Arquivo pessoal/Ellen Reis
Arquivo pessoal/Ellen Reis| Foto:

Os momentos em que seu bebê chora, precisa trocar a fralda ou mamar são os mais difíceis para a gaúcha Ellen Reis Queiroga, de 32 anos. “Basta eu pegar o Willian no colo nas horas de maior apuro para que nossa filha mais velha também peça alguma coisa, mesmo que não precise de nada”, relata. Esses pedidos da pequena Emilly Queiroga, de três anos, são demonstração do ciúme que as crianças sentem ao dividir a atenção dos pais, o colo e até seu quarto com o irmão mais novo. Mas como lidar com isso?

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De acordo com a psicóloga Iara Lais Raittz Omar, a atitude é normal e também pode ser acompanhada pelo sentimento de raiva, negação e até por regressões de comportamento após a chegada do novo bebê. “A criança não sabe lidar com mudanças na rotina, então essas são as formas de ela expressar o que sente”, afirma a especialista, que já presenciou inúmeros casos de irmãos mais velhos que voltaram a engatinhar, mamar ou pedir chupeta após ganharem um irmãozinho ou irmãzinha.

Em algumas situações, no entanto, essas regressões podem ser graves, comprometendo a realização de atividades simples pela criança e prejudicando seu desenvolvimento. “É aí que vem a preocupação”, afirma Lais. Segundo ela, as tentativas do filho mais velho para lidar com seus sentimentos não podem impossibilitá-lo de realizar ações que tinha facilidade. “Uma coisa é voltar a engatinhar ou falar como bebê para atrair a atenção dos pais, e outra bem diferente é não caminhar mais e permanecer assim por longo tempo”, pontua.

Por isso, a psicóloga garante que é necessário preparar a criança antes da chegada do novo bebê. “Explique as mudanças que virão a partir disso e que o tempo em casa precisará ser administrado de forma diferente porque um bebê dá bastante trabalho”, orienta. Além disso, é importante ressaltar que o filho será referência para o irmão e que os dois viverão momentos felizes juntos. “Ressalte que agora ele terá alguém para brincar e para dividir suas escolhas e situações da vida. Ele precisa saber que ter um irmãozinho é algo positivo e que ele faz parte daquele momento”.

“Ressalte que agora ele terá alguém para brincar e para dividir suas escolhas e situações da vida. Ele precisa saber que ter um irmãozinho é algo positivo e que ele faz parte daquele momento”.

No caso de Ellen, esse preparo começou logo nos primeiros meses de gestação. “A Emilly tinha um ano e meio quando descobri que estava grávida, então já comecei a falar que tinha um bebezinho na minha barriga”, recorda a professora, que mostrava fotos de mulheres grávidas e de bebês para facilitar o entendimento da filha. “Eu também fazia fotos da minha barriga toda semana e ela pedia para bater foto pertinho do ‘mano’. Fui trabalhando isso com ela o tempo todo”.

A menina também cantava para o irmão ouvir e passou a aguardar sua chegada. “Aí, quando o Willian nasceu, nós chegamos da maternidade trazendo um presente para ela: uma boneca de pano que o irmão estava dando”, conta a mãe. De acordo com Iara, essa estratégia é comum e faz com que a criança se sinta incluída. “Até pode acontecer de o filho mais velho não aceitar aquilo de forma afetiva, mas, na maioria das vezes, costuma dar certo e a criança guarda aquele presente com carinho por muitos anos”.

Arquivo pessoal/Ellen Reis Emilly e o irmão Willian se divertem muito juntos. Arquivo pessoal/Ellen Reis

A pequena Emilly, por exemplo, amou o presente e segurava a boneca sempre que a mãe cuidava do bebê.  “Ela ficava perto de mim e me ajudava. Então, ia pegar uma fralda e trazia, alcançava a roupinha do Willian e acompanhava enquanto eu dava banho nele”, recorda a mãe. “Sempre fiz ela se sentir importante”, afirma Ellen, que também separava momentos para ficar sozinha com a filha. “Quando o Willian estava com a babá, eu levava minha filha no parquinho para brincar e conversar bastante com ela. E o mesmo acontece com o papai até hoje”.

Ouça seu filho

Esses momentos de conversa, segundo Iara, são essenciais para que o filho mais velho perceba que não perdeu espaço na família e tenha certeza de que sempre será ouvido. “É importante, inclusive, que ele fale do ciúme e da raiva que estiver sentindo porque isso o ajudará a elaborar esses sentimentos”, pontua. Isso é necessário, porque antes o irmão mais velho tinha um espaço que era só dele e, de repente, esse espaço passou a ser dividido.

Esse diálogo com a criança também melhorará o relacionamento dela com o novo irmão e fará com que entenda que já foi um bebê. “Mostrar que a criança também recebia toda aquela atenção quando nasceu fará com que se imagine nesse lugar”, explica a psicóloga. Iara incentiva, ainda, que os pais aproveitem os momentos de cuidado com o bebê para isso. “Conte ao filho como ele era e o que gostava de fazer na hora do banho, por exemplo. Essas experiências farão com que o mais velho se aproxime afetivamente do mais novo”.

Arquivo pessoal/Ellen Reis Wagner e Ellen aproveitam essa fase dos filhos e veem o vínculo entre eles crescer.  Arquivo pessoal/Ellen Reis

No entanto, ela alerta os pais para que não responsabilizem a criança pelo cuidado com o irmão. “Eles podem se cuidar no sentido afetivo de serem companheiros, mas não de um ser o responsável pela criação e educação do outro porque isso é dever dos pais”, afirma Iara.

Além disso, é necessário mostrar que os irmãos estão na mesma posição de importância diante dos pais e que recebem o mesmo carinho, ainda que isso signifique atender a uma “regressão de comportamento” momentânea. “A Emilly já dorme sozinha, só que ela pede de vez em quando para dormir no meu colo ou na cama com a gente. E nós deixamos”, afirma a Ellen. “Eu e meu marido sabemos que essa fase vai passar logo e que vai deixar saudade. Então, estamos aproveitando bastante com nossos filhos e vemos o vínculo entre eles apenas crescer”, finaliza.

 

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