“Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor excede o de muitos rubis”. O texto bíblico tirado do livro de Provérbios é frequentemente tomado como uma referência às mulheres cristãs que exercem grande influência em suas casas e comunidades, ainda que gestos que possam parecer pequenos. No que diz respeito aos cristãos protestantes, algumas mulheres deixaram legados importantes para gerações inteiras, como a fundação de obras missionárias, acolhida de refugiados e intercessão pela igreja perseguida.
Fizemos uma seleção com 10 mulheres evangélicas que fizeram história:
Khatarina Lutero (1499 – 1552)
Nascida em 1499, Katharina perdeu a mãe e teve que estudar num convento, onde permaneceu até 1523. Lá, ela aprendeu a ler e escrever, algo raro na época, e teve acesso aos escritos de Martinho Lutero. Seus princípios tocaram seu coração e ela fugiu do convento. Casou-se com Lutero dois anos depois, tiveram seis filhos e adotaram outros quatro.
Khatarina abriu as portas da sua casa para monges, freiras, padres que se tornavam adeptos da Reforma e precisavam se refugiar, mesmo sabendo da possibilidade de sofrer perseguição e uma invasão ao seu lar. Em alguns momentos a casa chegou a ser habitada por 25 pessoas, sem contar ela, Lutero, as crianças e os 11 órfãos de quem cuidavam. Eles não se negavam a ajudar um necessitado e ofereciam dinheiro a quem precisava. Até as porcelanas que Khatarina ganhou de presente de casamento foram vendidas para conseguir dinheiro e abençoar aqueles que lutavam pela mesma causa.
Khatarina ainda esteve ao lado de Lutero em um dos momentos mais difíceis de sua vida: a morte de uma de suas filhas, fato que colocou o marido em depressão. Não escreveu nenhum livro, nem fez pregações, mas apoiou o marido e o encorajou em todo tempo.
Marie Dentière (1495 – 1561)
Também conhecida como Marie d’Ennetieres, foi uma teóloga e reformadora protestante belga. Nasceu na pequena nobreza de Flandres. Enquanto vivia em Tournai, onde se tornou abadessa do Convento Agostiniano da Abadia de Saint-Nicolas-des-près, mas se converteu à Reforma Luterana e abandonou o convento. Mudou-se para Estrasburgo e casou-se com o ex-padre, o famoso estudioso da língua grega, Simon Robert, com quem teve duas filhas. Em 1528 o casal mudou-se para Bex e em seguida para Aigle onde Simon Robert foi pastor até o ano de sua morte em 1532. Marie Dentière casou-se então com Antoniere Froment, 14 anos mais novo do que ela. Em 1536, Marie Dentière publicou Guerre et Deslivrance de la ville de Genesve (em português: “Guerra e Libertação de Genebra”). Teve um papel ativo na reforma religiosa e política de Genebra. Além disso, seus trabalhos em favor da Reforma e seus escritos são considerados uma defesa da perspectiva feminina em um mundo que passava por rápidas e drásticas transformações em pouco tempo. Em 2002, seu nome foi gravado no Monumento Internacional da Reforma, em Genebra, tornando-se a primeira mulher a receber tal reconhecimento.
Susannah Wesley (1669- 1742)
Dizem que, se John Wesley foi o pai do Metodismo, Susana foi a mãe. Ela é apontada como a maior influência religiosa do filho, condutor de uma grande obra de avivamento na Inglaterra do século 18. Filha de uma família de puritanos ingleses, ela aceitou ir para a Igreja Anglicana, onde seu marido Samuel Wesley exercia o ministério de pastor, na pequena paróquia de Epworth, na Inglaterra. Para Susannah, a maternidade incluía a responsabilidade de educar e formar homens e mulheres de Deus. Ela foi responsável pela alfabetização e evangelização dos 19 filhos.
Conta o escritor Mateo Lelièvre, autor da biografia John Wesley – sua vida e obra (Editora Vida), que, certa vez, seu marido disse-lhe: “Acho admirável sua paciência, porque você repetiu a mesma coisa nos ouvidos dessa criança nada menos do que vinte vezes”. Ela respondeu: “Teria perdido o meu tempo, se a tivesse repetido somente dezenove, pois foi só na vigésima vez que cumpri o meu objetivo”. Essa criança era John Wesley, que algum tempo mais tarde sobreviveu a um incêndio criminoso na casa da família e passou a ser visto pela mãe como alguém com uma missão especial. Susana passou por privações físicas e materiais e somente nove dos 19 filhos chegaram a idade adulta. Mas ela cumpriu de forma diligente sua missão e foi citada por Wesley em diversas cartas e livros.
Sarah Poulton Kalley (1825 – 1907)
Sarah Poulton Wilson nasceu em Nottingham e casou- se com Robert Reid Kalley, um médico que tratou seu irmão da tuberculose. Juntos estiveram nos Estados Unidos, em 1853, em visita aos crentes portugueses refugiados em Lacksonville e Springfield por conta da perseguição religiosa sofrida na Ilha de Madeira.
