Existe magia nas histórias. Todos nós nos lembramos de ouvi-las quando crianças e amávamos. Aventuras imaginárias em lugares distantes, contos sobre como a máquina de lavar louça não está funcionando. Não importa! Quer sejam as inventadas pelos pais ou aquelas lidas em livros, as crianças adoram ouvir histórias.
Um trabalho recente mostrou que a leitura para crianças impacta positivamente o desempenho acadêmico de longo prazo mais do que muitas outras atividades (incluindo tocar música ou fazer artesanato). Descobriu-se que quanto mais frequentemente os pais leem para seus filhos, melhor as pontuações Naplan ( uma série de testes focados em habilidades básicas que são administradas anualmente a estudantes australianos ) de seus filhos em diferentes áreas.
No estudo, foi solicitado que os pais que lessem um livro de histórias sem palavras para seus filhos de três a cinco anos, intitulado O Lobo e as Sete Cabras.
As crianças também foram testadas em muitas áreas de suas habilidades cognitivas importantes, como proficiência em linguagem, memória, autocontrole e habilidades de amizade.
Ao examinar as diferentes maneiras como os pais contam histórias, foi possível saber quais elementos da leitura compartilhada são mais benéficos para o desenvolvimento cognitivo das crianças.
1. Sintonize seu filho
Talvez o aspecto mais importante da leitura para crianças seja sintonizar-se com seu filho. Ouça as dicas do seu filho. Eles gostam da história? Eles conhecem o vocabulário? Eles estão prestando mais atenção nas imagens ou no texto?
Tente treinar seu filho, não instruí-lo. Em vez de dizer: “eles vão cozinhar um pouco, talvez eles tenham fome”, você pode perguntar “o que eles estão fazendo?” ou “por que você acha que eles estão fazendo isso?”.
Seja sensível sobre se eles estão ouvindo e engajados ou desinteressados . Se eles não estiverem engajados, há perguntas que você pode fazer para torná-los mais interessados? Você acha que eles vão gostar mais de um tipo diferente de história? Os melhores livros para o seu filho são aqueles de que ele mais gosta.
2. Faça perguntas
Os pais que fazem muitas perguntas se envolvem de forma mais divertida e informativa com seus filhos. Pergunte se eles conhecem o vocabulário, se eles podem adivinhar o que os personagens farão a seguir e por que fizeram o que fizeram.
Essas perguntas não são úteis apenas porque ajudam as crianças a adquirir novos conhecimentos e maneiras de pensar, mas também ajudam a fortalecer o vínculo emocional entre pais e filhos. As crianças gostam de sentir que fazem parte da tarefa, não que lhes digam como fazer as coisas.
3. Vá além de descrever imagens ou ler texto
No estudo, o livro utilizado era de gravuras e sem palavras. Uma diferença importante que foi observada entre os pais foi que alguns apenas descrevem o que veem e outros vão além da imagem.
Por exemplo, quando a cabra mãe do livro chega em casa e vê a porta da casa aberta, um dos pais disse:
Quando sua mãe voltou para casa e estava ansiosa para ver seus filhos, abraçá-los e contar-lhes uma história, ela de repente viu que a porta estava aberta. Ela estava chocada!
Outro pai disse:
A mãe voltou para casa e viu que a porta estava aberta; ela entrou e procurou as crianças.
Este pai está apenas descrevendo a imagem.
O primeiro pai está imaginando o que está além da imagem e do texto. Esta é uma maneira mais rica de contar uma história para as crianças e, em última análise, leva a melhores resultados de desenvolvimento cognitivo para as crianças. Isso ocorre porque ele ensina o pensamento abstrato, que é a base para muitas das habilidades cognitivas de ordem superior, como resolução de problemas e análise crítica.
4. Faça ligações lógicas entre as diferentes partes da história
Outro elemento que tem uma forte ligação com o desenvolvimento das habilidades cognitivas das crianças é a maneira como os pais constroem ligações lógicas entre as diferentes partes da história.
Frequentemente os eventos nos livros se desenrolam muito rapidamente. Num minuto, o lobo come as cabrinhas e no minuto seguinte é encontrado pela mãe. Alguns pais tentam tornar a sequência de eventos mais lógica do que outros.
Por exemplo quando o lobo está vindo para bater na porta, um dos pais disse:
O lobo, que percebeu que a mãe não está em casa, veio e bateu na porta.
Esta frase carece de links lógicos. Como o lobo sabe que a mãe não está em casa? Por que ele deveria vir e bater na porta? O que ele queria?
Outro pai disse:
O lobo, que estava se bronzeando no mato, viu que a mãe vai buscar comida. Ele pensou, oh, as cabrinhas estão sozinhas em casa e é uma boa hora para eu ir enganá-las e talvez conseguir um bom almoço!
O pai aqui está claramente fornecendo links lógicos entre essas diferentes partes da história.
5. Adicione detalhes relevantes
A maioria dos pais adiciona muitos detalhes à história para torná-la mais interessante ou abrangente. Mas os detalhes relevantes são os mais úteis em termos de melhoria da aprendizagem das crianças e ajudam a tornar a história mais fácil de entender.
Por exemplo, um pai disse:
A cabrinha, que vestia a camisa amarela e era a menor, disse: ‘não devíamos abrir a porta! Como sabemos que esta é nossa mãe? Ela acabou de sair.
Aqui, vestir uma camisa amarela é um detalhe descritivo, mas não acrescenta muito à história.
Outro pai disse:
O menor, que também era o mais inteligente e muito cuidadoso, disse ...
Esse segundo pai está claramente adicionando um detalhe (que o menor é também o mais inteligente e cuidadoso) que torna a história mais significativa e fácil de seguir.
6. Fale sobre conceitos mentais e emocionais
Alguns pais não apenas descrevem os eventos de uma história, mas também discutem conceitos abstratos relacionados a emoções, desejos e pensamentos. Nesses casos tendem a ter filhos com melhores habilidades cognitivas. Essas crianças desenvolvem uma melhor compreensão das emoções dos outros, melhores habilidades de amizade e até mesmo uma memória melhorada e habilidades cognitivas de ordem superior que são úteis na vida futura. Isso leva ao sucesso acadêmico, bem como a melhores habilidades para construir amizades e ter um bom desempenho nas relações sociais.
*Amelia Shay é bolsista de Pesquisa em Psicologia Educacional e do Desenvolvimento, Universidade Católica Australiana.
©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.