A adolescência é realmente desafiadora tanto para filhos quanto pais, e estabelecer regras nessa fase é uma tarefas complexa.| Foto: Bigstock
Ouça este conteúdo

Estabelecer regras na adolescência é uma das tarefas mais difíceis que a maternidade me impôs. Não bastasse a dificuldade de firmá-las, precisava fazer com que filho adolescente as acatasse, o segundo estágio da desafiadora – e exaustiva – função de mãe. Quando pensei ter finalmente logrado no árduo exercício de resiliência, abriu-se para mim uma espécie de terceiro estágio: lidar com a quebra das benditas regras.

Siga o Sempre Família no Instagram!

"Sabe que horas são?", perguntei já irritada. "Éee... uma e pouco... talvez...", respondeu reticente e também surpreso. "Que hora combinamos que você estaria de volta em casa?", perguntei inquisitiva. "Ah, mãe! Éee... meia-noite. Mas é que...", retrucou tentando se explicar. "Não tem 'mas é que'. Falei meia-noite e, caso acontecesse alguma mudança no acordo, que ligasse para dar notícia. Tô te ligando há quase 2 horas! A propósito: são 2 horas!! Você não me atende nem responde; não me liga, não dá notícias...", esbravejei exasperada numa iniciada guerra em plena madrugada. "Que saco, mãe! Você é muito exagerada! Tava com o pessoal, pô! A gente resolveu comer depois da festa e acabei passando da hora. Só isso!", respondeu justificando o atraso... e tudo o mais.

A partir daquele dia, entendi: sempre haveria uma justificativa para a quebra de qualquer regra firmada. Restava-me saber o que fazer nesta situação.

CARREGANDO :)
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Violação de regras na adolescência

Regras na adolescência são imprescindíveis para uma dinâmica minimamente saudável entre pais e filhos adolescentes e um aprendizado de convívio em sociedade. Firma-las já é, por si só, tarefa difícil: entre diálogos e até discussões enfim chegamos a uma negociação. Afinal, todos precisam entrar em comum acordo para um engajamento de ambos lados.

Mas... o exercício não acaba aí. Mães de adolescente sabem a furada que é entrar neste barco de firmar acordos e, na primeira oportunidade, se frustrar de vê-los sendo quebrados. Pior ainda quando rompidos, escutar as razões de sua quebra. Portanto, desde já, entenda um subterfúgio comum: filho adolescente sempre se faz de vítima da situação.

Antes de assumir este nível de consciência, passei por inúmeras situações em que me senti ludibriada por meu adolescente. Irritação, raiva e vários conflitos causados pela violação de regras estipuladas – e acordadas mutuamente – antecederam o que hoje entendo ser parte do processo de amadurecimento de mãe e filho adolescente. As recorrentes violações de regra decerto que chegaram a me preocupar: "Será que estou lidando com um potencial adulto sem palavra?"

A ideia me aterrorizou verdadeiramente por um longo tempo até me forçar a analisar as circunstâncias em que as regras na adolescência eram quebradas. Um divisor de águas que abriu espaço para aprender mais sobre esta relação complicada de autoridade, educação e, sobretudo, relacionamento com filho adolescente.

Publicidade

Seguir regras é viver menos intensamente

Atenta aos motivos das recorrentes quebras de acordos, notei quão imediatista o adolescente pode ser. As regras e acordos firmados definitivamente não eram acordos falsos: filho realmente aceitava as condições negociadas. Porém, seguir regras na adolescência é viver menos intensamente quando tudo o que ele mais quer é se divertir! Adolescentes violam regras porque elas os impedem de aproveitar o presente.

Como crianças incapazes de se desapegar do brinquedo, adolescentes inconscientemente se perguntam: "Por que adiar o que posso viver já? Depois lido com as consequências... me viro". Nesta atitude de "vejo depois o que acontece", perde a noção do que é perigoso e prejudicial; do que é certo e errado; do que pode e não pode. Em nome da diversão, se sente tentado a violar regras e deixa para pensar sobre as consequências depois.

