Markus Spiske/ Unsplash| Foto:

Victor Matheus Martins, de 28 anos, é o mais velho de cinco irmãos. “O mais velho, o que cuida… Até hoje”, define-se. Nessa posição, Victor sempre se sentiu responsável de alguma forma por suas duas irmãs e seus dois irmãos. “Tive muitas experiências positivas com meus irmãos mais novos”, garante. “Mas tive que aprender, depois de adulto, a mudar o meu foco e passar por uma espécie de desconstrução”.

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Para Victor, ser irmão mais velho e ter um papel no cuidado dos irmãos o ajudou a ter capacidade de liderança e sensibilidade em relação às necessidades de outras pessoas. “Mas, ao mesmo tempo, fez com que eu estivesse sempre muito atento ao que tinha relação com os outros e pouco atento ao que dizia respeito a mim mesmo, deixando de lado obrigações ou desejos pessoais”, explica.

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Afinal, fazer com que os filhos mais velhos ajudem no cuidado dos mais novos faz bem a ambos? Para a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz, essa é uma boa estratégia para integrar o irmão mais velho nesse novo momento da família em que o foco é o caçula. “Muitas vezes, dependendo de como foi preparado para a chegada de um bebê e de como está entendendo esse momento, o irmão mais velho fica um tanto deslocado”, aponta ela. “Convidá-lo a colaborar nas tarefas de cuidado com o bebê é uma forma de fazer com que ele não fique de lado nesse momento”.

É preciso, porém, ter cuidado para não cair em algumas armadilhas. “Quem tem o papel do cuidado integral são os pais. Nesse sentido, aplicada ao irmão mais velho, talvez a palavra ‘cuidado’ seja um pouco traiçoeira”, afirma a psicóloga. “Como trabalho muito com crianças com deficiência, vejo com frequência aquele típico discurso dos pais sobre a responsabilidade do irmão mais velho. Isso pode gerar ansiedade, sobrecarga e até depressão”.

É saudável que o irmão mais velho ajude em pequenas tarefas e seja um ponto de referência para o mais novo – já que tem, em relação aos pais, a vantagem de falar uma linguagem mais próxima à do irmão. É possível, ainda, deixar o mais novo aos cuidados do mais velho, desde que isso aconteça em situações muito pontuais e não como rotina.

“Por exemplo, se os dois frequentam a mesma escola, é delicado dizer ao mais velho que ele tem a obrigação de cuidar do mais novo”, diz. “E é comum que naturalmente ele se preocupe com o irmão, mas implicar que isso é uma obrigação da criança mais velha pode ser muito prejudicial, na medida em que ela pode deixar de atentar às suas vivências na escola para estar sempre em função do irmão”, comenta Ana Caroline. Victor concorda: “Se o cuidado de uma criança mais nova pesa sobre alguém, é sobre o pai e a mãe que tem que pesar. A criança mais velha está ali para ajudar, mas não está ali para sofrer, se angustiar, se estressar ou gerar atritos com o irmão”.

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Distorção de papéis

Confundir as obrigações do irmão mais velho com as dos pais pode gerar uma séria distorção de papéis, que prejudica amplamente as relações familiares. O papel dos pais em regular a dinâmica das relações entre os mais novos e os mais velhos é fundamental nesse sentido.

É assim que Luiz Guilherme Martins, de 23 anos, vê essa questão. Ao lado de sua irmã gêmea, Luiz é o caçula da família de Victor. “Os pais precisam ter consciência de que os irmãos mais velhos já têm uma tendência de se sobreporem aos mais novos e, ao mesmo tempo, de que os mais novos tendem a não reconhecer a autoridade dos mais velhos. Por isso, os pais precisam estar muito próximos para supervisionar essa relação”, diz.

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“Como irmão mais novo, além de as pessoas tenderem a pensar que você foi muito mimado pelos seus pais, às vezes os irmãos mais velhos podem achar que têm o direito de mostrar a você a maneira certa de fazer as coisas”, conta Luiz.

Seu irmão reconhece: “Acho que há uma tendência do irmão mais velho se tornar um tirano, por não querer que os irmãos mais novos cometam os mesmos erros que ele cometeu ou por querer que repitam o mesmo caminho que ele. Aí é que entra o discernimento dos pais de deixar claro ao mais velho que os caminhos dos seus irmãos são diferentes”, afirma Victor.

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“Por mais autoridade que tenham, os irmãos mais velhos não são seus pais e nunca serão. Eles estão na mesma posição que os mais novos”, sublinha Luiz. Segundo Ana Caroline, a função que a família tem como laboratório social – onde se aprende a conviver, a partilhar, a lidar com as regras e a acolher as diferenças – fica prejudicada se a relação entre os irmãos não se dá na horizontalidade que lhe é própria. “Os laços ficam enfraquecidos tanto entre filhos e pais quanto entre os irmãos”, alerta a psicóloga.

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