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O presidente da França, Emmanuel Macron, eleito no ano passado, visitou nessa terça-feira (26/06) pela primeira vez o Papa Francisco, no Vaticano. Em um encontro que até agora foi um dos mais prolongados entre o papa e um chefe de Estado – quase uma hora de conversa –, os dois líderes conversaram, entre outros assuntos, sobre a contribuição da religião ao bem comum na França – em mais um passo de uma aproximação entre Macron e a Igreja Católica que tem chamado a atenção em seu país.

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No país que concebeu o termo laicidade e foi pioneiro na separação entre Igreja e Estado na história moderna, qualquer reaproximação entre política e religião soa suspeita. Não é à toa que Macron esteja recebendo críticas da direita e da esquerda por dizer que “a relação entre a Igreja e o Estado está deteriorada” e que “cabe a nós restaurá-la”. Jean-Luc Mélenchon, seu opositor nas eleições de 2017, até mesmo o chamou de “padrezinho” depois que o presidente decidiu fazer um discurso aos bispos do país e a mais de 400 líderes católicos no Collège des Bernardins, centro da intelectualidade católica de Paris – ocasião em que pronunciou a frase.

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Macron – que pediu para ser batizado por vontade própria aos 12 anos – não é o primeiro presidente da história recente da França a se relacionar com o episcopado católico. Nicolas Sarkozy, por exemplo, recebeu visitas oficiais de bispos no Palácio do Eliseu – a residência presidencial – e se referia à herança católica francesa de maneira positiva. Macron, porém, foi mais longe: no discurso aos líderes católicos, encorajou-os a participar da vida pública francesa “como católicos”.

O presidente distinguiu até mesmo três “dons” que os católicos franceses poderiam oferecer ao seu país: a sua sabedoria bimilenar – bem no estilo do Papa Paulo VI, que chamava a Igreja de “perita em humanidade”; o engajamento junto aos necessitados e excluídos – a forma pela qual a Igreja desafia o niilismo, segundo Macron; e a liberdade. Para ele, a defesa de verdades consideradas universais torna a Igreja um exemplo de liberdade de expressão, mesmo quando essa liberdade é incômoda.

“Por fim, há uma liberdade que a Igreja deve oferecer-nos: a liberdade espiritual. Os nossos contemporâneos, crentes ou não, têm necessidade de ouvir falar de uma outra perspectiva sobre o ser humano, diferente da perspectiva material. Precisam matar uma outra sede: a sede de absoluto”, arrematou o presidente.

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“Uma Igreja que não pretende se interessar por questões temporais não está cumprindo sua vocação, assim como um presidente que pretende se afastar da Igreja e dos católicos está faltando com seus deveres”, defendeu Macron. Ex-aluno de um colégio jesuíta – onde conheceu a sua esposa, Brigitte, sua ex-professora –, o presidente aproveitou o discurso para enumerar as contribuições dos católicos à cultura francesa. Citou, entre outros, Blaise Pascal, Emmanuel Mounier, François Mauriac, Paul Claudel, Georges Bernanos, Henri de Lubac e o padre Jacques Hamel, martirizado em 2016.

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Razões

O analista Samuel Gregg, diretor de pesquisa do Acton Institute, que aborda temáticas ligadas a religião e liberdade, elenca algumas razões para a aproximação de Macron com a Igreja francesa, mesmo consciente de que isso atrairia críticas e suspeitas, em um artigo na revista britânica Catholic Herald. Para Gregg, o presidente mais jovem da história francesa quer deixar a sua marca na história. “Macron se vê como uma figura transformadora para a França”, diz. “Observamos isso em sua construção de uma vitória presidencial e do governo sobre uma coalizão não convencional que abrange desde conservadores proeminentes até socialistas moderados”.

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Além disso, Macron gosta de mostrar que está atento às mudanças na sociedade francesa. “Ele está, sem dúvida, ciente de que o acomodacionismo e o ‘catolicismo de baixa energia’ da década de 1970 foram eclipsados há muito tempo por um tipo de ortodoxia dinâmica”, aposta Gregg. “Os néocatoliques combinam clareza na sua articulação da fé católica com a ênfase em fazer isso de forma atraente”.
Uma terceira razão listada por Gregg é que Macron estaria tentando suavizar as polarizações e demonstrar que está aberto ao diálogo sobre assuntos controversos para a Igreja – daí a insistência no seu discurso em pedir que a Igreja não se cale. Isso porque seu governo está propondo o acesso de mulheres solteiras e casais de lésbicas à fertilização in vitro – atualmente restrito a casais heterossexuais inférteis – e a descriminalização da eutanásia.

Por fim, Gregg avalia que a aproximação de Macron representa o início de uma nova forma de pensar a laicidade, diante do crescimento da população muçulmana na França. Fortalecer a participação católica na vida pública, sem desmentir o princípio da laicidade, equilibraria os novos fatores em jogo.

Maréchal

Outra figura na vida pública francesa tem chamado a atenção por sua catolicidade explícita. Marion Maréchal, sobrinha – e desafeta – de Marine Le Pen, participou no fim de maio de uma peregrinação à catedral de Chartres que contou com a participação do cardeal guineense Robert Sarah, um dos membros mais conservadores da Cúria Romana.

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A jovem de apenas 28 anos, que se tornou parlamentar aos 22 e se retirou da política após a derrota da tia no ano passado, parece ensaiar um retorno à vida pública. Apenas nos últimos dez meses, ela ajudou a fundar uma revista de viés conservador chamada L’Incorrect e uma instituição de ensino privada em Lyon, o Institut de Sciences Sociales, Economiques et Politiques.

Batizada como católica, Maréchal é filha adotiva de um protestante e seu avô é pastor de uma igreja pentecostal em Nantes e ex-missionário na África – ela chegou a frequentar a escola dominical pentecostal da igreja do avô durante as férias quando era adolescente. Depois, porém, matriculou-se em uma escola católica de Paris ligada aos fiéis de rito tridentino – e sob essa forma litúrgica fez a primeira comunhão e a crisma. Em 2014, ela se casou com o empresário Matthieu Decosse, mas eles se divorciaram dois anos depois.

A jovem, porém, buscou se posicionar como a representante política da direita católica, participando de todos os protestos contra o casamento homoafetivo em 2013 e opondo-se a uma lei que censurava sites pró-vida em 2016. Nesse sentido, ela ocupa o vácuo deixado por François Fillon, o representante da direita católica derrotado nas eleições passadas, enfraquecido depois de ter o nome envolvido em denúncias de corrupção.

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