Assim funciona a cabeça do adolescente: Primeiro o que vem primeiro, simples assim. Por outro lado, pais e mães irritados – às vezes irados – se desesperam. Raivosos lutam para se manter firmes e exigir o cumprimento das regras na adolescência. Mas... elas já foram quebradas! O que fazer então quando o "estrago" já aconteceu? Desisto? Caso perdido?

Firmar regras na adolescência é só o começo

Vivi esta situação inúmeras vezes: briguei, exigi, "dei piti", quis desistir. Reagi de diferentes formas e a violação das regras de novo acontecia; sempre com justificativas – na maioria das vezes até plausíveis! – o que deixava ainda mais possessa e assustada. Incrível a habilidade de argumentação de um adolescente. Ele é envolvente, às vezes até lógico – o que é surpreendente – e acaba por te convencer até do impossível.

Como que expressando o canto da sereia meu adolescente distorcia a situação de tal forma que, ao término da história, parecia ser eu a causa de sua violação. Como daquela vez que filho sacou esta: "Mãe, você diz pra eu sair do computador, curtir com a turma e, quando faço isso, você reclama! Devia estar feliz de me ver sair com a galera até mais tempo do que esperado! Não fosse isso, estaria no meu quarto, jogando meu game tranquilo e, ainda assim, você reclamando de mim! Fala sério! Não te entendo!"

5 Passos de como lidar com a quebra de regras na adolescência

Definitivamente firmar regras na adolescência não bastava. Finalmente entendi que o exercício apenas começara e tinha muito o que ainda aprender para ajustar esta história que começara mal e cheia de mal entendidos, escapadas pela tangente e, pior, discussões agressivas.

Depois de muitos erros e acertos, atingi um patamar confortável para lidar com as violações das regras na adolescência e o qual compartilho não como receita mas como um caminho trilhado que me trouxe melhorias e mudanças significativas na minha relação com filho adolescente. Trata-se dos 5 passos de como lidar com a quebra de regras na adolescência:

  1. Assuma que escutará justificativas quando uma regra for quebrada. Por mais estapafúrdia que seja, mantenha-se calma e boa ouvinte (respire fundo, se necessário).
  2. Sem alterar a voz, pergunte o que (e se) quiser e ouça as respostas! Se conseguir, faça isso tranquilamente sem interromper seu filho adolescente nem perguntar nada.
  3. Terminada a inquisição, repita a regra firmada (e quebrada). Sempre em tom de voz baixo e equilibrado (eu sei, dificílimo, mas muito eficaz. Acredite!).
  4. Reforce o que espera que aconteça: a regra CONTINUA valendo!
  5. Finalize dizendo: "Não foi certo o que fez. Que isso não se repita." E fim de discussão.

Estabelecer regras na adolescência é exercício contínuo

Há quem prefira, goste ou acredite que punir seja o caminho para a correção quando regras na adolescência são quebradas. Experimentei esta saída mas o resultado foi não só dolorosamente violento como também de curto prazo. Ou seja, não educa: cria medo e distância entre pais e filhos. Isso porque a punição sempre parecia exagerada e a reação de filho, de ressentimento e medo.

Definitivamente, não era esse caminho correto tampouco o que desejava trilhar em família. Adotei nova postura e paulatinamente notei melhoras. Contrário do que se pode imaginar, firmar regras na adolescência, mesmo que imperfeitamente cumpridas, tem seu poder. A probabilidade de filho adolescente guardá-las e considerá-las em momento decisivos é maior do que se elas não existissem. Isso já era um bom começo de uma nova história para nós. Alcançara o último estágio mas o exercício é continuo e sem fim.

A adolescência é realmente desafiadora. Tanto para filhos quanto para pais: nos cobra reinvenção a todo momento só possível quando nos propomos a aprender e a resistir às tentações de desistir antes do tempo de acertar. Exaustivo, sim. Também imprescindível a quem entende ser esta a missão de ser pai/mãe: contínuo aprimoramento... de si mesmo.

Publicidade

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.