Ping Chen* e Kathleen Mullan Harris**, The Conversation
A depressão é uma das principais causas de incapacidade e doença para pessoas em todo o mundo. Geralmente começa na adolescência, especialmente no sexo feminino, pode continuar ou se repetir na idade adulta e tende a se tornar uma condição crônica de saúde ao longo da vida.
Mais de 300 milhões de pessoas sofrem deste distúrbio de saúde mental em todo o mundo. A depressão pode prejudicar as relações sociais, a escola ou o trabalho e a saúde física. Hoje, a falta de saúde mental e os sintomas depressivos também podem estar associados ao aumento recente de mortes prematuras na meia-idade devido a suicídio, álcool e drogas.
Adolescentes estão mais conectados aos amigos e ao mesmo tempo mais solitários
Nós dois somos demógrafos sociais e estudamos os processos familiares e sua relação com a saúde. Usamos uma perspectiva de curso de vida em nossa pesquisa, o que significa que trabalhamos com dados e acompanhamos os indivíduos em várias etapas da vida, examinando como os contextos sociais que experimentam influenciam em sua saúde.
Recentemente, estávamos interessados em entender como a saúde mental muda da adolescência até a idade adulta. Queríamos ver se conseguimos identificar processos familiares que possam proteger os adolescentes da depressão na adolescência e posteriormente. Descobrimos que relacionamentos familiares estreitos e coesos, compreensão e bons momentos compartilhados os protegiam mais tarde.
Alvo certo para a prevenção
É sabido pelas evidências científicas que as relações familiares próximas reduzem os riscos de depressão durante a adolescência, um estágio da vida em que a depressão geralmente começa, principalmente para as meninas. Estávamos interessados em saber se os benefícios de saúde mental das relações familiares estreitas e positivas na adolescência duram até a idade adulta.
O contexto familiar é uma área chave que atrai ampla atenção acadêmica e pública para os esforços de intervenção precoce. A maioria das pesquisas sobre o papel do contexto familiar para a depressão concentra-se em fatores de risco, como negligência, abuso e insegurança financeira. Mas nós nos perguntamos, no entanto, se os esforços preventivos podem ser mais eficazes se focados em fatores de proteção. Não conseguimos encontrar grandes estudos que pudessem lançar luz suficiente sobre o assunto.
“Nossas descobertas sugeriram que, sim, o efeito protetor não apenas ajuda nos difíceis anos da adolescência, mas também protege mais tarde”
Alguns pequenos estudos transversais com amostras clínicas e comunitárias sugerem que fazer parte de uma família próxima e coesa na adolescência ajuda a aliviar os sintomas de depressão em adolescentes. Mas esse efeito protetor dura por muito tempo na idade adulta, quando os adolescentes saem da casa de seus pais e seguem com suas vidas independentes? Essa questão intrigante permanece desconhecida também devido à escassez de estudos que seguem as mesmas pessoas ao longo do tempo.
Um estudo que publicamos na JAMA Pediatrics é, até onde sabemos, o primeiro a examinar esse tópico em uma amostra nacionalmente representativa, acompanhando indivíduos ao longo de um curso de vida de 30 anos, do início da adolescência à meia-idade. Nossas descobertas sugeriram que, sim, o efeito protetor não apenas ajuda nos difíceis anos da adolescência, mas também protege mais tarde.
Diferenças entre homens e mulheres
Os dados que usamos são provenientes do Add Health (Estudo Longitudinal Nacional da Saúde do Adolescente para a Saúde do Adulto), um estudo nacionalmente representativo que acompanhou cerca de 20 mil adolescentes a partir de 1995 até a idade adulta. O grupo que iniciou o projeto foi entrevistado cinco vezes, adicionando conhecimentos valiosos sobre seu desenvolvimento ao longo da vida. Os novos dados da rodada de entrevistas de 2017 nos permitiram examinar como o que acontece na adolescência é importante para a saúde mental da vida adulta.
Tivemos insights, por meio da pesquisa, sobre como a depressão pode ser impedida de se tornar uma doença ao longo da vida. Primeiro, descobrimos diferenças de gênero na depressão ao longo do tempo. As mulheres apresentaram níveis significativamente mais altos de sintomas depressivos do que os homens entre o início da adolescência e os 40 anos.
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As adolescentes são vulneráveis a altos níveis de depressão no meio ao final da adolescência. Os meninos adolescentes, em comparação, experimentaram um período mais curto de depressão no final da adolescência. As mulheres experimentaram os níveis mais altos de depressão no final dos anos 30 anos. Os níveis mais altos de depressão dos homens ocorreram entre os anos 30 e os anos 40, diante dos crescentes desafios do trabalho, da família e da vida social.
Nossas descobertas indicam, também, que os benefícios na saúde mental das relações familiares coesas durante a adolescência duram até a meia-idade. Os indivíduos que experimentaram relações familiares positivas na adolescência apresentaram níveis significativamente mais baixos de sintomas depressivos do início da adolescência à meia-idade (entre os 30 e os 40 anos) do que aqueles que tiveram relações familiares menos positivas.
Iniciativas de saúde pública podem incentivar o relacionamento positivo entre a família
Viver em uma casa positiva, ter alguém por perto que entenda e preste atenção, se divertir junto como a família pode criar o sentimento de confiança e apego entre os membros da família e adolescentes. Relações estreitas podem fornecer fontes de apoio social e emocional que incentivem o desenvolvimento de habilidades para lidar com estresses variáveis e cumulativos.
Nossos resultados de pesquisa enfatizam a necessidade urgente de intervenções preventivas precoces da depressão na vida familiar dos adolescentes. A adolescência é um estágio crítico da vida em que ocorrem profundas transformações no desenvolvimento neurológico, biológico, cognitivo e social. Essas mudanças tornam os adolescentes especialmente vulneráveis ao desenvolvimento da depressão mesmo na vida adulta.
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As iniciativas de saúde pública podem ensinar e incentivar pais e membros da família a cultivar relações familiares positivas com seus adolescentes. Podem ser desenvolvidos programas para promover a interação familiar dos adolescentes, fornecendo dicas sobre como as famílias podem demonstrar afeto e compreensão, passar tempo juntos e trabalhar em conflitos.
No entanto, o resultado da nossa pesquisa não implica que adolescentes em famílias menos positivas estejam fadados à depressão ao longo da vida. A depressão é um distúrbio mental extremamente complexo. Ninguém sabe exatamente o que causa isso. Fatores como genética, abuso ou doenças graves também podem aumentar os riscos de depressão. Os adolescentes podem ser capazes de encontrar fontes semelhantes de apoio social e adquirir habilidades de enfrentamento por meio de outras conexões sociais com amigos, em instituições religiosas e outras, e na comunidade local.
* Cientista Sênior na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill
** Professora de Sociologia na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill
Tradução de Janaína Imthurm.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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