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Apresentar de modo negativo políticos que se assumem abertamente como evangélicos, no Brasil, é a regra. Pelo menos é isso que se conclui quando se analisa o noticiário político produzido pela maior parte dos grandes veículos de mídia do país. Com frequentes destaques ao que há de mais pitoresco nesses homens públicos – ainda que estejam longe de serem perfeitos -, fica evidente a qualquer observador a tendência dos jornalistas brasileiros em vincular o político religioso à ignorância e retrocesso, abusando de rótulos pejorativos, como “ultraconservador”, e induzindo o leitor a concluir que fé e vida pública é uma mistura nociva, seja de forma velada ou explícita. Parte de todo esse preconceito pode ser explicada pela formação acadêmica recebida pelos profissionais de imprensa.

A presença evangélica na política brasileira não é algo novo, mas tornou-se mais estruturada a partir de 2003, com a criação da Frente Parlamentar Evangélica. Com discursos moralmente conservadores, que se alinham à da maior parte da população brasileira, esses parlamentares cristãos ganharam amplo espaço na vida pública nacional, mas atraem os holofotes da mídia, principalmente, quando os temas se chocam com o pensamento dominante das redações de jornal, como é o caso da legalização do aborto e da união homoafetiva. Nesse conflito, quase sempre, sobra desdém e rótulos. Faltam honestidade e profissionalismo.

Para o filósofo e colunista da Gazeta do Povo, Carlos Ramalhete, políticos evangélicos, em geral, são alvo de desprezo jornalístico porque são a representação de um enorme eleitorado que sustenta uma visão tradicional a respeito de diversos assuntos. “O preconceito da imprensa apenas reflete o preconceito da classe média ‘bem-pensante’, que – ao contrário da população geral – tem como seus os valores de Maio de 68: ‘é proibido proibir’, ‘nem Deus nem mestre’, etc”, diz o filósofo, referindo-se ao movimento revolucionários francês da década de 60 que propôs mudanças radicais de comportamento social, como o sexo livre.

Essa forma de ver o mundo, diz Ramalhete, é fomentada pelas faculdades brasileiras de jornalismo. “As faculdades de jornalismo são basicamente, meios de reprodução deste discurso da classe média burguesa urbana das capitais, e é por isso que a média dos jornalistas está tão distante do que se passa na cabeça do grosso da população”

A distância de valores entre povo e mídia geraria, então, a representação de políticos evangélicos como figuras caricatas, sendo o desprezo a atitude mais adequada contra estes. Essa forma de pensar e agir dos profissionais de comunicação considera como “bom” apenas aquilo que se encaixa nos estreitos padrões tidos como “progressistas”, comumente vinculados à classe média urbana, e opõe-se ao pensamento majoritário dos brasileiros, que vê nesses líderes políticos – e muitas vezes, espirituais – pessoas sábias ou pelo menos confiáveis.

Ramalhete explica ainda, que o preconceito dessa classe média urbana “pensante” em relação à bancada evangélica e seus representantes, acontece porque, para eles, ver a grande imprensa que está sempre ao seu lado, parando para ouvir a fala desses políticos, é um horror. “Para a mentalidade de ‘sinhazinha’ da nossa classe média, os pobres não podem ter direito à palavra, e a imprensa faz-lhe a vontade. Os ditos evangélicos são, na política, a única real representação dos pobres que de fato existe. A mídia, assim, fala exatamente o que essa burguesia urbana consegue ouvir; qualquer opinião em contrário, para esta, deve ser ridicularizada e liminarmente excluída dos salões bem-pensantes”, completa.

 

 

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