A pior tragédia na vida de pais e mães é a perda de um filho. O instinto de proteção é tão natural quanto o amor para dar a liberdade que crianças e adolescentes tanto desejam. Só que uma fase tão complicada como a adolescência pode ganhar proporções catastróficas diante de um inimigo muitas vezes silencioso, que está cada vez mais presente na vida de todos: as redes sociais.
É com o pior dos lutos que lidam, hoje, os pais de Lucas Santos, um adolescente de 16 anos que tirou a própria vida assustado com a repercussão de um vídeo postado na internet. A mãe, a cantora de forró Walkyria Santos, fez um apelo pedindo que os pais tenham cuidado com o que tem acontecido em um espaço tão cheio de possibilidades e perigos como o mundo virtual.
Há cerca de um mês Fernanda Rocha Kanner ficou famosa na internet ao comunicar que decidiu apagar as redes da filha de 14 anos, que tinha mais de 2 milhões de seguidores. “Para proteger a futura saúde mental”, disse ela na publicação em que explicou o motivo da decisão.
Problemática relação com o virtual
Esses casos acendem um sinal de alerta para especialistas que afirmam ser cada vez mais problemática a relação dos jovens, e até adultos, em busca de curtidas e compartilhamentos na internet. Paulo Cesar Porto Martins, psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica no Paraná (PUCPR), acredita que o mundo virtual é idealizado, em que todos são felizes. É isso que cria uma sensação de fracasso em quem não tem os mesmos padrões estéticos e financeiros.
“Se eu não tenho aquele corpo, aquele estilo de vida, aquela casa ou aquela família que parece maravilhosa eu sou um perdedor”, esclarece Paulo. O psicólogo orienta que, em adolescentes, esse sentimento é ainda mais intenso em razão da necessidade de aprovação pelo outro, algo muito normal da idade.
Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva e especialista em parentalidade consciente, argumenta que crianças e adolescentes estão na fase de se questionar e se perguntar quem realmente são. É por isso que opiniões de outras pessoas são tão relevantes na visão deles. Ela destaca o fenômeno chamado audiência imaginária. “Mesmo quando não tem alguém assistindo, eles se perguntam como as pessoas veriam aquilo que estão fazendo. Imagina isso aliado a uma ferramenta que de fato potencializa essa audiência”, ressalta.
Olhos atentos
Paulo não indica que os pais proíbam o acesso ou simplesmente apaguem as redes dos filhos e defende o diálogo como primeira ferramenta. O mais importante é acompanhar de perto cada passo e o quanto o mundo virtual importa e reflete na vida dessa criança ou adolescente. “Os jovens, em geral, ficam muito no computador, mas eles conseguem ficar felizes no mundo real? O que essas pessoas fazem na internet? Os pais sabem? Pais tem que estar vigilantes”, recomenda.
Preocupação excessiva com os comentários ou curtidas, com a aprovação ou a opinião negativa em alguma foto ou vídeo postado são sinais aos quais os pais devem ficar atentos, segundo Adriana. “Quanto mais a vida se resume ao telefone, menos socialização acontece”, constata a mestre em psicologia, que completa: “Tem pesquisas que mostram que o uso de redes sociais aumenta a solidão”.
Monitorar e conversar são as principais saídas apontadas pelos especialistas. Eles também deixam bem claro que se os pais não se sentem aptos a lidar com esse tipo de comportamento, devem procurar profissionais que possam acompanhar esses jovens. E quanto mais estímulos fora do mundo virtual, melhor.