O município de Mejorada del Campo, a 12 quilômetros de Madri, se destaca pela sua catedral. Não é, porém, uma catedral como as outras, já que a localidade sequer é a sede de um bispo para ter uma igreja com esse título. A Catedral de Justo, como é conhecida, deve o seu nome ao homem que a está construindo – sozinho, com as próprias mãos. Justo Gallego Martínez, de 91 anos, se dedica desde os 36 a construir o enorme templo de 8 mil metros quadrados.
Nascido ali, Gallego entrou aos 27 anos no mosteiro trapista de Santa Maria de Huerta, mas saiu antes de professar os votos. Segundo ele, a comunidade o expulsou por medo de contágio depois que ele contraiu tuberculose. “Desde muito jovem, senti uma profunda fé cristã e quis consagrar minha vida ao Criador”, conta ele, em um cartaz pendurado na igreja. “Decidi então construir uma obra a oferecer a Deus”.
Gallego começou a construí-la há 55 anos, em 12 de outubro de 1961, num terreno herdado da família, pouco depois de ter voltado a Mejorada del Campo ao deixar o mosteiro. Gallego afirma que foi curado da tuberculose graças à intercessão de Nossa Senhora do Pilar, a padroeira da Espanha, e é a ela que o ancião dedica o templo.
À exceção de ajudas esporádicas de voluntários e parentes, o ex-monge fez tudo sozinho, mesmo sem ter nenhuma formação em arquitetura. Nem sequer os estudos elementares ele completou, pois foram interrompidos pela Guerra Civil Espanhola.
Para planejar a construção, Gallego se baseia em livros antigos de arquitetura sacra e castelos. “Mas a minha fonte principal de luz e inspiração foi, sobretudo e antes de tudo, o Evangelho de Cristo. É ele quem me ilumina e conforta e a ele ofereço meu trabalho, em gratidão pela vida que me deu e em penitência por aqueles que não seguem seu caminho”, afirma o sonhador.
Cripta
O prédio não é, oficialmente, uma catedral. A diocese católica de Alcalá de Henares, que tem jurisdição sobre a área em que fica o templo, não o reconhece como um templo católico, já que ele nunca foi consagrado como um, até porque está longe de ser concluído. Sua estrutura, porém, tem tudo a que uma catedral tem direito: pórticos, claustro, cúpula, cripta, arcadas e tudo o mais. Gallego usa sobretudo materiais reciclados, quer objetos do dia-a-dia, quer materiais descartados por construtoras.
“Quando eu comecei a construir a catedral, todo mundo pensava que eu estava louco”, diz ele. Sobre o futuro da catedral, Gallego só tem um desejo: ser sepultado na sua cripta. “É impossível que eu mesmo termine a catedral, porque ainda falta muito. Espero que depois que eu morrer… Bem, eu deixo isso nas mãos de Deus”.
Devotado completamente à sua obra, Gallego nunca se casou e vive com a sua irmã perto da catedral, na qual trabalha todos os dias. Nos últimos anos, um grupo de estudantes alemães passa alguns dias de suas férias ajudando-o na construção do templo. “Na Alemanha, isso já estaria terminado”, disseram eles a Gallego uma vez, que respondeu: “Essa é a parte boa de ser espanhol”.
Assista a uma breve reportagem feita sobre a Catedral de Justo Callego:
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