Em 1855, Sarah acompanhou o marido ao Brasil, onde os dois se dedicaram a atividades missionárias e inauguraram em 1858 no Rio de Janeiro a Igreja Evangélica Fluminense, primeira igreja evangélica do país, da qual se originaram outras, que mais tarde constituíram a denominação Congregacional. Sarah fundou, ainda, a primeira Sociedade de Senhoras e foi autora de hinos cantados em igrejas evangélicas até o século XX. Como o casal não teve filhos, adotou duas crianças brasileiras. A amizade do marido com Dom Pedro II colaborou para a liberdade religiosa e para o trabalho evangelístico. Ao regressar definitivamente à Inglaterra, Sarah fundou a missão “Help for Brazil”, que mais tarde se reuniu a outras entidades para constituir a “União Evangélica Sul Americana” (U.E.S.A.).
Catherine Booth (1829 – 1890)
Catherine Mumford em Ashbourne nasceu no condado do Derbyshire, Inglaterra. Desde bem nova era reconhecida como séria, religiosa e sensível. Aos 14 anos, uma enfermidade na coluna obrigou-a a deixar a escola, mas, ainda assim, foi uma brilhante aluna e estudou teologia, história, geografia e filosofia. Filiou-se numa Igreja Metodista e suas inquietações sociais fizeram com que se comprometesse com a “Band of Hope”, uma sociedade de temperança para meninos e adolescentes da classe operária fundada em 1847, onde os membros faziam votos de abstinência total (alcoólica) e faziam também propaganda contra as bebidas alcoólicas. Por esse tempo Catherine também foi ativista do “Temperance Movement”, escrevendo cartas sobre este problema a numerosos jornais e autoridades. Ela conheceu William Booth em 1852 numa pregação em sua igreja e se casou três anos depois. Juntos eles começaram a dar assistência aos pobres da cidade. Eles saíam pelas ruas convidando a todos para seus cultos nas tendas armadas na rua e muitas vezes, William chegava em casa molhado de bebida e ovos podres que eram jogados nele durante as cruzadas. Quase todos os seus oito filhos trabalhavam com eles na missão e em pouco tempo eles foram para os EUA para estabelecer o mesmo trabalho. O Exército de Salvação nasceu em 1878 e hoje atende pessoas em 94 países, verdadeiramente um grande final para uma mulher doente, com educação caseira e oito filhos para cuidar.
Aimée Semple McPherson (1890 – 1944)
A fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular nasceu no Canadá. Mas foi em viagens missionárias pelo mundo que Aimée realizou curas e milagres e ficou muito conhecida, pois usava métodos modernos de evangelismo para a época, especialmente o rádio. Aimée fez sua primeira viagem transcontinental em 1918, atravessou o continente em seu carro com uma frase: “Carro do Evangelho” e “Jesus voltará, prepare-se!”. No dia 1 de janeiro de 1923, foi inaugurado o templo Sede Internacional Angelus Temple com capacidade para 5000 pessoas e Aimée dirigia 21 cultos por semana. Trinta e três dias depois foi inaugurado o Instituto de Treinamento Evangelístico e Missionário e em 6 de fevereiro de 1924 ela consagrou a primeira rádio pertencente a uma igreja nos Estados Unidos e a terceira de emissora em Los Angeles, a KFSG. Aimée também foi autora de vários livros. Durante sua jornada foi perseguida e passou por muitos problemas de saúde. Mas perseverou e atualmente, a Igreja do Evangelho Quadrangular já está presente em 146 países ao redor do mundo. Sua sede mundial ainda fica em Los Angeles, Califórnia (EUA), mas a igreja funciona de forma autônoma em cada país.
Edith Schaeffer (1914-2013)
Schaeffer nasceu em Wenzhou, China, filha de missionários que trabalhavam no interior da China. Casou-se com Francis Schaeffer e, para que seu marido pudesse terminar o seminário, costurou ternos masculinos e fez becas e vestidos de noiva para clientes particulares. Após três anos servindo em ministério pastoral ativo nos Estados Unidos, os Schaeffers mudaram-se com a família para a Suíça em 1948 para ajudar igrejas em seus esforços de resistir tanto ao liberalismo na teologia quanto ao existencialismo na cultura após a Segunda Guerra Mundial.
