Foto: L'Ossevatore Romano| Foto:

O papa Francisco voltou a afirmar que o projeto de uma sociedade igualitária é originariamente cristão e não comunista. Em uma entrevista ao jornal italiano La Repubblica publicada hoje (11/11), o jornalista Eugenio Scalfari perguntou ao papa se ele pensa em uma sociedade de tipo marxista. Francisco respondeu: “No máximo, podemos dizer que são os comunistas que a pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde quem decide são os pobres, os fracos, os excluídos. Não os demagogos, não os ‘Barrabás’, mas o povo, os pobres, tenham ou não fé no Deus transcendente, são eles que devemos ajudar a obter a igualdade, a liberdade.”

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Francisco já havia expressado a mesma opinião em 2014, em uma entrevista ao jornal italiano Il Messaggero. “Eu só posso dizer que os comunistas têm roubado a nossa bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho, os pobres estão no centro do Evangelho”, disse o papa na ocasião, citando o capítulo 25 do Evangelho de Mateus, que retrata que o critério do julgamento divino será a ajuda ao necessitado. “Os comunistas dizem que tudo isso é comunismo. Sim, como não: vinte séculos depois!”, ironizou Francisco.

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No mesmo ano, em um discurso aos movimentos sociais, reivindicando o direto fundamental a terra, teto e trabalho para todos, o papa comentou: “É estranho, mas se falo disto para alguns o papa é comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo pelo que lutais, são direitos sagrados. Exigi-lo não é estranho, é a doutrina social da Igreja”.

“Para mim, o coração do Evangelho é dos pobres. Dois meses atrás ouvi alguém dizendo: ‘Este papa é comunista!’ Não! Esta é uma bandeira do Evangelho, não do comunismo: do Evangelho! Mas a pobreza sem ideologia”, disse Francisco, também em 2014, em um encontro com jovens.

Já em 2013, em um encontro no Rio de Janeiro com bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano, Francisco enunciou algumas formas de ideologização do Evangelho que ele vê aparecerem na América Latina. A primeira a que se referiu foi o “reducionismo socializante”: “É a ideologização mais fácil de descobrir. Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até às categorizações marxistas”, afirmou o papa.

Trump e os movimentos sociais

Na entrevista publicada hoje, Scalfari perguntou ainda a opinião do papa sobre Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos. Francisco respondeu: “Não faço julgamentos sobre pessoas e políticos. Só quero entender quais sofrimentos o seu modo de proceder causa aos pobres e excluídos”.

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O jornalista ainda questionou se o incentivo do papa aos movimentos sociais comporta o uso de luta armada. Francisco deixou claro que a guerra e as armas ficam de fora e, se algum sangue é derramado, é o dos cristãos martirizados “em quase todo o mundo”.

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Scalfari perguntou então sobre o inevitável conflito que a política comporta e disse que “sem o poder não se vence”. O senhor esquece que também existe o amor. Com frequência o amor convence e vence”, respondeu o papa, citando que os cristãos hoje no mundo são cerca de dois bilhões e meio de pessoas. “Foi preciso armas e guerras? Não. Mártires? Sim, e muitos”, disse Francisco.

Scalfari conta que, ao final da conversa, os dois se despediram com um abraço. O jornalista disse ao papa que descansasse de vez em quando. Segundo Sacalfari, Francisco respondeu dizendo que ele também deveria descansar, porque um ateu precisa estar o mais longe possível da morte.

Vale lembrar que Scalfari, de 92 anos, foi desmentido duas vezes, em 2013 e 2014, pelo então porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, pelas palavras que atribuiu ao papa em entrevistas publicadas pelo La Repubblica – jornal fundado pelo próprio Scalfari. Ele mesmo reconheceu depois que não havia gravado as entrevistas e nem sequer feito anotações durante as mesmas, tendo escrito as afirmações atribuídas ao papa “de memória”, e admitiu que tinha inserido frases que Francisco não disse.

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