No dia 15 de novembro, os paranaenses celebram a sua padroeira, Nossa Senhora do Rocio, em seu santuário estadual em Paranaguá, no litoral do estado. Construída em 1920, a igreja foi revitalizada para a comemoração. A devoção, porém, é bem mais antiga e data do final do século XVII, quando os parnanguaras – como são chamados os habitantes de Paranaguá –, assolados por uma peste, recorreram à intercessão de Maria, sob o título de Senhora do Rocio.
A história da devoção parnanguara guarda semelhanças com a da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida: conta-se que a pequena imagem de 35 centímetros, uma representação de Nossa Senhora do Rosário, foi “pescada” na baía de Paranaguá por um pescador chamado “Pai Berê”. Isso teria acontecido, porém, mais de cinquenta anos antes de a imagem de Aparecida ser encontrada nas águas do rio Paraíba do Sul.
A palavra “rocio” é outro termo da língua portuguesa para “orvalho”. A imagem passou a ser chamada assim porque, segundo se conta, o sítio em que morava Pai Berê era chamado de Rocio – que, por sua vez, era chamado assim por ficar na periferia da vila de Paranaguá, no fim do povoamento, em um lugar onde se formava muito orvalho.
Logo o rocio foi interpretado pelos devotos como as graças que Deus derrama do céu por intercessão de Maria. Também recorda o capítulo 45, 8, de Isaías, que diz: “Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que das nuvens chova a vitória. Abra-se a terra e produza a salvação, ao mesmo tempo germine a justiça!”
A imagem original, porém, foi roubada em 1948. O ladrão, ao ser preso, contou que, quando retirou a coroa da cabeça da peça, a imagem se estilhaçou. O homem então enterrou os pedaços, que não puderam ser recuperados por completo. Em 1949, o arcebispo de Curitiba, dom Ático Eusébio da Rocha, entronizou uma nova imagem no santuário, composta em parte por alguns dos fragmentos da antiga.
A devoção a Nossa Senhora do Rocio também existe na Espanha, mas sem nenhum vínculo com a devoção paranaense. Na localidade de Rocio, na Andaluzia, é venerada desde o século XVI uma imagem que teria sido achada dentro de um tronco de uma árvore – provavelmente escondida na época do domínio muçulmano na península.
Padroeiros
A devoção à Senhora do Rocio não tardou a se espalhar por todo o Paraná, um dos estados em que os católicos mais têm consideração pela padroeira estadual. O título veio em 1939, por determinação dos bispos do Paraná, que na época tinha apenas três dioceses: Curitiba, Ponta Grossa e Jacarezinho, além da prelazia territorial de Palmas – hoje são 18. Mas em 1977 foi o próprio papa – o Beato Paulo VI – que concedeu a Nossa Senhora do Rocio o patronato do estado, através de um decreto da Congregação para os Sacramentos e o Culto Divino.
São poucos os estados do Brasil que tiveram o seu padroeiro decretado pelo próprio papa. A conta fica complicada porque existem estados que correspondiam a dioceses inteiras na época em que o papa deu à diocese um padroeiro, que com o tempo acabou, por extensão, sendo adotado por todo o estado. É o caso de Santa Catarina: quando Pio XI decretou Santa Catarina de Alexandria como padroeira da Diocese de Florianópolis, em 1922, a circunscrição abrangia todo o território do estado.
Já estados como São Paulo e Minas Gerais tiveram o seu patrono decretado diretamente pelo papa – ambos em 1958, mas um por Pio XII (São Paulo, cujo padroeiro é o apóstolo São Paulo) e outro por São João XIII (Minas, cuja padroeira é Nossa Senhora da Piedade).
Em outros casos, os próprios bispos determinaram o padroeiro, como no Rio Grande do Norte, que tem por padroeiros desde 2013 Santo André de Soveral, Santo Ambrósio Francisco Ferro, São Mateus Moreira e 27 companheiros mártires, que foram canonizados em outubro passado. É o único estado do Brasil que tem por padroeiros santos originários do próprio estado.
Santuários
Na Igreja Católica, existem santuários diocesanos, estaduais, nacionais ou internacionais. Em teoria, uma igreja é elevada a santuário quando se trata de um templo que é meta de peregrinação de muitas pessoas – ou seja, não é frequentada apenas pela comunidade que vive ao seu redor. De acordo com a extensão dessa devoção, cabe a autoridades diferentes decretar os diversos níveis de santuários.
O próprio bispo local pode elevar uma igreja a santuário diocesano. Para um santuário estadual, porém, é necessário que todos os bispos do estado estejam de acordo. Já quanto aos santuários nacionais, é responsabilidade da conferência episcopal designá-los – no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) designou dois: em 1983, a Basílica de Aparecida, e em 2015, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção como Santuário Nacional de São José de Anchieta, em Anchieta (ES).
Já um santuário internacional precisa ser designado pela Santa Sé – mais precisamente, pelo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Entre eles, estão o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, o de Lourdes, na França, e o de Loreto, na Itália.
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