Assim que chegou da maternidade com o pequeno Théo nos braços, a curitibana Melanie Kamarowski percebeu o receio da filha mais velha, de quase 3 anos. “Ela adorava o bebê e brincava com ele, mas tinha ciúme quando via o irmão mamando porque, até aquele momento, o seio era só dela”, relata a jornalista, que começou a amamentar os dois filhos ao mesmo tempo, para ver o que aconteceria. “Deu tão certo que agora a Maria Flor mama até de mãos dadas com o Théo ou fazendo carinho nele”, afirma.
Siga o Sempre Família no Instagram!
E essa conexão entre os irmãos é apenas um dos benefícios da amamentação em tandem – quando a mulher amamenta dois filhos de idades diferentes. De acordo com o pediatra Marcelo Lobo, do Hospital e Maternidade Santa Brígida, de Curitiba, a decisão também contribui para a saúde das crianças. Afinal, “em grande parte dos casos, o primeiro filho ainda é muito novo e pode continuar recebendo os benefícios da amamentação”, afirma.
Além disso, ele explica que a mãe costuma se sentir mais tranquila por ter a oportunidade de se relacionar com os dois ao mesmo tempo e evitar que o mais velho se sinta rejeitado. Sem contar que “esse aumento de demanda na amamentação estimula a produção de leite, ajudando o recém-nascido se ele tiver alguma dificuldade para mamar”, aponta o médico, ao citar ainda, como benefício, a redução na chance de ingurgitamentos mamários – o famoso leite empedrado – que podem obstruir dutos mamários e causar mastite.
“E eu percebi isso na prática”, afirma Melanie. Segundo ela, seus seios ficaram bem cheios quando a Maria Flor nasceu, e a bebê não mamava tudo. “Senti dor para amamentar, senti bastante sensibilidade e precisei de uma consultora de amamentação, coisas que não foram necessárias agora”, explica, ao contar que alimentar duas crianças facilitou o processo. “Quando meu seio ficava endurecido nos dias de descida de leite pro Théo, a Maria Flor vinha mamar e já aliviava”.
Dúvidas no puerpério
Só que a dificuldade que ela enfrentou foi em relação aos comentários e dúvidas a respeito da amamentação em tandem. “Eu nunca conheci alguém que tivesse feito isso e via como as pessoas ficavam preocupadas quando eu falava do assunto”, recorda. “Eles diziam que iam faltar nutrientes pro Théo, então eu conversei com a pediatra da Maria Flor logo que descobri a nova gravidez e ela disse que não haveria problema”.
No entanto, ela precisaria manter os mesmos cuidados que toda gestante ou lactante deve ter em relação à alimentação, ingestão de água, prática de exercícios físicos moderados e acompanhamento médico, para assegurar que ela e seus bebês ficassem bem. “Isso porque a única contraindicação da lactação durante a gravidez é para mulheres com algum fator de risco, então tem que acompanhar com o obstetra”, indica o médico Marcelo Lobo.
Fora essa situação, ele garante que “a natureza se encarrega de nutrir os dois filhos que mamam e que o leite se modifica para atender às necessidades do recém-nascido”. Inclusive, “estudos demonstram que o colostro e o leite maduro das tandem-mães são similares ao das não tandem-mães”, comenta o especialista, afirmando que, mesmo com idades diferentes, os bebês recebem a nutrição de que precisam de acordo com a fase em que se encontram. “Há uma adaptação da natureza para esta condição”.
Por isso, Melanie seguiu com a lactação, procurou uma nutricionista para orientá-la e garante que a experiência tem sido positiva. “É um privilégio amamentar duas crianças em livre demanda, com respeito e atenção à necessidade de cada um deles”, diz, ao incentivar outras mães a tomarem a mesma decisão. “É uma das experiências mais ricas que já tive na minha vida e vale muito a pena”, garante.