Baixa ingesta de líquidos, gestação, diabetes, constipação intestinal, cálculos renais, deficiência hormonal após menopausa, tratamentos para algumas doenças, atividade sexual, dificuldade de esvaziar a bexiga e inclusive alguns hábitos de higiene são fatores que contribuem para que as mulheres tenham mais infecções do trato urinário (ITU) do que os homens.
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A urologista Alessa Machado, membro da sociedade brasileira de urologia, estima que pelo menos 60% das mulheres terão, no mínimo, um episódio de infecção urinária ao longo da vida, principalmente iniciando na idade reprodutiva e após a menopausa. O principal fator de incidência de infecções urinárias nas mulheres é a anatomia da uretra, ou seja, o canal responsável por levar a urina para fora da bexiga, ensina Paulo Rocha, urologista do Hospital Marcelino Champagnat, também membro da sociedade brasileira de urologia.
Anatomicamente, a uretra feminina é muito mais curta que a do homem, o que significa que as bactérias percorrem uma distância menor até o interior da bexiga. “A oclusão pelos lábios e a proximidade com a borda anal cria o ambiente ideal para o desenvolvimento de bactérias, a maioria das quais vive em harmonia com o corpo, porém o desequilíbrio da flora predispõe às ITU’s”, explica o médico.
Além disso, existem hábitos femininos extremamente prejudiciais, como reter a urina por tempo indeterminado na bexiga. É muito comum, segundo Rocha, que as meninas sejam orientadas, desde pequenas, a não usarem o banheiro fora de casa, se estendendo tal costume pela vida de adulta. Contudo, segurar a urina por horas a fio, mesmo tendo vontade de urinar, contribui para o acometimento da infecção.
A forma mais comum de manifestação da infecção urinária nas mulheres é através da cistite, na qual há vontade intensa e dificuldade de segurar a urina, somada a ardência e sensação de bexiga cheia. Quando a infecção atinge os rins pode haver sintomas como dor lombar ou abdominal, febre e até mesmo evoluir para casos de infecção sistêmica, quando não tratada adequadamente, alerta Alessa.
E quando a infecção retorna em pouco tempo?
Muitas mulheres têm infecções urinárias repetidas, ou seja, saem de um tratamento, ficam algumas semanas ou poucos meses bem e voltam a ter nova infecção. Porém, ainda que a infecção urinária seja comum nas mulheres, não é ideal que ela se torne recorrente.
A infecção urinária de repetição é caracterizada quando há mais de dois quadros em seis meses, ou três quadros em 12 meses, define a urologista. “Uma mulher que teve uma infecção urinária tem entre trinta e quarenta e quatro por cento de chances de ter outra ITU dentro de seis meses. A maioria delas são mulheres sadias e sem anormalidades urológicas ou ginecológicas”, informa Rocha.
A repetição, segundo o médico, pode significar que algum fator de predisposição está presente, facilitando a contaminação e a evolução para infecções repetidas.
Tratamento e prevenção
A investigação é simples e objetiva. Rocha explica que a história clínica da paciente identifica os sintomas, os hábitos e os antecedentes. Enquanto isso, o exame físico uroginecológico evidencia ou não os fatores anatômicos externos.
Para determinar a gravidade da situação é importante realizar os exames laboratoriais, incluindo a cultura de urina. Contudo, para avaliar se há algum fator anatômico que possa causar a infecção ou sua recorrência, como cálculos urinários, malformações anatômicas e resíduo urinário, são necessários também exames de imagem.
O tratamento deve ser baseado nos sintomas e exames adequados, a fim de que seja prescrito o antibiótico na dose correta. Além disso, Alessa destaca que nem toda presença de bactéria no exame de urina significa infecção urinária ou deve receber tratamento com antibióticos, se o paciente for assintomático.
Além do mais, ainda que a infecção urinária seja comum nas mulheres, é possível preveni-la. Alguns simples cuidados e mudanças de hábito podem ter efeito profilático eficiente, segundo o urologista do hospital Marcelino Champagnat.
O profissional indica que aumentar a ingesta de líquidos durante o dia, procurar fazer xixi sempre que estiver com vontade, urinar após a relação sexual, evitar o uso de absorventes sem necessidade e de duchas vaginais, utilizar roupa íntima de algodão, praticar atividade física, manejar o estresse e cuidar da saúde intestinal, com uma dieta adequada são meios que podem ser adotados.
Riscos de não tratar adequadamente a infecção urinária
O principal risco, responsável pelos insucessos de tratamento e da recorrência de muitas infecções urinárias, segundo Rocha, é a resistência bacteriana. Tratamentos com antibióticos inadequados, sem a cultura de urina para determinar a bactéria e sem identificar a quais antibióticos ela é sensível, assim como o uso de doses da medicação inadequadas por períodos equivocados, pode levar à resistência bacteriana, explica o urologista.
Alessa explica que a resistência bacteriana é gerada quando a bactéria passa a não responder ao tratamento com drogas habitualmente usadas. Com isso, os sintomas da infecção podem ser mascarados e o quadro se agrava, acarretando prejuízos ou efeitos colaterais.
Isso implica no uso de antibióticos cada vez mais fortes e por períodos mais longos, podendo chegar à necessidade de tratamento com antibióticos de uso exclusivo em hospitais. Além da recorrência das infecções, Alessa alerta que uma infecção urinária não tratada adequadamente pode acometer os rins, evoluindo para alterações na sua função, inclusive levando a insuficiência renal, e até disseminação da infecção para corrente sanguínea, gerando infecção sistêmica e até óbito. “Evita-se isso procurando atendimento médico desde o início dos sintomas, evitando automedicação e prestando atenção nos fatores que podem causar infecção”, completa a médica.
Infecção urinária na gravidez
Uma entre cada 10 mulheres grávidas terão infecção no trato urinário durante a gravidez, alerta Rocha. Isso porque, ela pode ser um fator predisponente às infecções urinárias por várias alterações que ocorrem na mulher durante seu curso, inclusive o estado de imunidade estar alterado, levando a infecções assintomáticas que podem ter risco para a gestação.
Devemos lembrar que os rins da gestante trabalham em dobro, filtrando pela mãe e pelo feto, o que leva a uma alteração do pH e concentração maior de proteínas e células na urina, favorecendo o meio para desenvolvimento e multiplicação de bactérias. Além disto, o útero, à medida que o feto cresce, começa a comprimir os ureteres e a bexiga, dificultando o esvaziamento e favorecendo o crescimento de germes pela urina residual.
O ideal, portanto, segundo os urologistas, é que a mulher grávida busque bons hábitos, como ingestão de líquido, prática de atividade física e alimentação saudável. Além disso, sempre que apresentar sinais de infecção, é importante buscar ajuda profissional.