A cada nova situação vivida como mãe de adolescente, ficava insegura e logo me agitava por não saber como lidar com elas. Na dúvida, me escondia detrás de respostas automáticas como autopreservação contra o desconhecido.
Siga o Sempre Família no Instagram!
Sob esta dinâmica, gradualmente me tornei inflexível e intolerante a questões que me tiravam da zona de conforto. Assim, cada vez mais presa a convenções, me estagnei em caminhos que de nada me ajudavam a me relacionar e conviver com filho adolescente... "de hoje".
O medo paralisante de pais de adolescente
O inconsciente medo de "lidar" com filho então adolescente me impedia de não só acompanhar seu crescimento como também crescer com e por ele. Cega às oportunidades e atenta só às ameaças da adolescência, desperdiçava ricas chances de experimentar novas rotas e me aperfeiçoar não só como mãe mas, antes de tudo, como ser humano.
Assustada com a "ameaçadora" fase de transformação – a "temida" adolescência – me limitei a repetir modelos do passado. Resistente ao contexto da vida atual, desconsiderei as novas variáveis envolvidas no convívio família. Assim, repeti erros, diria desnecessários, como por exemplo dar respostas automáticas ao filho a fim de escamotear a ausência de respostas às suas inquietantes questões.
Preguiçosamente adotei discursos e opiniões que invalidavam suas necessidades individuais até me tornar mãe de adolescente que, insegura do desconhecido, se escondia em respostas automáticas e imediatistas. Pelo exemplo de ser "não pensante", ia tolhendo o filho de desenvolver visão crítica e opinião própria sem notar a ameaça de formar adulto incompetente para viver o mundo ... "de hoje".
O medo dos pais de discutir novas possibilidades
Um dia, meu adolescente perguntou:
— Mãe, se te pedisse, você me mudaria de escola?
Surpreendida e intimamente agitada pela inusitada questão, respondi direta e prontamente: — Não.
— Saco, mãe! Não quer nem saber o porquê da pergunta antes de responder? – retrucou.
De fato, mal respirei e, sem pensar – e sem interesse em me aprofundar no motivo de ousada pergunta – automaticamente respondi com óbvia negativa. Porém, sua observação me despertou para algo até então desapercebido: o medo de lidar com situações desconhecidas e, por isso, sem respostas prontas, me impedia de dialogar com filho adolescente sobre questões difíceis.
Reagir com respostas automáticas me protegia de discussões difíceis as quais não me sentia preparada para entrar. Assim, a autoproteção por meio de respostas prontas e sem margem à discussão, perdia a chance de exercitar novas possibilidades, alargar horizontes e, quem sabe, buscar novos caminhos para as inusitadas situações vividas com filho adolescente.
Pais e filho adolescente de hoje
Minhas respostas automáticas evidenciaram meu medo de não saber lidar com o desconhecido e, por consequência, com filho adolescente questionador em plena expansão para o mundo das possibilidades.
De um lado, me recusava a cogitar novos caminhos e atitudes; me estagnava como mãe "de hoje". De outro, filho em plena fase de descobertas e transformação, exercitava – e lutava – para me tirar do ostracismo.
Finalmente convencida do fato de ser a adolescência período de mudanças – para toda a família – cedi ao desafio de, pelo menos, tentar mudar a mim mesma para viver a fase de outra forma.
Primeiro, instigada pelo desejo – e dever – de me reconectar com filho adolescente; depois, inspirada pelo compromisso de, antes de formar, ser eu adulto melhor o que me levou a compreender a necessidade de pensar e agir em um mundo de possibilidades diferentes do passado.
Pais que mudam, caminham junto com filho adolescente
Decidida a viver a fase de forma diferente comecei, então, por abandonar as respostas automáticas. Recuperar senso crítico e agir conscientemente sobre questões incômodas foi a primeira meta.
Para isso, passei a encarar o desconhecido – ainda temido – com humilde escuta, observação e ponderação para, então, avaliar opções com risco calculado. Assim resgatei não só o jogo de cintura de quem vive a vida com fluidez mas principalmente a coragem de viver a nova fase junto do filho, desbravando o mundo de possibilidades em que ambos vivemos.
Livre das respostas automáticas, decerto me inquietei das vezes assumidamente sem resposta às novas situações impostas pela atualidade mas, exercitar, testar e descobrir caminhos nunca antes trilhados me fortaleceu como mãe de adolescente que vive o mundo de hoje junto do filho.
Por um pacto entre pais e filho adolescente
O tema surgiu de novo mas, diferente daquela vez, surpreendi filho com nova reação à sua insistente pergunta. Em vez de respostas automáticas, lhe apresentei perguntas abertas, aquelas impossíveis de serem respondidas com um simples "sim" ou "não"; perguntas instigantes que aprofundam a conversa, nomeiam emoções, explicam atitudes, contextualizam fatos.
A inicial abordagem virou, então, conversa até evoluir para um diálogo franco, amigável e, curiosamente, adulto. Mudar meu modo de reagir às intervenções do filho, mudou significativamente a experiência e descobrir filho adolescente em suas relações e dificuldades, seus interesses e suas demandas, suas fragilidades e fortalezas.
Ouso dizer que, finalmente, enxerguei filho adolescente como indivíduo, não mais "massa" e, por isso, passei a agir sem generalizações. A escuta ativa me ensinou a extrapolar opções, a ponderar a experiência do passado e a do presente, a buscar respostas atuais para as demandas do hoje.
Escutar e trocar impressões e até inquietações com filho adolescente nos permitiu conciliar e pactuar desejos, expectativas, ideias e opiniões sobre o mundo tão mudado de hoje e tentar, junto com ele, novas possibilidades de crescimento.
A vida vivida sem respostas automáticas
A pretensiosa máscara de "mãe firme" me transfigurava como adulto intolerante a novas possibilidades e incompetente aos diferentes caminhos propostos pelo mundo atual. Por meio de respostas automáticas me deixei formatar na figura convencionada de mãe reativa ao novo sem notar o distanciamento que isso causava dentro de casa.
A ideia de que pai/mãe de adolescente precisa ter todas as respostas (e certas!) nos coloca sob a ameaça de nos tornarmos não só inflexíveis e arrogantes como figuras permissivas à formação do ser pensante que a missão nos exige cumprir.
Escutar opiniões divergentes, argumentos novos, observar o contexto, avaliar possibilidades e buscar diferentes caminhos mitigando – e não se fechando totalmente aos – riscos é mesmo assustador, trabalhoso e, sim, cansativo.
Mas formar adulto competente para viver o mundo de hoje com autonomia e senso crítico depende disso e começa por pais antes de tudo dispostos a viver a adolescência do filho como oportunidade de também crescer vivendo com mais consciência e menos respostas automáticas. Assim devemos caminhar: juntos e para frente.
*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.