Putin e Kirill em novembro de 2016. Foto: Sala de Imprensa da Presidência Russa.| Foto:

O Patriarcado de Moscou optou na segunda-feira (15/10) por romper a comunhão eucarística com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, depois que o patriarca ecumênico Bartolomeu I decidiu, na quinta (11/10), conceder a autocefalia à Igreja Ortodoxa na Ucrânia, tornando-a livre da jurisdição russa. Essa é a maior ruptura que acontece na Igreja desde o cisma de 1054, quando Roma e Constantinopla se separaram.

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Há três grandes Igrejas Ortodoxas na Ucrânia. A Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou estava sob jurisdição russa desde o fim do século XVII, por decisão do patriarca ecumênico. A Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev é uma dissidência fundada em 1992 e liderada pelo patriarca Filaret. Já a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana é outra dissidência, originada em 1921, reinstalada em 1990 e liderada pelo metropolita Macarius.

A decisão de Bartolomeu reabilitou Filaret, Macarius e os fiéis de suas Igrejas, concedendo aos dois grupos plena comunhão com o Patriarcado Ecumênico. Juntas, ambas as Igrejas antes cismáticas têm cerca de 14,5 milhões de fiéis. Agora, os dois grupos devem se unir para compor uma nova Igreja Ortodoxa autocéfala, totalmente independente do Patriarcado de Moscou e reconhecida por toda a Igreja Ortodoxa – e esse movimento deve levar consigo muitos ministros e fiéis das paróquias ligadas a Moscou, agora que o patriarcado ecumênico revogou o documento de 1686 que punha a Igreja da Ucrânia sob Moscou.

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O pedido de autocefalia foi feito em abril pelo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko. Em agosto, Bartolomeu se reuniu com o patriarca de Moscou, Kirill, informando-o que a decisão de conceder a autocefalia à Ucrânia estava em vias de ser implementada. Duas semanas depois, em retaliação, a Igreja Ortodoxa Russa deixou de mencionar o nome do patriarca ecumênico durante a liturgia. Bartolomeu reuniu o sínodo de sua Igreja na segunda semana de outubro e reiterou a decisão de conceder a autocefalia.

Autocefalia

Com cerca de 120 milhões de fiéis, a Igreja Ortodoxa Russa é a maior das Igrejas Ortodoxas calcedonianas autocéfalas – há cerca de 300 milhões de ortodoxos no mundo. Existem hoje 14 dessas Igrejas, cada uma delas liderada por um patriarca ou arcebispo. Não há, porém, uma autoridade superior a todas essas Igrejas – o patriarca ecumênico de Constantinopla é considerado uma liderança simbólica, um primus inter pares, “primeiro entre os iguais”.

As 14 Igrejas autocéfalas são os 4 patriarcados da antiguidade (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém – que, com Roma, formavam a “pentarquia” no primeiro milênio cristão) e ainda as Igrejas da Rússia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Geórgia, Chipre, Grécia, Polônia, Albânia e, juntas, República Tcheca e Eslováquia. A Igreja Ortodoxa da América, com sede em Nova York, não tem sua autocefalia reconhecida por todas as Igrejas, inclusive por Constantinopla.

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Os atritos se inserem no conflituoso contexto político entre Ucrânia e Rússia. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, via na autoridade do Patriarcado de Moscou um braço importante de sua influência sobre a Ucrânia. A ocupação da Crimeia, em 2014, piorou a relação entre os países. O patriarca Kirill é muito próximo de Putin, que vê na Igreja Ortodoxa Russa um dos elementos da hegemonia cultural russa sobre o Leste Europeu. Kiev, porém, a capital da Ucrânia, é o berço do cristianismo russo.

A comunhão plena é o relacionamento normal entre Igrejas Ortodoxas calcedonianas. Isso significa que fiéis de uma Igreja podem receber os sacramentos em outra e os ministros ordenados podem concelebrar, isto é, celebrar juntos, a Divina Liturgia. Um fiel da Igreja Ortodoxa da Bulgária, por exemplo, pode comungar e se confessar com um ministro da Igreja Ortodoxa Grega. O rompimento na comunhão entre as Igrejas é chamado de cisma. Rompendo com o Patriarcado Ecumênico, que lidera a Ortodoxia, Moscou rompe com todas as Igrejas ligadas a ele.

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