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A Igreja Católica emitiu hoje (25/10) um documento que instrui os fiéis católicos a não guardar em casa as cinzas de parentes mortos, não as espalhar na natureza e não as transformar em joias ou outros objetos. A instrução Ad resurgendum cum Christo (em latim, “Para ressuscitar com Cristo) foi publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé e orienta a guardar as cinzas em um cemitério ou outro lugar dedicado especialmente para esse fim.

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O documento atualiza as orientações da instrução Piam et constantem, publicada em 1963, sob o pontificado de Paulo VI. É assinado pelo prefeito da congregação, o cardeal alemão Gerhard Müller, e pelo secretário, o arcebispo espanhol Luis Ladaria, e foi aprovado pelo papa Francisco.

O texto fundamenta as orientações a partir da fé cristã na ressurreição dos corpos. “Pela morte, a alma se separa do corpo, mas na ressurreição Deus devolverá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, reunindo-o com a nossa alma”, diz o documento, que aponta que a Igreja prefere que os corpos sejam sepultados, “porque assim se demonstra maior apreço pelos defuntos”.

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A sepultura, diz a Igreja, é a “forma mais adequada para expressar a fé e a esperança na ressurreição corporal”. Além disso, favorece “a lembrança e a oração pelos defuntos” e “a veneração dos mártires e santos” e responde de forma mais adequada ao “respeito devido aos corpos dos fiéis defuntos, que mediante o Batismo se converteram em templo do Espírito Santo”.

O documento ressalta, porém, que a cremação não é proibida pela fé da Igreja, “a não ser que se opte por ela por razões contrárias à doutrina cristã”, como já diz o Catecismo da Igreja Católica. Destaca ainda que, ao se escolher a cremação, não se deve contrariar a vontade expressa pelo fiel antes de morrer.

A Igreja, diz o texto, “não pode permitir atitudes e rituais que impliquem conceitos errôneos sobre a morte, considerada como anulação definitiva da pessoa, como momento de fusão com a Mãe natureza ou com o universo, como uma etapa no processo de reencarnação ou como libertação definitiva da ‘prisão’ do corpo”.

A conservação das cinzas

Quando se opta pela cremação, as cinzas devem ser mantidas em um cemitério ou em uma área dedicada especialmente para esse fim. Somente em casos excepcionais, dependendo de questões culturais, o bispo, seguindo a conferência episcopal, pode conceder permissão para a conservação das cinzas em casa.

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O texto diz ainda que, “para evitar qualquer mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista, não seja permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra, na água ou em qualquer outra forma, ou a conversão das cinzas em lembranças comemorativas, peças de joalheria ou outros artefatos”.

Além disso, o documento nega a celebração de um funeral católico ao fiel que, antes de morrer, tenha optado, por razões contrárias à fé cristã, por ser cremado e ter as cinzas dispersadas na natureza.

Simbolismo e respeito à memória

Na conferência de imprensa para a apresentação do documento, Müller falou sobre a necessidade de “evangelizar o sentido da morte à luz da fé em Cristo Ressuscitado” e lembrou do autor cristão dos primeiros séculos, Tertuliano, que disse que “a ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: se cremos nela, o somos”.

Já o secretário da Comissão Teológica Internacional, o padre Serge-Thomas Bonino, ressaltou que a relação entre a preferência pela sepultura e a fé na ressurreição é simbólica. “Sabemos que, mesmo se a continuidade material seja interrompida, como no caso da cremação, Deus é poderoso o suficiente para reconstituir o nosso corpo a partir da nossa própria alma imortal, que garante a continuidade na nossa identidade entre o momento da morte e o da ressurreição. Mas permanece o fato de que, no plano simbólico – e o homem é um animal simbólico –, a continuidade é expressa de modo mais adequado por meio da sepultura”, disse Bonino.

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Um consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, o monsenhor Angel Rodríguez Luño, disse ainda que a opção de conservar em casa as cinzas de um parente querido pode até “ser inspirado por um desejo de proximidade e piedade”. Porém, ainda assim, há o risco de indiferença e falta de respeito, sobretudo depois de passada uma geração, bem como o perigo de “elaborações do luto pouco saudáveis”.

Durante a redação, foram consultadas a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos e diversas conferências episcopais e sínodos dos bispos das Igrejas Orientais. O texto é datado do dia 15 de agosto e foi aprovado pelo papa em março, mas só foi publicado hoje.

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