"Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" é o tipo de lição que também não funciona com crianças. Não adianta querer que os filhos aprendam algo só porque os pais dizem que deve ser assim. O exemplo é a melhor forma de ensinar. E apesar de a personalidade ser muito importante nesse processo, encarar a vida de forma leve e até otimista se liga diretamente às atitudes dentro de casa.
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“A criança precisa de modelos, ela aprende muita coisa por imitação. Então o contexto que ela vive vai ser fundamental para a personalidade dela como um todo”, diz a psicóloga, mestre em Psicologia e professora da Universidade Positivo, Josy Martins. Para ela, fazer com que os filhos gostem da vida depende muito de como os pais encaram as dificuldades.
Os círculos de convivência da criança são tomados como exemplo, afirma Josy. “Se a criança convive com pessoas que demonstram ter uma relação positiva com a vida, que sentem prazer nas pequenas coisas ela vai aprender que a vida tem coisas boas”, explica. Ao mesmo tempo, vivendo em um ambiente negativo, com pessoas que reclamam o tempo inteiro, há uma tendência em ver os problemas de forma mais pesada, de acordo com a psicóloga.
Lidando com frustrações
Josy reforça, porém, que a personalidade não é construída unicamente de forma externa. Muitos aspectos e características serão marcados por um movimento interno, que não tem relação com o que os pais fazem ou acreditam. E é por isso que a frustração também deve ser trabalhada. Tanto nos pais como nos filhos.
A pressão social pela felicidade é intensa, diz a neuropsicóloga Tatiana Proença Isleb. “A gente vive em uma sociedade que prega que tem que ser feliz o tempo todo e isso é muito ruim”, destaca ela. A graça, para Tatiana, é justamente viver os contrastes e entender que ninguém é feliz o tempo todo. Ela fala, por outro lado, que tem como os pais mostrarem, na prática, que a vida é boa.
Incentivar a olhar os detalhes
São coisas que acionam a área do cérebro vinculada à recompensa, segundo a neuropsicóloga. “Tem pessoas que gostam de observar a natureza, estar em contato com animais, passar tempo junto com outras pessoas, ou ainda estar sozinho e ouvir uma boa música”, diz ela. Para cada pessoa pode ser boa uma dessas coisas, ou todas elas. O importante é, também, entender as diferenças, até porque, ela reforça, a criança não vai gostar de tudo que os pais gostam.
Josy também defende que os pais podem direcionar, especialmente porque os filhos precisam de instrução. “Alguém precisa falar o que é certo ou errado e que a criança pode se machucar. Inclusive nas relações com o outro”, orienta. É a experiência do adulto que faz com que ele tenha conhecimento para isso e, também, permite criar os modelos que a personalidade da criança pode vir a seguir.
Gostar da vida, portanto, também pode ter relação com o fato de ter filhos. Mesmo quem tem uma visão mais pessimista das coisas pode se descobrir mais otimista ao querer ensinar a criança que a vida pode sim ser boa. “Não dá pra romantizar as dificuldades”, alerta Josy, que completa: “mesmo aquilo que é difícil nos impulsiona a aprender e mudar”.
Tatiana ainda cita que a criança muito rabugenta, que reclama demais, pode estar mostrando que algo não vai bem. “Se no adulto os sintomas de depressão são muito claros, na criança é mais difícil perceber e a irritação constante pode ser um sinal”, conclui. Nesse caso buscar ajuda profissional é o mais indicado.