Em 1955 fundaram na Suíça a L’Abri (termo francês que significa “abrigo”), quando começaram a abrir sua casa para receber estudantes em busca de respostas às suas perguntas sobre Deus, o mundo, e suas vidas pessoais. A partir daí foram fundadas comunidades L’Abri na Inglaterra, Holanda, Suécia, América, Canadá e Coréia. Em 1960, a L’Abri tinha se tornado tal fenômeno que atraiu os olhos da revista Time. Edith escreveu ou coescreveu 20 livros, dois a menos que seu marido. Dois de seus livros (“Aflição” e “A Tapeçaria: A Vida e a Época de Francis e Edith Schaeffer”) ganharam o Prêmio Medalhão de Ouro da Associação de Editoras Cristãs Evangélicas (Evangelical Christian Publishers Association). Foi reconhecida pela sua hospitalidade e pela defesa da família.
Corrie ten Boom (1892 – 1983)
Cornelia ten Boom fazia parte da Igreja Reformada, de tradição calvinista, e era costume em casa começar e acabar o dia com uma leitura bíblica, cantos e orações. Em 1940, quando os nazistas invadiram a Holanda, rapidamente foram organizados comitês de resistência, alguns nas próprias igrejas. A família de Corrie livrou vários judeus da morte, escondendo-os num quarto secreto em sua casa. Mas pagou um preço altíssimo por isso, com a prisão dela, de sua irmã e do pai. Apesar da dor e humilhação, muitas mulheres se converteram ao cristianismo por causa do testemunho de Corrie e Betsie.
Corrie saiu da prisão em 1944 e um ano depois publicou seu primeiro livro, de uma série que viria depois. Aos 53 anos de idade, começou um ministério mundial para difundir a sua fé e as suas experiências em igrejas, universidades, escolas, cárceres etc., que a levou a viajar por mais de 60 países nos 33 seguintes anos da sua vida. Em 1968, o Museu do Holocausto em Jerusalém (Yad Vashem) pediu-lhe que plantasse uma árvore em memória das muitas vidas de judeus que ela e sua família salvaram. Na década de 70, Corrie contou a história de sua família e seu trabalho durante a Segunda Guerra em outro livro, O Refúgio Secreto (1971), que foi levado ao cinema em 1975.
Ruth Bell Graham (1920 – 2007)
Ruth Bell Graham, esposa do evangelista Billy Graham, nasceu em Qingjiang, Kiangsu, China. Passou a infância nos campos de missões da China ao lado dos pais e dos irmãos – Rosa, Virginia e Clayton; rodeados de doença, do desespero, da desordem e do caos das guerras civis chinesas. Aos 13 anos, Ruth foi enviada para estudar num internato em Pyonyang, hoje Coréia do Norte. Ruth concluiu o colegial em Montreat, Carolina do Norte, EUA, enquanto seus pais estavam de licença do campo missionário. Em 1937, ela se matriculou na Faculdade de Wheaton, onde três anos mais tarde foi apresentada ao “pregador” Billy Graham. Durante um breve período, Ruth serviu como esposa de pastor em Western Springs, Illinois, antes que Billy fosse transferido para servir como evangelista da Juventude para Cristo e Presidente das Escolas do Noroeste em Minneapolis, Estado de Minnesota.
Com o aumento do tempo que passava sozinha, devido as frequentes viagens de pregação e com seu primeiro bebê a caminho, Ruth convenceu Billy a se mudar com a família para perto dos pais, em Montreat. O ministério de Ruth floresceu nas montanhas do Oeste da Carolina Norte, onde ela estabeleceu o domicílio da sua família e criou os cinco filhos do casal. Ruth firmou seu papel como a mulher forte por trás do “Pastor da América” sendo a confidente mais íntima de Billy. Ela gostava de mover-se nos bastidores, longe dos holofotes, e ajudava-o a pesquisar e esboçar sermões e os livros. Ruth escreveu e coescreveu 14 livros, incluindo “Sitting by My Laughing Fire, Legacy of a Pack Rat, Prodigals and Those Who Love Them, and One Wintry Night”.
Joni Eareckson Tada (1949)
Joni Eareckson Tada – tetraplégica desde um mergulho imprudente na adolescência – ficou mundialmente conhecida nos anos 70 como ativista em luta permanente pelos direitos e pela qualidade de vida das pessoas com deficiência física. Ela escreveu suas experiências durante a reabilitação e as publicou em 1976 em uma autobiografía, que se tornou best-seller internacional, Joni: The unforgettable story of a young woman’s struggle against quadriplegia & depression. O livro deu origem ao filme, onde ela foi atriz principal. À frente do ministério Joni e Amigos ela percorre o mundo em sua cadeira de rodas, oferecendo esperança às pessoas. Até hoje, sua instituição já distribuiu mais de 50 mil cadeiras de rodas, além de aparelhos ortopédicos, próteses e todo tipo de auxílio a deficientes físicos, sobretudo nos países mais pobres, além da palavra de esperança e salvação, mensagem de que Joni nunca abriu mão de anunciar. Joni recebeu diversos prêmios e reconhecimentos. Entre eles, em 2005 foi indicada ao Comitê Consultivo de Deficiência Física do Departamento de Estado dos EUA.