplamente usados na oncologia, além de outras especialidades. Eles são medicamentos sintéticos, produzidos por laboratórios farmacêuticos, com estrutura semelhante à de anticorpos humanos, feitos para atuar contra alguma proteína específica.
No caso dos medicamentos em testes para Covid-19, o anticorpo monoclonal é feito para atingir parte de uma proteína do Sars-CoV-2 e impedir que o vírus entre e infecte as células humanas.
"Na oncologia, esses anticorpos atuam contra proteínas do tumor, fazendo com que o tumor perca a sua vascularização e diminua", explica Ricardo Carvalho, oncologista da BP. Para ele, o tratamento com anticorpos monoclonais é promissor para a Covid-19, embora esse tipo de terapia geralmente seja cara.
"Anticorpos monoclonais sempre aparecem quando surge um vírus novo", diz Prats. A estratégia é semelhante ao uso de plasma de pessoas recuperadas. Nesse caso, o anticorpo neutralizante é criado em laboratório.
Além da Lilly, AstraZeneca, GlaxoSmithKline, Genentech e Amgen estão conduzindo ensaios clínicos com anticorpos monoclonais, esperando que esses medicamentos possam proteger profissionais de saúde, que têm alto risco de serem infectados, e diminuir a gravidade dos sintomas em pacientes hospitalizados.