Quando nos tornamos pais e mães, assumimos enorme compromisso de deixar um legado a filho. Porém, nem sempre temos consciência das ameaças que nos cercam e que nos impedem de lograr na missão.
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Pensei nisso quando li intrigada a entrevista de um dos condenados da Operação Lava Jato dizendo emocionado: "Tenho vergonha do meu nome; vergonha que meus filhos usem meu nome. Sou o maior bullying na vida dos meus filhos."
Este pai, condenado em todos os sentidos, tem mesmo motivos para dizer isso. A consequência de seus atos ilícitos o faz agora pagar por suas más escolhas. Como ensinado – e assim prefiro crer – ao filho adolescente, nossas escolhas e atitudes determinam nossos resultados o que, naturalmente, justificam a conta que inevitavelmente chega.
Dar exemplo começa em casa. Tão importante quanto orientar o filho adolescente sobre boas escolhas é pautá-las na ética e moral conscientes de que, independentemente do que o mundo diz, tem a ver com o que queremos deixar como bem maior à família, ao mundo.
A base bem construída
Em fase de formação da própria identidade e solidificação de valores até então ensinados e aprendidos, me parece inadmissível arriscar com filho quando o exercício é ser exemplo prático de ética e moral.
Ainda que suscetíveis a erros (afinal, somos humanos), manter-se eticamente firme diante das invariáveis – e muitas vezes até conhecidas – tentações do mundo, determina se deixaremos legado ou ônus no mundo.
Sempre prezei meu nome. Cresci confiando ser este meu bem maior. Assim, valioso e estimado, sempre tratei de preservá-lo sob sólidos valores éticos e morais. Primeiro herdados e, depois, aprimorados pela experiência de ter-me tornado mãe e, portanto, responsável por transmiti-los e, com empenho, multiplica-los. Mais do que nunca, hoje me valho deles como detectores do que entendo ser alguém "de sucesso".
Entre ter e viver valores
Somos insistentemente tentados pela vaidade ao longo da vida; resistir à conhecida e sorrateira tentação é uma questão de lutar contra nossa própria vontade. É não só ter mas também viver – e reiterar – valores sólidos na prática cotidiana.
Dinheiro, poder e status social continuam colocando em xeque pessoas moralmente fracas e corruptíveis que, por fim, sucumbem voluntaria e até involuntariamente às armadilhas postas pelo mundo desde sempre. Incapazes de resistir, cedem ao dinheiro, a títulos, à ostentação, ao poder, a atos ilícitos a tudo o que o mundo dita ser caminho de “sucesso” na vida. Porém, a conta chega e, como sempre, comprova o de sempre: uma base de valores frágeis – ou sua total inexistência – detona qualquer chance de formar adulto de sucesso, seja qual for o significado desta palavra para você.
A base do sucesso
Formar outro ser moralmente forte é desafio descomunal especialmente em meio tão permissivo e contaminado como o atual onde o errado é relativizado e despudoradamente traça caminho torto como padrão de "sucesso".
Vivemos em país orgulhosamente reconhecido pelo seu "jeitinho" de agir e, assustadoramente, convivemos com esta habilidade deturpada pelos "espertos" e passivamente incorporada em nossa cultura como "normal".
Totalmente contrário do que um dia foi capacidade de criar saídas criativas – e idôneas – para as adversidades, hoje "jeitinho" é a habilidade que um tem de se dar bem sobre o outro, não importa como nem as consequências disso. Ou seja, um total individualismo egoísta, antiético e imoral.
A qualidade de outrora hoje é, para mim, vergonha nacional e um dos maiores entraves à uma sociedade dita saudável e minimamente viável que começa com alicerces sólidos de uma educação calcada em valores sólidos e inegociáveis desde casa.
Pais moralmente fortes têm clara a ideia – e o propósito – de formar adulto mental e moralmente saudável. Conhecem seu papel e dispostos a contribuir com um país melhor perseveram na tarefa fazendo o que é certo apesar da vaidade nutrida pelo meio deturpado.
Não importa o resultado – até porque não temos garantia de nada – estes pais nadam contra a maré conscientes também do que querem deixar a filho. Mais que dinheiro, poder e status, querem deixar um legado que começa por um nome digno e uma história que se prova por seus bons frutos e exemplos ainda que contrários ao que o mundo dita.
O verdadeiro sucesso
A relativização da ética e da moral praticada é perigosa. Seu saldo é ônus não só caro e pesado; é também vergonhoso. Causa dor à família. Moralmente sujo, não só o nome fica marcado mas toda uma história familiar fica para sempre borrada sob a égide do que um dia parecia ser sucesso.
O ônus de valores corrompidos supera qualquer tipo de restauração dado que, para sempre, perdurará a integridade questionada. Desnecessário escutar a frase daquele contraventor mas, confesso, fui surpreendida.
Não pelo que disse mas por imaginar que, como ele, muitos mais perdidos em sua vaidade e se dizendo grandes líderes e formadores, desconheçam o caminho do verdadeiro sucesso alcançado por quem não se deixa levar pelo mundo mas por quem permanece atento e firme para não sucumbir a ele.
*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.