Ao preparar um desenho a respeito da pandemia de Covid-19, uma menina de 7 anos retrata sua mãe chorando, um menino de 9 mostra a solidão que sentiu em sua festa de aniversário, e uma pequena de apenas 6 anos desenha ela mesma usando máscara e fazendo um pedido: “quero ser feliz sem ter o que temer”.
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As imagens citadas fazem parte de um estudo divulgado no mês de maio pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mostram como as crianças têm se preocupado com a situação atual, sentido medo e sofrido com o isolamento, saudade dos amigos, desemprego dos pais e adoecimento de familiares. Por isso, é necessário ficar atento aos sinais de tristeza, irritabilidade e mudanças de comportamento apresentados pelos pequenos neste período, para acolhê-los corretamente e evitar prejuízos emocionais no futuro.
E o primeiro passo, de acordo com a psicóloga e pesquisadora Lídia Weber, é cuidar da própria saúde mental, já que os adultos também estão desestabilizados com tantas incertezas, mudanças na rotina, medo de adoecer e relações sociais abaladas. “Comece cuidando da sua saúde, encontre formas de relaxar, adote a meditação ou atenção plena, faça listas de coisas boas e tenha tempo para si mesmo”, orienta Lídia, que é doutora em psicologia e atua como professora sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Segundo ela, isso é necessário para que o adulto regule as próprias emoções e ensine a criança a lidar com diferentes sentimentos por meio do seu exemplo. Além disso, esse cuidado com a saúde física e emocional faz com que os pais e avós consigam aproveitar melhor o tempo com seus filhos e netos por meio de brincadeiras, atividades físicas em família, jogos interativos e outras situações que ensinam regulação emocional e facilitam a percepção quando há algo errado.
E a lista de atividades para isso é grande. “Pais e filhos podem ler juntos para conversar sobre o comportamento dos personagens, pintar, colar fotos pela casa, pular no jardim, aparar as plantas, brincar de amarelinha ou dançar juntos”, sugere a professora, que também orienta a realização de atividades para manejo do estresse, como soprar bolhas de sabão ou praticar yoga, por exemplo.
O importante é que os adultos passem tempo com a criança para conhecê-la, orientá-la quando expressar diferentes sentimentos e também para entender suas preocupações por meio de algo que ela disser durante a brincadeira. “E, se ela tiver mudanças comportamentais que duram semanas ou reclamar de dores frequentes que não tinha antes, pode ser necessário buscar ajuda específica, com um psicoterapeuta”. Para esses casos, Lídia lista alguns sintomas de alerta. Veja quais são:
- Mudanças drásticas na alimentação
A criança estava acostumada a comer determinada quantidade e em horários estabelecidos, mas agora apresenta mais fome ou simplesmente não quer se alimentar. Ela também pode vomitar com frequência e reclamar nas refeições. - Alterações nos hábitos de sono
Em situações de sobrecarga emocional, os pequenos também podem mudar sua rotina de sono, não conseguindo dormir e acordar no horário que precisam ou “desmaiando” no meio do dia. Também podem ocorrer episódios de enurese noturna, quando a criança faz xixi na cama. - Dores que não tinha antes
Outro sinal de que há algo errado com a saúde emocional é a queixa frequente a respeito de dores no estômago e na cabeça. Isso incomoda a criança e pode causar bastante choro. - Alterações no humor
Ela também pode sentir tristeza, irritabilidade, raiva ou medo, de forma alternada e sem explicação aparente. Pode ainda apresentar atitudes agressivas como bater, gritar e morder, e não querer mais brincar ou falar com amigos, preferindo se isolar. - Demonstrar medo excessivo
Algumas crianças também apresentam muito medo de ficar sozinhas, precisando de alguém por perto o tempo inteiro. Essa ansiedade diante da separação é motivo de alerta, pois mostra que algo está gerando insegurança à criança. - Falam de tristeza e morte
Ao ouvir muitas notícias a respeito da pandemia e de outras situações ruins, a criança pode transformar o assunto no tópico principal de suas conversas, deixando de lado situações alegres e outras atividades. Algumas passam a falar frequentemente em morte, tristeza e até em suicídio, então os pais devem prestar atenção ao que a criança vê no dia a dia, e deve ouvir atentamente o que ela expressar. - Não se interessar mais por coisas que gostava
Por fim, se a criança deixa de ter ânimo para realizar atividades que gostava, não quer mais falar com amigos, brincar ou realizar algo novo, os pais e cuidadores devem buscar ajuda. Há situações, inclusive, em que os pequenos apresentam mudanças na aparência e param de cuidar da higiene pessoal, um dos alertas para casos de depressão.