Casada há quatro anos e com o sonho de ser mãe, a médica *Amanda Carvalho não conseguiu conter a emoção ao verificar o resultado do seu teste de gravidez: positivo. O marido comemorou muito, toda a família foi informada da excelente notícia e os primeiros presentes para o bebê já começaram a chegar. No entanto, com apenas seis semanas de gestação, seu sonho se transformou em um terrível pesadelo. “Senti dores muito fortes, tive sangramento e fui imediatamente para a emergência”, recorda a jovem, que recebeu a pior notícia de sua vida: havia sofrido um aborto espontâneo. “Foi horrível”.
O problema é que, apesar de ser o momento mais temido por qualquer grávida, casos como o de Amanda são comuns e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem em até 20% das gestações. Desse total, 80% das interrupções naturais são registradas nos três primeiros meses, e o número é ainda maior entre mulheres que nem sabiam da concepção. “São gestações subclínicas ou não diagnosticadas, que podem chegar a 30%”, aponta o médico obstetra Jan Andrade Pachnicki, membro do Conselho Deliberativo da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná (Sogipa).
“Senti dores muito fortes, tive sangramento e fui imediatamente para a emergência”
Por isso, ele afirma que a melhor maneira de prevenir um aborto espontâneo é planejar a gravidez, cuidar muito bem da alimentação e preparar o organismo para receber o bebê. “Mas se a gestação não foi planejada, você deve realizar corretamente o pré-natal, tomar ácido fólico até o final do segundo mês de gestação e se alimentar adequadamente”. Além disso, o médico afirma que vale a pena conhecer os principais fatores que aumentam o risco de abortamento, receber acompanhamento médico para minimizá-los e abandonar atitudes que sejam prejudiciais ao feto. Veja a lista abaixo:
- Idade: o risco de aborto é maior em mães com idade avançada, chegando a 40% entre mulheres de 40 anos e 80% entre gestantes de 45 anos.
- Aborto espontâneo anterior: o perigo cresce entre mulheres que passaram duas vezes ou mais pelo processo de abortamento.
- Tabagismo: o consumo de mais de dez cigarros por dia aumenta até três vezes a chance de abortar. “Lembrando que o tabagismo paterno também pode ser prejudicial e, por isso, os casais devem ser encorajados a abandonar o hábito”, incentiva Pachnicki.
- Álcool e drogas: o consumo dessas substâncias causa má-formação no feto, prejudica o desenvolvimento físico e cognitivo do bebê e ainda pode causar hemorragia durante a gestação.
- Uso de anti-inflamatórios não hormonais: quando usados pela gestante perto da data de concepção, podem aumentar o risco de aborto.
- Cafeína: estudos apontam que a ingestão de duas a quatro xícaras de café por dia pode provocar o término da gravidez. Segundo o médico obstetra, esses resultados ainda são controversos, mas, por segurança, o ideal é evitar o consumo exagerado de cafeína.
- Extremos de peso: mulheres abaixo do peso – com Índice de Massa Corporal (IMC) inferior a 18,5 – e aquelas obesas, com resultado superior a 25, apresentam gestações de risco e precisam de acompanhamento médico criterioso para evitar o aborto espontâneo e outras complicações.
- Infecções: os principais processos infecciosos que podem levar ao abortamento são rubéola, toxoplasmose, parvovirose, citomegalovírus, HIV, sífilis e listeriose.
- Fatores endócrinos: alterações na produção de progesterona e dos hormônios da tireoide também podem prejudicar o desenvolvimento do embrião e colocar o feto em risco.
- Diabetes insulinodependente: sem controle adequado, a diabetes ameaça o bebê e pode gerar abortamento.
- Fatores imunológicos: o término da gravidez por fator ligado à imunidade ocorre quando o feto é rejeitado pelo sistema imunológico da mãe.
- Alterações no útero: podem ser congênitas ou adquiridas ao longo da vida e prejudicam a implantação e vascularização do embrião no útero.
Além desses fatores, que podem ser acompanhados por especialistas e tratados para evitar a perda do bebê, também podem ocorrer anormalidades na formação do embrião sem causa definida. “Ou seja, não são decorrentes de ‘defeitos’ herdados da mãe e nem do pai”, explica o membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná.
E em todos os casos é possível que a mulher mantenha consultas regulares com seu médico, realize exames complementares e tente engravidar novamente cerca de três meses após a perda do bebê, como ocorreu com *Amanda. Depois de receber apoio da família e reduzir todos os fatores de risco que poderiam prejudicar uma nova gravidez, ela e o esposo tentaram novamente e conseguiram. “Estou com quase três meses de gestação, agora tudo está normal e nossa família não poderia estar mais feliz”, finalizou.
*Amanda Carvalho é um nome fictício, pois a gestante citada na matéria preferiu não se identificar