Depois de estudar bastante a respeito do parto normal e acompanhar o nascimento do primeiro filho, o professor Walid Gewehr Reda acreditava estar preparado para auxiliar a esposa durante a chegada da caçula na última quinta-feira (30). “Meu trabalho seria levar a Giuliana ao hospital quando as contrações estivessem intensas e dar o suporte afetivo que ela precisasse”, relata o paranaense, sem imaginar que não teria tempo nem de entrar no carro e que precisaria realizar o parto da filha no gramado de casa. “Nunca vou esquecer”.
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Morador de Engenheiro Coelho, no interior de São Paulo, ele acompanhava as contrações da mulher desde as 10h30 e estava preparado para dirigir até o Hospital Madre Theodora, em Campinas, assim que o trabalho de parto progredisse. “Só que já passava das 17h e as contrações continuavam espaçadas, com cerca de 10 minutos entre uma e outra”. Então, o casal conversou por telefone com a equipe médica que os atenderia e decidiu ir para o hospital minutos depois, mesmo que o trabalho de parto continuasse sem evolução.
“Lembro que falei com a enfermeira às 17h06 contando que tinha acabado de tomar banho, que estava bem e sentindo algumas contrações leves e outras mais fortes, então avisei que apenas terminaria de me maquiar”, conta Giuliana, que desejava um parto semelhante ao do primeiro filho, realizado de forma natural em janeiro de 2021.
Na época, ela permaneceu em sua residência o máximo de tempo possível e foi para a maternidade somente quando as contrações se tornaram fortes e constantes, de dois em dois minutos. “Cheguei lá com oito centímetros de dilatação e acabei ganhando meu filho 2h30 depois, então a maior parte do processo foi em casa, que é bem mais confortável que o ambiente hospitalar”.
Só que ela não esperava que o processo agora seria muito rápido. “Logo depois de falar com a enfermeira, comecei a sentir dores intensas e não consegui nem achar minha roupa”, recorda a jovem de 28 anos, que vestiu uma calça de pijama do esposo, um top e camiseta. “A dor era muito, muito forte”.
Ela também não conseguia andar sozinha, então precisou de ajuda para ir até o carro e percebeu que as contrações começaram a vir a cada dois minutos, o que indicava início do trabalho de parto ativo. “Mas, em vez de durar horas como na primeira vez, essa fase levou poucos minutos, pois minha bolsa estourou e comecei a sentir vontade de empurrar a bebê com meu corpo se espremendo para que ela saísse”.
Ao ver a esposa gritando de dor, pronta para dar à luz, Walid a deitou na grama — sem perceber que fez isso, pois não tem lembranças desse momento — e entendeu que teria que realizar o parto. “Foi assustador”, confessou à equipe do Sempre Família, ao relatar que viu a cabeça apontando e que, em menos de um minuto, tinha sua filha nos braços, às 17h25. “Ela foi escorregando para fora, bem rapidinho, e eu a segurei no colo. Foi a sensação mais incrível da minha vida”.
Vizinhos se mobilizam para ajudar
Enquanto o pai aquecia a bebê junto ao seu corpo, dezenas de pessoas que passavam pelo local e que acompanhavam os filhos no parquinho do outro lado da rua se aglomeravam ao redor do casal para assistir à cena e oferecer ajuda. “Todos demonstraram muita generosidade, carinho e estavam vibrando de felicidade junto com a gente”. Inclusive, começaram a trazer cobertores, travesseiros e avisar profissionais de saúde da região.
Em poucos minutos, quatro enfermeiras estavam no local e até um médico obstetra chegou para avaliar mãe e filha. “Amigos me ligaram pedindo que eu ajudasse uma mulher do condomínio que estava dando à luz, então peguei dois pares de luvas que tinha em casa e saí imediatamente”, conta o médico aposentado Natanael Alves da Costa.
Atuante na área de obstetrícia por mais de 40 anos, ele já havia realizado todos os tipos de parto, inclusive em locais inusitados como um elevador, por exemplo. No entanto, participar de um nascimento no jardim foi algo novo para seu currículo. “Um privilégio”, afirma o especialista, que avaliou as condições de saúde da recém-nascida, cortou o cordão umbilical e utilizou técnicas obstétricas para expelir a placenta em segurança. “Havia o risco de hemorragia, mas o sangramento foi contido e a mãe ficou bem”, comemorou.
Além dela, a filha — chamada de Aimée, nome francês que significa "a amada" — também estava em boas condições, nasceu com 3,175 kg, 50 centímetros e mamou bastante durante o tempo em que ficou no gramado com a mamãe. Depois, as duas foram encaminhadas de ambulância para avaliação em um hospital da região e seguiram para Campinas, onde a equipe médica os aguardava.
“O nascimento da nossa filha não foi como planejamos, mas tudo correu bem e vivemos um momento muito feliz, confortável e seguro”, garante Giuliana, ao agradecer, principalmente, a Deus pela oportunidade dessa experiência. “A Ele toda honra e glória porque Ele é o autor da vida e cuidou de nós”, finaliza.