Marcha para Jesus 2017, em Curitiba (foto: divulgação).| Foto:

O crescimento dos evangélicos no Brasil já não é mais novidade, mas a cada ano eleitoral fica evidente que esse avanço não se limita às estatísticas populacionais. Desde a redemocratização, a representatividade política dessa parcela dos brasileiros não para de expandir, e se antes se limitavam à ocupação de cadeiras na Câmara dos Deputados, agora, as vitórias em eleições majoritárias já não são mais tão raras e cargos cada vez mais altos passaram a entrar na mira de seus principais estrategistas. Todo esse fortalecimento organizado e gradativo não seria possível sem manifestações populares, como as Marchas para Jesus, que, ao mesmo tempo, sustentam e refletem a influência evangélica no país.

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Em Curitiba, a Marcha chega à sua 24ª edição neste sábado (19) com a promessa de levar novamente às ruas a multidão de anos anteriores – em 2017 foram 180 mil -, além de contribuir com causas sociais, como o cadastro para doação de medula óssea e arrecadação de leite. Os organizadores enfatizam que o evento não tem caráter político, mas é evidente que muitos candidatos dão especial atenção ao ato que une igrejas de diversas denominações, podendo representar, como em poucas circunstâncias, a identidade e os anseios dos 22% de brasileiros que afirmam ser evangélicos.

Como a Marcha para Jesus tornou-se símbolo da força dos evangélicos no Brasil

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“Não podemos impedir que candidatos estejam ali no meio do povo, porque é uma caminhada aberta”, explica o bispo Cirino Ferro, presidente do Conselho de Ministros Evangélicos do Paraná, o Comep. “Teremos candidatos que vão querer falar, mas não daremos o microfone”, reforça.

As várias edições da Marcha para Jesus, em várias cidades do país, tornaram-se a vitrine perfeita onde os participantes, incentivados por suas lideranças, defendem temas que lhes são caros. “A marcha dá a liberdade das pessoas se expressarem contra temas como a pedofilia e o aborto. E elas irão erguer bandeiras daquilo que elas têm como expectativa na eleição de 2018”, explica o vereador Thiago Ferro, que é também pastor da Igreja Sara Nossa Terra, em Curitiba. Não é raro, portanto, que irresistível oportunidade de exposição resulte no surgimento de nomes que, às vésperas das eleições, passam a adotar um discurso mais conservador a fim de serem bem recebidos neste meio.

 

Senado é o foco

 No Congresso Nacional, o crescimento da influência evangélica é comprovado pelas estatísticas. No início da década de 90 eram 22 os deputados federais que se identificavam como evangélicos e duas eleições depois, em 1998, o número saltou para 53. Na eleição seguinte, em 2002, o grupo chegou a 69 integrantes, conforme estudo do antropólogo Ari Pedro Oro, da PUC Minas.

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De acordo com a advogada e pastora Damares Alves, uma das lideranças evangélicas mais atuantes nos bastidores do Congresso, a atual legislatura conta com 91 deputados que se identificam com a Frente Parlamentar Evangélica. Para o pleito desse ano a bancada está confiante em mais um crescimento expressivo. “Achamos que podemos chegar a 150 deputados”, diz Damares.

É no Senado, contudo, que estão se concentrando os esforços por um salto ainda mais significativo. Hoje, das 81 cadeiras da casa, apenas quatro pertencem a políticos evangélicos: Magno Malta (PR-ES), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), José Medeiros (PODE-MT) e Eduardo Lopes (PRB-RJ), suplente de Marcelo Crivella, que conquistou em 2016 a prefeitura do Rio de Janeiro. O objetivo da Frente é chegar em 2019 com 15 senadores.

Na linha de frente dessa busca por maior representatividade na casa estão o senador Magno Malta, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e o pastor Silas Malafaia, que têm viajado por todo o país para viabilizar candidaturas nos estados, contando com o apoio, principalmente, do DEM e do PRB, partido ligado à Universal.

 

Perfil 

 Para o pesquisador e pastor batista Davi Lago, autor do livro “Brasil polifônico: os evangélicos e as estruturas de poder”, o aumento de representatividade evangélica na esfera pública chega ao seu ápice junto com a crise econômica, a maior participação da população na vida política do país e a exposição de toda a corrupção denunciada pela Lava-Jato. “Foi esse tripé, chamado de crise da Nova República, que abriu o poder completamente”, explica Lago.

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Ele distingue dois subgrupos específicos no meio evangélico que têm conquistado espaço: um mais demagógico, que tende a transformar igrejas em celeiros eleitorais, e outro mais consciente das responsabilidades públicas, ligado a trabalhos humanitários com crianças, usuários de drogas, hospitais e famílias carentes.

Para Lago, ainda é preciso que esse segundo grupo tenha mais voz e rosto. “São pessoas com uma visão cristã da vida, amparada em direitos humanos, e que falam de ética, do avanço da educação, da tecnologia e que estão dispostas a dialogar com os diferentes”, diz. O problema, segundo ele, que essas pessoas ainda não têm a mesma habilidade que os políticos do primeiro grupo na arena pública. “Por muito tempo eles se fecharam em guetos. Com o pensamento de ir contornando as situações”, avalia.

Damares, contudo, considera que a última eleição já mostrou uma tendência de mudança no perfil dos evangélicos que estão ingressando na política. “A comunidade evangélica está votando hoje em pessoas mais preparadas”, diz, acrescentando que não se trata mais de eleger exclusivamente pastores, mas sim profissionais ligados a alguma denominação e especialistas em determinadas bandeiras, como a segurança, educação e economia, e estão mais próximos de empresários e organizações da sociedade civil. “O voto de cabresto está acabando em boa parte das cidades. O pastor pode apresentar um nome, mas os membros da igreja escolhem com autonomia”, afirma.

 

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Temas morais são prioridade, mas eles podem ir além

No que diz respeito às bandeiras pelas quais lutam, os temas morais permanecem sendo o carro chefe na agenda da bancada. “Os evangélicos, especialmente os de matiz conservadora, têm sido capazes de pautar parte expressiva da agenda política nacional em torno de suas demandas”, diz Isaias Cardoso, coordenador da comissão de cidadania e política da Convenção das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado do Paraná (CIEADEP). Entre as vitórias recentes nesse campo, pode-se citar a retirada de termos que faziam alusão à ideologia de gênero da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), uma batalha que durou meses e cujo resultado final beneficiou a versão defendida pelos evangélicos.

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No entanto, ampliar o escopo temático no qual atuam parece ser o desejo de várias lideranças do meio. “Meu anseio é que consigamos representantes nossos que sejam eleitos com a visão de promoção da justiça e de uma sociedade melhor”, diz Luiz Roberto Silvado, presidente da Convenção Batista Brasileira. Por estarem mais próximos do povo do que muitos outros representantes políticos, os parlamentares evangélicos teriam mais condições de propor soluções que melhorem de modo mais concreto a vida dos mais simples, destaca o professor de Ciências Políticas e Econômicas na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Masimo Della Justina. “Acredito que os pastores podem sim ser ótimos porta-vozes da população, por conhece-los na base”.

 

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